Capítulo 2 - Não Faz Mal

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Ace

-Você falou com a Daisy?-Pergunta Matt quando estamos só nós no corredor. Eu me assusto, claro, ele parece ter surgido do nada, e olha para os lados como se alguém fosse sair do chão.-O que ela disse?!
-Eu não a vi.-Respondo.-Falarei depois da última aula, no ensaio das líderes de torcida.
-As meninas ensaiam no ginásio.
-E daí?
-Vamos ter treino, o time.
-Relaxa. Eu não vou falar com você lá.-Ele sorri. Talvez por alívio pelo fato de que não saberão que somos "amigos".-Até mais, quarterback.

*

Vejo Lewis no horário de almoço. O que é estranho, pois ele me disse que não viria hoje.
-Está fugindo de alguém?-Pergunto, ele não tem resposta, começa a coçar sua cabeça, bagunçando seu cabelo castanho, e tira o seu óculos.-Lewis?
-Não... Eu só... Estou cansado.-Ele tenta sorrir, mas pela primeira vez, parece que o deixo nervoso.
-Você só estuda, eu também estaria cansado.-Sento-me ao seu lado, e ele levanta-se imediatamente.-Lewis, algum problema?
Levanto também, afinal, ele não parece nada bem.
-Você sabe que pode contar comigo para tudo.-Me aproximo dele, vendo que seus olhos verdes estão cheios de lágrimas prestes a cair, mas ele não permite.-Me diz...
-Não!-É a primeira vez, em um ano que vejo Lewis alterar seu tom de voz. Ele está claramente furioso, e eu nem sei porque.-Você é o problema. Tá bom?!
Eu nunca achei que teria problemas com ele. Somos ótimos amigos, ele é um dos únicos meninos que não se importam em andar comigo, ele não liga para o que dizem ou inventam, eu não entendo o que está acontecendo.
-Por que?!-Seguro o seu braço antes que ele saia. Precisamos esclarecer isso, eu não quero chorar... Não hoje.-O que eu fiz?
-Só... Não fale mais comigo.-Lewis tenta ir. Mas antes segura minha mão por alguns segundos, e quando percebe que suas lágrimas vão cair, a larga.-Eu não quero ter problemas.
-Espera!-Tento segurá-lo novamente, mas não tenho força, e ele me empurra, eu me desequilibro e quando percebo já estou no chão, me levantando, ele parece sofrer ao fazer isso, eu percebo, mas ele tenta não se importar comigo nesse momento.-É isso o que você quer... então tudo bem.
Lewis suspira e então sai. Me deixando sozinho nesse corredor, enquanto levanto do chão sem nem entender o que aconteceu.

Lewis

Eu luto para não chorar. Eu não posso chorar por causa do Ace. Isso passa, nem devo estar gostando dele de verdade. Mas acho que empurrá-lo e deixá-lo caído ali, sem entender nada, dói mais do que ser decapitado.
Nas próximas duas aulas de matemática, onde ficamos na mesma sala, ele nem olha para mim. Senta-se na frente agora, sozinho, olhando para o chão. Eu nem presto atenção na aula, somente nele, o tempo todo.
Quando ouço o sinal tocar, todos saem da sala imediatamente, nós sempre eramos os últimos, e continuamos sendo.
Ele levanta-se, e então me vê, eu também o olho, gostaria de ir até ele agora mesmo e pedir desculpas por ser um idiota, mas não tenho coragem, ele então abaixa o seu olhar e sai dali. Meu coração está quebrado, e metade do mesmo está com Ace.

Matt

Treino, treino e mais treino. Vejo as garotas entrarem no ginásio, e junto a elas, Ace. Tomara que ele faça um bom trabalho.
Os garotos nem zoam ele quando o mesmo está com as meninas.
Continuo treinando, e percebo que ele e Daisy caminham até o fim da arquibancada. Isso aí garoto!
Quando me dou conta, sou derrubado por um dos meus amigos, que treina no time rival.
-Com medo de perder a garota pra essa barbie aí?-Pergunta Riley, me ajudando a levantar.
-Não, cara. Ele está me ajudando.
-Tá de gostando de ir por trás agora?-Riley ri alto de mais, sempre indiscreto. Se meu olhar fosse um fuzil carregado ele estaria morto agora mesmo.-Estou zoando cara, mas acho que não tem muita diferença para uma garota, não. Ele é até legal.
-Eu sou homem, caralho!-Respondo, sorrindo e lhe socando no braço.
Volto a reparar que Daisy ri de algo que Ace diz, e então mexe a cabeça positivamente. Os dois levantam-se, é incrível como Ace não tem dificuldade de andar com aquele jeans que mais parece uma segunda pele. Daisy pede para que ele limpe a sua saia, acho que ela falou isso alto de mais. Ele então se inclina, e levanta a saia de Daisy, logo piscando para mim. É inevitável não sorrir, ela nem parece ligar para o fato de que acabo de ver a calcinha dentro da sua bunda. Os dois descem, se juntam ás meninas novamente e então saem do ginásio.

Quando termina o treino, vou ao meu carro no estacionamento, e Ace está lá.
-Não acostuma.-Digo.
-Só mais hoje?-Assinto já que não tem mais ninguém aqui, ele comemora.
-O que a Daisy disse?-Pergunto antes de abrir a porta do carro.-Você falou bem de mim, né?
-Claro.-Ele sorri.-Ela quer te ver amanhã, depois do treino.
-Sério?!-Sorrio também, pois foi tudo tão rápido. Ele assente.-Valeu cara!
Quando me aproximo, ele parece achar que quero matá-lo, mas somente envolvo meu braço no seu pescoço, o que é fácil, pois ele é mais baixo que o meu ombro. E então vamos até o carro. Ace sorri, quase sem ar. Até cheiro de menina esse garoto tem.
Ele é diferente do que eu achei, ele é legal, e respeita a minha condição sexual, sabe que eu jamais ficaria com um garoto. Acho que não faz mal ser amigo de um garoto gay.

O Novo AmigoWhere stories live. Discover now