Capítulo 26 - Lembrança

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Matt

O Lewis não voltou a ligar, e a melhor coisa que aconteceu comigo essa semana foi ter Ace só para mim no domingo.
-Já está na hora de acordar.-Diz Ace, na porta do quarto, não está com roupa de dormir, já deve estar acordado a um bom tempo.-O Zack trouxe o seu carro, você esqueceu a chave na casa dele ontem.
É bom vê-lo de manhã, como eu disse, ele é o melhor despertador.
Não tenho ressaca, por sorte, como eu disse, não estava tão bebado assim.
A única coisa que me deixou puto de ontem pra hoje, foi que não fizemos mais nada ontem a noite. Ace deitou-se comigo e disse que eu precisava dormir, nenhum beijo a mais, e mesmo assim, por mais que eu queira, não consigo nem fingir que estou irritado com ele.
Levanto, estou somente de boxer, então Ace logo percebe a saliência na minha cueca, bem, é normal, eu tenho 17 anos.
Ele não deixa demostrar muito que está perplexo, somente fecha a porta do quarto.
-Não demore.-Ele diz.
Olho o meu celular que estava desligado a noite toda, diversas ligações de Jessy. O que eu faço?! Ela me viu seguindo Ace ontem, provavelmente vai pensar besteira, droga!

Minutos depois eu desco. Ace está sentado no tapete assistindo algo na TV.
-Bom dia pra você.-Digo, caminhando até a cozinha.
-Eu achei que você nem ia levantar.-Diz.
Encho uma caneca com café, e volto para a sala.
-Nós vamos sair para comer alguma coisa, ou algo assim?- Pergunto, sentando no meu lugar de sempre.
Ace vira-se para mim.
-Matt, são quase três horas da tarde.
Quase me engasgo com o café que estou bebendo. Como posso ter acordado tão tarde?! E porque não reparei na hora no meu celular?
-Você fica fofo com cara de sono.-Ace levanta-se.-Vamos sair um pouco?

Ace

Foi difícil fazer com que Matt quisesse sair hoje. Ele se recusava a levantar do sofá, e como eu não tinha nem um pouco de chance de arrastá-lo, o único jeito foi fazer chantagem. Eu disse que ligaria para o Lewis e pediria para ele ir comigo, Matt acreditou que eu faria tal coisa, talvez ele seja mais ingênuo do que eu.
-Para onde vamos, então?-Pergunta Matt, ainda indignado enquanto dirige. O frio lá fora está insuportável, diferente de ontem que o sol estava desnecessariamente forte. Meu moletom não parece suficiente, então estou usando jeans e botas.-Eu também gostaria de saber por que ainda estou morrendo de sono.
-Não faço idéia... Mas ficar em casa num domingo com um tal de Matt é chato de mais.-Quando termino de falar, lembro da sua segunda pergunta.-Ah, e você não deve ter dormido o suficiente.
Observo que o adesivo de unicórnio que colei no seu para brisa já não está mais lá. Tudo bem, ele deve ter se sentido incomodado por isso, eu não vou lhe culpar. Vou o poupar do meu vocabulário ofensivo.
-Eu o tirei daí porque ele me lembrava você.-Diz, quando parece perceber que estou observando tanto o vidro agora vazio.-É ruim lembrar de você, em algumas horas.

Sorrio, meio que sem graça, também não entendo muito o motivo da alteração no meu humor. Até sei que horas são essas.

-Por que não me ensina a dirigir?-Pergunto, Matt então me olha como se eu acabasse de dizer o maior absurdo que ele podia ouvir hoje.
-Ficou maluco?!-Permanece me olhando enquanto tenta dirigir. Que mal teria?-Eu não tenho dinheiro para pagar um concerto...
-Mas eu ainda nem o quebrei...
Matt respira fundo. Me esforço para fazer o meu olhar mais carente possível.
-O que eu não faço por você?-Sorrio e comemoro, ele estaciona o carro próximo a uma rua com casas de classe média, vazia, ainda é fim de tarde, e não há crianças ou idosos para serem atropelados por mim nessa rua.
Assim que Matt desce do carro, pulo para o banco de motorista, ele senta-se no de passageiro.
Matt só espera que eu coloque o cinto de seguranças, e então começa a dar ordens:
-Bem... Gire a chave.
Giro, e quando ouço o motor sinto um frio na barriga.
-É aqui que acende o farol?-Pergunto, apertando alguns botões no painel.
-Ace! Esses são os botões do rádio!
-Você fica irritado muito fácil, sabia?
-Pudera! O seu pai é dono de uma empresa de carros, e você não sabe nem acender um farol.
Ele está certo, mas não é que eu me orgulhe disso. Viro-me e sorrio, Matt mexe a cabeça negativamente.
-Direita pra direita?!-Pergunto, girando o volante para o lado direito, Matt está mais tenso do que eu.
-Isso! Direita pra direita! Tenha cuidado!-Ele coloca uma das suas mãos trêmulas no volante e gira comigo, como se eu não soubesse. Quase me jogou para fora do carro quando esqueci de passar a marcha, Matt é mais chato quando está com sono.
-Como me saí?-Pergunto, parando no final da rua.
-Péssimo.-Diz, abrindo a porta do carro e descendo.-Quase meia hora pra ir até o fim de uma rua.
Sorrio, passando para o outro banco. Matt ainda reclama. Colo um outro adesivo que havia no meu bolso do moletom, dessa vez, um arco-íris.
-Se não lembrar de mim, já sabe o que fazer.

Lewis

Estou trancado no meu quarto desde o que aconteceu ontem. Ace rasgou o meu coração como se o mesmo não fosse nada. Eu sei que chorar é para os fracos, mas dessa vez eu fui.
Eu só liguei ontem a noite porque não conseguia mais, simplesmente suportar, eu não sabia porque ele havia dito aquilo nas mensagens de texto, mas parte de mim ainda acredita que seja tudo culpa daquele Matt.
Ouço alguém bater na porta do meu quarto, meus pais, insuportáveis, nem sabem por que estou trancado desde ontem.
-Lewis?-Quase não ouço a minha mãe dizer devido a musica de heavy metal que toca, abaixo o som um pouco em consideração aos vizinhos.
-Sai daqui!-Respondo, imediatamente.
-Mas...
-Eu já disse! Quero ficar sozinho!-Interrompo.
Silêncio. Talvez alguns segundos, ouço sussurros lá fora, meus pais devem estar preocupados devido ao meu comportamento.
Mesmo depois de dizer que quero ficar sozinho, ouço a porta abrir, eu deveria ter trancado! Porra! Levanto-me da cama, mais impaciente do que nunca enquanto me preparo para dizer que vou fugir de casa se houver mais uma daquelas conversas idiotas de familia.
Não é minha mãe, muito menos meu pai.
É o Ace, e ele não aparenta estar com raiva ou algo assim, é como um anjo que veio me tirar do inferno. Fecha a porta, e então se aproxima. Sento-me devido ao acontecimento inesperado.
-Não deveria tratar os seus pais desse jeito...-Diz, de braços cruzados na minha frente. Eu permaneço fitando o chão.-Se tivesse pais como os meus, acho que já teria cometido suicídio.
Ace senta-se ao meu lado na cama. Eu ainda não tenho ideia de qual reação esboçar.
-Desculpa...-Digo.
-Já disse para eliminar essa palavra do seu vocabulário.-Ace aproxima-se mais, e encosta a cabeça no meu ombro, eu amo o seu cheiro, tê-lo por perto me deixa em êxtase, ainda assim, não demonstro reação nenhuma.-Como se sente?
-Você pergunta... Como se eu estivesse doente.-Respondo.-Eu não estou...
-Eu sei disso...-Diz.-Você não está me dando muitas escolhas para ter um diálogo.
-Você não precisava falar comigo daquele jeito... nas mensagens...
-É...-Ace o diz meio que sugestivo, talvez me dando a opção de acreditar no que eu achar justo.-Digamos que eu não tenha cuidado bem do meu celular.
Eu sabia! Deve ter sido o Matt! Ele me encara na escola quando estou com Ace, ou até quando estou sozinho, ele claramente me odeia.
Acredito que Ace não quer me dizer para evitar problemas, uma coisa que já tenho de mais.
-Você não imagina o quanto senti sua falta.-Volto a dizer, dessa vez mais emocionado.
-Realmente... Eu não imagino.
De repente, me vejo na obrigação de abraçá-lo. Eu já não suportava mais fingir que estava com raiva, nem ficar com raiva de verdade eu consigo, depois que descobri que estava começando a gostar de Ace, parece que algo em mim mudou.
Eu não queria ter que soltá-lo, quase três dias longe de Ace acabou comigo, e achar que ele estava com raiva de mim foi pior que isso. Permaneço lhe fitando nos olhos. Volto a acreditar que não haverá um fim entre nós.
Não parece se importar quando me aproximo para beijá-lo. Eu o faço, e ele corresponde.

O Novo AmigoWhere stories live. Discover now