Capítulo 13 - Uma loucura

7.8K 733 323
                                    

Não demorei a pegar no sono naquela noite, apesar do meu coração parecer bater incansavelmente em um ritmo anormal durante muito tempo até se render ao cansaço físico. Ao menos, despertei com o cheiro dele em mim. Me movi ao senti-lo mover-se também, soltando alguns gemidos doloridos com o gesto. Nunca havia passado por uma situação assim, então, realmente não sabia como reagir pós aquela noite. Inclinei-me sob seu rosto cogitando beijá-lo, mas ele se levantou rapidamente com uma expressão derrotada. Repeti seu gesto, trocando olhares um pouco desconfiados com ele.

"Você tá bem?", arrisquei perguntá-lo. Carvalho me olhou meio de lado, ainda apertando as têmporas, esforçando-se pra manter os olhos abertos.

"Porra, cara, eu acho que bebi demais", reclamou. A expectativa me fez revirar o estômago. "Não me deixa beber desse jeito, porra", deu um soquinho fraco no meu ombro antes de se levantar pra valer e sentir as dores lhe fisgarem, obrigando-o a se sentar de novo.

Entre cheirar a própria pele e avaliar o motivo de estar tão dolorido, ele pareceu demorar bastante a processar as informações até que seus olhos azuis pairassem sobre os meus, castanhos, de novo. Repuxei meus lábios abrindo um sorriso vitorioso quando sua expressão se suavizou, julgando que finalmente ele havia despertado. Comecei a me aproximar no intuito de abraçá-lo, mas, então, ele falou.

"Cara, a gente caiu rolando morro abaixo ontem de novo?"

Parei no meio do caminho, encarando-o completamente atônito. Tentei encontrar algum vestígio em seu rosto que indicasse que ele estava fazendo piadas, e quando não encontrei nada além de uma seriedade bruta, meu estômago finalmente se revirou de verdade e até senti pontadas dolorosas em meu peito.

"C-como assim, Guilherme?", a pergunta demorou a sair, quase me engasgando pelo custo alto. "O que você quer dizer com isso? Você.. Não se lembra da noite passada?"

Passando uma das mãos pela cabeça, aparentemente esforçando-se para conseguir algum resultado, ele recomeçou a falar, bastante confuso.

"Lembro-me de estar muito revoltado, sentar aqui na barraca e começar a beber sem parar, até discutir contigo por algum motivo provavelmente irracional e.."

"Tá bom, eu não quero mais ouvir", levantei-me bruscamente, peguei minhas coisas e saí da barraca com lágrimas ameaçando escapar dos meus olhos.

Como ele foi capaz de se esquecer da noite mais importante de toda a minha vida?

Equivaleu a como se tivesse pegado meu coração, o arrancado com as próprias mãos e esquartejado numa faca afiadíssima, porque ele estava doendo muito e provavelmente sangrando agora.

"Felipe!", sua voz pareceu me perseguir chuva afora enquanto me esforcei para manter uma distância considerável.

"Dá licença que eu vou tomar banho, temos que estar de serviço em alguns minutos", o evitei ao máximo, de costas para ele, até me proteger em uma árvore e abraçar meu próprio corpo.

Quando ele retornou ao acampamento, senti tanta raiva que comecei a socar o tronco da árvore com força chegando a machucar meus próprios dedos. Chorei de soluçar. Chorei toda essa angústia que me perseguia durante todos esses meses. Chorei por ter me sentido de um jeito tão incrivelmente especial ao tomá-lo pra mim. Chorei por ter meu coração despedaçado. Foi como se nada tivesse acontecido pra ele e aquela dor era realmente mais insuportável do que qualquer outra que eu pudesse ser capaz de agüentar.

Depois de derramar muitas lágrimas enquanto me esforçava pra tirar a roupa e lavar minha alma com a chuva, chorei ainda mais por sentir que a única lembrança viva também estava indo embora com a água; a textura de seu toque, seus rastros por minha pele.

Por Trás da Farda (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora