Capítulo Treze

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— Nervosa?

— Nem um pouco!

— A pior parte é que EU estou.

— Você? — Samaris riu. — Você nem vai subir no palco.

— Mas eu estou nervoso por você. Já que você nunca fica mesmo. Além do mais, você vai cantar a minha música.

— A NOSSA música.

— Isso mesmo, a nossa música, meu amor.

— Se você me der um beijo, eu fico ainda mais confiante.

Beijei no mesmo momento.

— Acho que outro seria mais interessante — outro beijo, em meio às risadas.

— Agora um terceiro, para dar sorte.

Mais risos e mais beijos. O clima estava leve.

Esse diálogo ocorreu nos bastidores do festival de música da minha cidade. Consegui, depois de muito esforço, convencer Samaris a se inscrever para cantar pelo menos uma música. Apesar de viver de música, Samaris nunca se interessou pela fama. Sempre preferiu tocar em lugares pequenos, onde sabe que não atrairia muita atenção.

— Só estou concordando em ir porque você é quem está pedindo — ela disse. — E porque é para cantar a música que nós fizemos juntos.

Mesmo diante de toda a pomposidade do evento; com um palco grande, cobertura da TV local e vários profissionais envolvidos, Samaris não se intimidou, parecia nem se importar, na verdade. No camarim improvisado para todos os outros músicos que iriam participar do evento, ela era a única que não estava nervosa, roendo as unhas ou repassando a música. A única coisa com a qual ela se importava de fato era em ficar comigo, me beijar, me fazer carícias, contar piadas e rir delas como se não houvesse preocupações no mundo.

Ouvimos o chamado e Samaris vai para o palco em meio aos aplausos dos desconhecidos, sempre com o seu violão desproporcional ao seu corpo e o seu modo aparentemente tímido de andar até o microfone:

— Eu queria dedicar essa música a alguém muito especial que está aqui na plateia.

Olhou para mim, fiz um sinal para encorajá-la, (como se precisasse), e o primeiro acorde é tirado do violão.

Combinamos que ela tocaria a música que fez com base no meu poema (que batizamos de "segredos") no festival. Porém, ela me surpreendeu ao começar tocando o refrão de "Let it be" em um primeiro momento, até que as harmonias se encaixaram de tal forma que pode dar início à nossa canção como se fossem uma só canção.

Ficou lindo.

A música acabou e foi pontuada com uma salva de palmas entusiastas, gritos e assobios de quem adorou o desempenho dela. Com um sorriso e uma tímida reverência agradecendo os aplausos ensurdecedores, ela se retirou do palco direto para os meus braços:

— Viu isso, Samaris? Eles adoraram você! — disse em meio aos beijos e sorrisos.

— Vi sim, meu anjo. Foi tudo ótimo.

— Você tem talento, Sah! Devia mostrar a sua voz para o mundo todo...

— Oh, Oh, chega, Ick. — Samaris me interrompeu pousando o dedo indicador sobre os meus lábios em um pedido de silêncio. — Eu só fiz isso porque você insistiu muito. A partir de hoje, só barzinhos e lugares pequenos, ok?

— Tudo bem, tudo bem, amor. Você é quem sabe — respondi, levemente contrariado. — E agora? Vamos dar uma volta para comemorar?

— Não... Eu estou cansada, vamos para a minha pousada assistir um filme?

— Por mim tudo bem.

— Vamos, então.

Não assistimos nada. 

A VIDA DESENCAIXADA DE ICK FERNANDES (história completa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora