Capítulo 21 - Desabafo

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Despertei mais cedo e pedi o café na manhã no quarto enquanto o Gui não acordava. Ele estava em sono profundo e o sol ardia quente do lado de fora promovendo um dia absurdamente lindo no litoral. Espiei pela varanda sentindo a brisa morna abraçar minha pele antes de pegar no celular. Havia mais de trinta chamadas da Marcela, inclusive algumas mensagens.

Desculpe por ter sido tão invasiva. Ainda espero vocês dois na festa de hoje a noite. Adorei vocês. Beijos.

Deixei o celular de lado já que ninguém ainda tinha esse número, indo despertar o Guilherme. Ele parecia bem acabado dos dias seguidos de sexo que estávamos vivendo nessas férias.

"Bom dia, Guilherme Carvalho", beijei seu rosto por cima da barba acariciando suas costas. O Gui gemeu de dor ao se mexer na cama, sem parecer encontrar posições favoráveis. Ainda assim, o cretino sorriu quando contemplou meu rosto.

"Bom dia, Felipe Barreto, vulgo chatinho".

"Acho que alguém está de ressaca", peguei um copo com água e esperei ele se sentar para entregá-lo. Guilherme tomou de uma vez só.

"Tô detonado hoje... E a culpa é tua", se jogou de novo na cama, abraçando o travesseiro. O jeito que ele tava parecia realmente bem mal.

Passei as mãos em seu pescoço e testa e ele parecia meio febril.

"Gui, eu tô preocupado. Você devia sair da cama porque tá bem quente... Porque não tomamos um banho frio pra tomar café?", propus na expectativa.

"Eu to ótimo, Fer... Só não to com fome... To porquinho hoje", rebateu os meus convites sem sair do lugar.

"Você vai comer sim porque gastou muitas energias nos últimos dias", ignorando suas queixas, esperei que o café da manhã chegasse para lhe dar na cama. O obriguei a se sentar, afastando os lençóis úmidos de suor, e o fiz comer mesmo que pouco. "Eu acho que você precisa realmente moderar na bebida", comentei um pouco chateado porque no fundo eu sabia que ele sequer lembrava de tudo com o requinte de detalhes com que eu lembrava.

"Relaxa, cara, tá tudo certo", continuou com suas garantias preocupantes. Guilherme estava me escondendo alguma coisa grave sobre si mesmo e a cada dia que passava eu tinha mais certeza disso.

"Gui, sobre o que você fez... Eu..."

"Relaxa, tá? Eu estava bêbado, mas eu lembro o que eu fiz com a mina lá", disse-me com sua voz rouca, terminando de beber um copão de suco. "Também sei que tu se desculpou com ela por mim".

"Na realidade, não. Porque ela quem tinha que se desculpar com a gente pelo que ela fez", a lembrança clara da noite em que ela nos observou de maneira invasiva me veio na mente. A proposta indecente que ela lançou em seguida e a maneira como o Guilherme se vingou depois também.

"E ela se desculpou?", sua sobrancelha se arqueou com interesse.

"Muito", confessei.

"Tudo bem", passou as pernas para o lado de fora da cama, se arrastando até lá. "Eu quero ir nessa festa dela", suas próximas palavras me surpreenderam.

"Porque?!"

"Bá, porque é uma festa, a mina é louca... Vai ser irado", ficou de pé, andando todo torto, meio mancando, até o banheiro, onde se contorceu todo pra arrumar posição pra mijar.

"Eu não acho uma boa idéia, cara. Vai estar cheio de turistas brasileiros que nós não conhecemos, com certeza vai ter bebida e, a essa altura, todos já sabem que somos um casal", meu último comentário fodeu com a cabeça dele porque ele deve ter interpretado da pior maneira possível – provavelmente como se eu estivesse com medo de nos mostrar pra sociedade de novo.

Por Trás da Farda (Romance Gay)Kde žijí příběhy. Začni objevovat