Recordações

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A arma balançava de leve na minha cintura ao decorrer de meus passos, Dimmy andava a passos largos ao meu lado com Thomas pendurado em suas costas.

Quando ouvimos um barulho de lata caindo no chão, rapidamente saquei minha arma e apontei na direção do barulho, estava silêncioso demais para ser um errante, errantes de tão idiotas são barulhentos além de ficarem grunhindo o tempo inteiro.

Dimmy colocou Thomas no chão que se escondeu atrás das pernas de seu pai. Andei em direção a um beco sem abaixar a guarda, quando um garoto pulou em cima de mim, tirando com facilidade a arma de minhas mãos e me prendendo entre seus braços.

– Solta ela – o mais velho gritou decidido para meu agressor. – Solta ela e nós vamos embora – Dimmy abaixou a sua arma até o chão, Thomas saiu de trás do pai e me olhou com olhos assustados.

Ao ver a criança a sua frente meu agressor abaixou a guarda e seus braços fraquejaram, assim me dando uma chance de me soltar, dei uma cotovelada em sua barriga e corri para perto do homem mais velho.

Ainda assustada por ter sido pega tão facilmente fuzilei o garoto a minha frente.

– Quem é você? – Vociferei com um pequeno sorriso nos lábios ao ver o semblante de dor que o garoto tinha.

– S-sou Ethan – disse com um pouco de dificuldade. – Não queria fazer mal, vocês tinham armas, pensei que fossem fazer algo.

Ia começar a rir quando Dimmy esticou o braço a minha frente, o olhei indiferente e ele apontou para Thomas, segurei a mão dele e me silenciei.

– Você está sozinho?

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– Ethan não foi assim que você fez! – eu já estava irritada com sua risada. – Você tá brincando com a minha cara.

– É que eu gosto de ver você irritada – seu sorriso ainda vivo em seu rosto, o remendei e comecei a caminhar de volta para o acampamento.

– Hey Alex, volta aqui, eu juro que agora eu te ensino direito – olhei de soslaio pra ele, arqueei uma sobrancelha duvindando. – Verdade.

Voltei relutante para ele, fiquei de frente esperando para que ele apontasse a sua arma descarregada em minha direção, mas quando eu fui toma-la ele segurou meus braços e me puxou, lascando um beijo em meus lábios.

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– Ethan? – O chamei, não devia, provavelmente ele já estava dormindo, me remexi em seu peito e olhei para cima, dando de cara com seus olhos azuis, pude sentir o rubor tomando conta de meu rosto.

– Você fica tão linda quando está com vergonha – meu rosto pegava fogo e num ato rápido me escondi em seus braços.

– Para com isso – resmunguei com a voz abafada pelos meus braços, e meu corpo tremeu com a risada de Ethan, o que fez ele pender de lado.

Ethan segurou meu rosto e me beijou mais uma vez .

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– Ethan? Ethan onde você esta? – Sussurei, aquele idiota estava querendo me assustar, se Dimmy souber que estamos brincando ao invés de buscar suprimentos ele vai me matar e eu vou levar esse idiota junto.

– Ethan é sério, para com i... Ethan? – Me assustei quando vi um corpo no chão, estava escuro e não sabia dizer ao certo quem era, meio relutante me aproximei, peguei minha faca a segurando firme.

Um grunhido veio do corpo e estava pronta para acerta-lo com a faca quando eu o reconheci.

–Ethan!! – Larguei a faca no chão e corri em sua direção, quando estava próxima o suficiente pude ver o sorriso estampado em seu rosto. – Seu estúpido – o empurrei fazendo com que ele caísse na gargalhada.

Sai de perto dele e peguei minha faca no chão, não acredito que ele fez isso comigo, isso não é brincadeira, ele vai ver, se pensa que depois dessa ele vai poder vir querendo me beijar como nas outras vezes ele ta muito errado.

– A-Alex – ele quase não conseguia falar de tanto que ele ria. – Você deveria ver sua cara – revirei os olhos. – "Ethan por favor você está me assustando".

– Isso, brinca mesmo idiota.

– Eu sei que você me... – Ele tentou me abraçar mas eu o empurrei saindo da loja escura, agradecendo por ainda ter luz do sol suficiente para voltarmos para o acampamento.

– Alex? Vai mesmo me evitar? – Perguntou pela quarta vez enquanto caminhavamos entre as árvores, bufei e fingi não ter escutado. – Okay beleza, fica com sua birra ai.

– Birra? Você viu o que você fez, Ethan? Eu quase morri de preocupação – quase gritei olhando incrédula pra ele.

–Foi só uma brincadeira – tentou se defender.

– E aquilo lá é brincadeira? Pelo amor de deus, e se você estivesse mesmo ferido? Como você acha que eu ia ficar?

Ele pareceu entender a gravidade da sua brincadeira e concordou comigo, agradeci por ele finalmente ter percebido que aquilo havia sido uma brincadeira de mal gosto.

– Me desculpa, tá? – me abraçou tentando me beijar.

– Não, sai – o empurrei, estava chateada com ele, fiquei muito preocupada pensando que ele havia se ferido e tava esperando o pior, ele deveria ter pensado no que poderia ter acontecido comigo.

– Alex! Ethan! – Ouvi a voz de Dimmy. – Encontraram algo? Alex tudo bem? – Perguntou depois que viu minha cara fechada.

– Pergunta pro Ethan.

Ele olhou curioso para o Ethan que apenas deu de ombros, bufei e fui até a minha barraca.

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– DIMMY! – Gritei quando um errante cravou os dentes no pescoço dele, corri até ele e matei o desgraçado que o mordia. – Dimmy, por favor não, o que eu faço? Eu não sei o que fazer – disse já chorando.

– Cuide do Thomas, prometa que vai cuidar dele – com o rosto cheio de lágrimas eu acenei com a cabeça. – Promete pra mim Alex.

– E-Eu prometo Dimmy – prometi aos soluços.

– Minha menina – sorriu, droga por que isso foi acontecer?

– PAPAI! – Olhei pra trás e vi Thomas correr em nossa direção.

– Cuida dele, por mim – corri até Thomas e escutei um estouro, quando olhei para trás Dimmy havia dado um tiro em sua cabeça.

Abracei Thomas e ele começou a chorar, droga, Dimmy era como um pai pra mim. Não suporto o fato de perde-lo, não sei como vou conseguir proteger a mim ainda mais o Thomas.

Ouvi passos atrás de mim e peguei minha arma, mas não era um errante que vinha em nossa direção e sim um garoto.

– Ethan!

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– Não! – Neguei pelo que parecia ser a décima vez, abraçada ao corpo do mais velho, não conseguia acreditar no que acabara de acontecer, ele estava morto, seu corpo já estava frio, havia sangue em minhas mãos, eu o havia matado.

Eu o amava, era meio fria as vezes mas o amava.

Amar é o mesmo que dar uma arma a alguém posicionada em seu peito e confiar que ela não vá atirar. Eu me apaixonei, dei minha arma ao Ethan.

Mas ele atirou.

Abrindo um buraco enorme em meu peito, a dor era insuportável, e iria demorar para sarar.

Ethan e Dimmy eram tudo o que eu tinha, agora eu só tinha o Thomas e pensava:

Como vou protegê-lo?

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