O vôo foi tranquilo e logo estávamos de volta ao Brasil. Pousamos em Manaus, de lá fomos para Brasília onde recebemos uma homenagem e uma medalha por servir na missão de Paz. Foi um momento bastante emocionante e importante pra nossa carreira militar.
O momento mais perturbador e emocionante – sim, ao mesmo tempo – foi a cerimônia e homenagem de despedida do Sargento Leonardo Correia. Todos os marinheiros reunidos, além da família Correia, sua esposa, pais e filhos, despedindo-se de sua grande personalidade em uma cerimônia digna e respeitosa. Aquele momento ficaria marcado pra sempre em minha memória.
Foram dias conturbados em que não tivemos tempo algum até que pousamos no Rio de Janeiro e fomos para o quartel da marinha a qual chamaríamos de lar até nosso próximo remanejamento, mas estava bem mais aliviado em retomar a rotina assim que todas as festividades e honrarias chegaram ao fim.
O despertador era um toque alto que reverberava pelos dormitórios, alas e corredores espalhando aquele som estridente de modo a pôr todos os que dormiam de pé. Me mexi na cama de solteiro rolando para o lado, estranhando a cama ser pequena e não haver companhia. Ergui o rosto com os olhos ainda miúdos do sono e vislumbrei Guilherme fazendo o mesmo da cama que ocupava. Um sorriso inevitavelmente repuxou os meus lábios e se refletiu nos dele.
"Bom dia, Soldado Carvalho", acenei com o rosto ao passar por ele, lhe dando um tapinha no ombro que me foi retribuído com um tapão na bunda. Arregalei os olhos e voltei o rosto para trás fazendo uma varredura dos olhares alheios, aliviando-me ao perceber que não fomos vistos.
"Bom dia, Soldado Barreto", disse-me com a língua entre os dentes e aquele sorriso que fazia duas covinhas dançarem em seu rosto; era um descarado mesmo.
Peguei minhas coisas e fui para o banheiro fazer a higiene pessoal. Voltamos a nos encontrar na mesa do café da manhã junto aos demais. Dos que sentaram próximos estavam Inácio, Joaquim e Pedro. Esperei um momento oportuno de distração dos outros para lhe cutucar com um tapão nas pernas bem debaixo da mesa – e das fuças alheias.
"Ficou maluco?!", o questionei através de sussurros entre um gole e outro no café.
"Você pediu com emoção ou sem emoção, Soldado?", sua resposta me fez arrepiar. A expressão que ele mantinha sempre que seus olhos azuis estavam sobre mim era mortiferamente sexual. Parecia que ele pensava em sexo 24 horas por dia – e eu gostava disso.
"O que estão achando de voltar pra casa?", perguntou Inácio, direcionando a questão a todo o nosso grupo.
"Ah, em casa eu fui recebido feito um herói de guerra", Joaquim abriu um sorriso vitorioso e arteiro. "Confesso que estou me aproveitando muito bem da situação... As mulheres que o digam", e soltamos risadas com o relato enquanto ele dividia seu pão em dois pedaços pra dividir com o Inácio, pois era o quinto que comiam.
"Eu ainda não fui pra casa, propriamente dito, já que sou de São Paulo, mas eu acho que ainda tá caindo a ficha de tudo o que aconteceu nesses últimos seis meses", expressei-me de modo que o pequeno grupo se silenciou em reflexões próprias. Esse momento perdurou até que Guilherme, de um jeito muito autêntico, o quebrasse.
"Quer me dar uma ajudinha?", recostando-se na cadeira – gesto que o fez ficar mais ou menos na minha altura, já que era mais alto – me lançou seu melhor olhar de cachorro abandonado para que eu sentisse dó de seu braço. Apesar de ter tirado o gesso e já estar tudo bem, ele estava só querendo me provocar.
"Olha, você definitivamente não presta", sussurrei-lhe, dando um pisão em seu pé sem que ninguém percebesse. Uma risadinha escapou de sua boca.
YOU ARE READING
Por Trás da Farda (Romance Gay)
RomanceFelipe era um jovem cheio de sonhos e ambições em relação a mudar o mundo, transformá-lo num lugar melhor. Isso o conduziu a se alistar nas forças armadas, até que chegasse ao Haiti para uma missão de Paz, onde conheceu Guilherme, um cara pé no chão...