Capítulo 21 - Permissão

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Matt

Eu vou ser sincero, realmente gosto de ver Ace sorrir, mas não ao lado do Lewis.
Percebo que eles voltaram a ser amigos, estão felizes, mas eu não. Tento não demostrar que estou o observando durante o horário de almoço.
Na noite passada, transei com Daisy mais uma vez. Foi bom, eu não posso negar, a parte constrangedora foi ficar pensando em Ace o tempo todo. Eu gostaria de ter pelo menos um tempo livre, sem pensar na merda que fiz naquela noite, logo depois de beijá-lo.

Encontro Ace no corredor na próxima aula, ele está só, provavelmente vai até a sala de aula. Estou com os caras do time, ele me olha enquanto caminha agarrado ao seu livro de matemática. Eu procuro desviar o meu olhar o mais rápido possível.
-Parece até que vocês terminaram o relacionamento.-Diz Dylan, mais idiota do que nunca.
-Vai a merda.-Respondo, batendo a porta do meu armário.
-Ei!-Diz, Ace vira-se imediatamente com aquele chamado.-Vem cá.
-Deixa o cara...-Diz Riley, Dylan mexe a cabeça negativamente.
Ace hesita no início, mas caminha até onde estamos com o seu olhar baixo depois que Dylan lhe chama de novo.
-Rolou alguma coisa entre você e o Matt aqui?-Pergunta, Ace o olha como se aquela pergunta fosse absurda de mais para ser feita em um corredor.
Eu quero evitar de ir a detenção de novo, posso ser expulso do time, não posso nem espancar o Dylan.
-Não...-Ace lhe responde.
-Não é o que parece.-Dylan lhe afronta, só porque sabe que não posso bater nele hoje.-Me conta aí, mano.
Ace desvia o seu olhar para mim rapidamente, eu lhe dou aquele olhar de "não posso fazer nada". Ele então continua:
-Eu não vou mentir.
-Então...?
-Então deixa de ser idiota.-Os caras riem de Dylan, que não aceita sair por baixo.
-Não tem medo de morrer, não?-Pergunta, agora sério e de punhos cerrados, Ace ri perante a situação, eu tento não rir também.-Tudo bem se eu quebrar a cara do seu namorado, Matt?
Não deixo de demonstrar que estou intolerante, Dylan se aproxima de Ace, como se estivesse realmente furioso, ele está, chega a estar vermelho.
Vejo que os demais no corredor já estão indo pra sala, eu caminho com eles também, tento ignorar o que acontece logo atrás de mim.
-Responde!-Dylan volta a dizer, daqui a pouco seremos os únicos nesse corredor.-Ou se importa com ele?- Continuo sem responder, somente estando parado ali.-Eu vou quebrar todos os seus ossos...
-Tudo bem.-Respondo, essas palavras me destroem por dentro, viro-me, nem sei porque, vejo que Ace agora me olha assustado.-Eu não me importo.
Dylan da um sorriso maldoso. Eu queria que ele desistisse dessa idéia idiota. Eu odeio o que está acontecendo, mas não posso evitar, pelo bem da minha reputação.
-Matt...-Diz Ace, quase num sussurro.
-O que?!-Respondo, tentando ser ríspido, quase não consigo, essas palavras me cortam por dentro.-Eu não ligo pra você. Ou você acha que sou seu amigo?!
Seu olhar continua em mim, como se não acreditasse no que está acontecendo, eu também prefiro acreditar que não está acontecendo de verdade.
Não sei se é impressão minha, mas Dylan ainda parece não acreditar muito no que ouve. Me aproximo de Ace dessa vez. Ele meio que se afasta, assustado.
-Eu gosto de boceta.-Digo.-Você ainda não é uma garota, entenda. Pare de me perseguir.
Me afasto assim que percebo que as lágrimas nos seus olhos começam a cair, eu não sei se suportaria ver isso sem ao menos poder dizer que estou mentindo.
Seu olhar me deixa, e então se volta para Dylan, na sua frente, e bem maior do que ele. Seria covardia da minha parte assistir a isso, então decido me dirigir até a sala, onde todos já estão.
-Que emocionante.-Diz Dylan, eu queria socar a sua cara agora mesmo.
-Vai se foder.-Responde Ace. Viro-me para ver, ele não parece mais temer, Dylan lhe acerta com um soco na barriga. Eu não quero ficar e ver isso.
Estou me matando mentalmente, deve estar doendo mais em mim do que nele, eu só espero que ele entenda.

Ace

Dylan nem bate tão forte. Ele só me socou e disse "A sua sorte é que estou atrasado!". Estou com um novo hematoma roxo na barriga, mas o que realmente dói é o que Matt me fez.
Quando chego em casa, deixo que a água quente do chuveiro leve embora a minha dor emocional, e isso é quase inútil. Não quero chorar por causa de Matt, eu não vou fazer isso de novo. Não consigo entender porque ele fez isso, depois de tudo o que disse no carro naquele dia... antes de me descartar. Ele provavelmente acha que estou morto uma hora dessas, mas eu não preciso de sua preocupação. Não quero mais que Matthew exista para mim.

Ouço a campainha enquanto estudo no meu quarto, já são quase meia noite, não pode ser Lewis, eu pedi que ele me deixasse sozinho hoje. Lembro que deixei a porta destrancada para o caso de meu pai decidir aparecer hoje.
A sala está iluminada somente por um abajur na parede, estando assim a meia luz.
Do alto da escada, com um pouco de dificuldade, posso ver Matt entrar. Sua silhueta jamais me confundiria. O que ele faz aqui?!
Olha para os lados, provavelmente me procurando, mas não chama. Matt senta-se no outro sofá, o que fica de costas para a escada, essa é a última coisa que esperei ver essa semana.
Começo a descer. Ele deve ouvir os meus passos, mas não olha pra trás. Só decide falar quando percebe que já estou próximo o suficiente:
-Você... tá bem?-Ele não vira-se para me encarar, está inquieto, parece querer me ver, e não querer ao mesmo tempo. Eu não quero que ele me veja desse jeito. Parece que chorei um oceano.
-O que faz aqui?
-Me desculpa...-Diz, quase não ouço de tão baixo que suas palavras soam.-Eu não conseguia dormir.
Permaneço em meu silêncio profundo. Eu nem sei o que dizer. Percebo o seu nervosismo, Matt parece caçar as palavras certas para dizer.
-Você... Foi um ótimo amigo pra mim.
-Eu achava o mesmo de você.-Respondo.-Você provou o contrário hoje.
Matt apoia seus cotovelos nos seus joelhos, e poe suas mãos no rosto. A situação parece o consumir.
-Eu achei que você entenderia...
-Eu entendi.
-Era a minha maldita reputação em jogo!-Diz, alterando o seu tom de voz.
-Até quando será "a sua maldita reputação"?
Matt respira fundo. Levanta-se, eu tento identificar o seu sentimento, é como se estivesse irritado com algo.
Vira-se para mim, eu me afasto um pouco, na intenção de me esconder da sua visão na parte mais escura da sala.
-Você quer saber a porra da verdade?!-Diz, com o mesmo tom de voz e irritação.-Eu fico pensando em você o dia todo. Isso não me faz bem, é uma sensação que nunca senti antes, parece até que vou morrer!
Tento processar o que ele quis dizer. Matt continua procurando palavras na sua mente bagunçada.
-Eu gosto de ficar perto de você, gosto de olhar para você, gosto do seu cheiro, mas eu não sou gay!-Matt chuta algo invisível no chão, extremamente irritado com o que está lhe acontecendo.-Eu não entendo...
-Eu também não.-Respondo.
-A culpa de tudo isso é sua.-Ele parece ligeiramente mais calmo.-A culpa de tudo isso é nossa.
Me aproximo, porém, bem devagar, ele olha para o chão.
-Eu não quero estar gostando de um garoto.-Diz, concluindo.-Não faz sentido nenhum!
-Eu sei que nada mais faz sentido.-Digo, ainda me aproximando.-Isso é ruim.
Permanecemos em silêncio por um bom tempo, até que finalmente tenho a iniciativa de subir as escadas. Eu não tenho sono, mas desejo estar na minha cama agora. Digo "boa noite" para Matt, que permanece no meio da minha sala fazendo nada, e vou para o meu quarto, dando a Matt a decisão, se ele fica, ou vai. E estando, então, destruído por dentro.

No momento em que deito na minha cama, sinto as lágrimas caírem dos meus olhos, tão de repente. Tento parar de chorar, mas é inútil.
Por que tudo tem que ser tão complicado?! Eu nunca quis magoar ninguém, nunca foi a minha intenção causar qualquer tipo de sofrimento. A culpa não é minha.
Ouço a porta do meu quarto abrir, devagar, como se alguém pedisse permissão para entrar.
Matt se aproxima, está escuro, mas ele percebe que eu choro. Deita-se ao meu lado, e me abraça firmemente.
-Sabe que eu não gosto de te ver chorando.-Sussurra ao meu ouvido.
-Desculpa...-Tento dizer, Matt me abraça mais forte ainda.
-Se depender de mim, ninguém mais vai te machucar.-Diz, eu não consigo parar de chorar, até que finalmente acabo dormindo.

O Novo AmigoWhere stories live. Discover now