Merry Christmas [Capítulo 14]

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Acho que eu não era tão importante para o Mickey. Ele desapareceu. Sem ligações, sem mensagens, nem um pedido de desculpas. Eu tentei me convencer que não me importava, ele era apenas um cara estranho que eu conheci em um momento de desespero. Mas era mentira. A cada minuto, eu me questionava se não havia feito uma besteira, deixando-o em seu apartamento.

Como resultado desse afastamento, eu comecei há passar mais tempo em casa, o que levou minha mãe tentar uma aproximação. Ela me pedia ajuda com o supermercado, deixava suas tarefas para assistir TV comigo na sala, mesmo não gostando das minhas séries favoritas ou reality shows. Não havia conversas entre nos, apenas algumas palavras trocadas, sem importância alguma.

As semanas passaram lentamente, como se o tempo quisesse me punir pela distância de Mickey. O tipo de vida que ele me apresentou era como uma droga, você vicia e quer sempre mais. Naquele momento, eu estava em abstinência.

Tirei as caixas com os enfeites de Natal do sótão. Meu pai, como fazia todos os anos, montou a árvore e limpou a pequena lareira de nossa casa. Minha mãe estava empenhada em cozinhar para a ceia. E eu resolvi que decoraria a casa.

O que eu sempre amei no Natal eram as músicas natalinas. Conectei meu Ipod no sistema de som da casa, que reproduziu a minha playlist de Natal. Pendurei as meias na lareira, enquanto pequenas labaredas começavam a ganhar vida. Depois decorei a árvore, cantarolando Silent Night.

Meu pai saiu para encontrar com alguns amigos no bar que ele costumava frequentar, a poucos metros de nossa casa. Minha mãe aproveitou que estávamos o momento para tentar descobrir algo sobre mim.

— Você não tem saído com tanta frequência. – ela comentou, enquanto colocava o prato cheio de rabana sobre a mesa. — Sabe David, eu não consigo dormir quando você não volta para casa. Às vezes você sumia por dias.

— Eu sei me cuidar! – respondi, mordiscando uma fatia de rabanada.

— O que está acontecendo com você? – ela puxou uma cadeira na mesa da cozinha e sentou de frente para mim. — Eu me sinto uma péssima mãe, sem saber o que se passa na sua vida. O que e? Namorado novo?

Realmente eu tinha péssimos pais. Eu também não era um bom filho. Respirei fundo, pensando que talvez eu pudesse compartilhar um pouco com minha mãe. Ao contrario do pai, era possível ter um mínimo de conversa com ela, que não terminasse em uma briga por causa da minha sexualidade. Às vezes eu penso que ela e apenas segue a opinião do meu pai, para não deixa-lo triste.

— Mickey. – disse.

— O que? O da Disney? - tive vontade de rir com a confusão que surgiu em seu rosto. — Você sempre gostou dele.

— Não. – revirei os olhos. — O nome do garoto com quem estou saindo. E Mickey.

— Ah. – ela sorriu. — Vocês são... namorados? – ela franziu o nariz.

Dei de ombros.

— Não estamos mais.

— Por isso você tem ficado em casa há três semanas? - ela se inclinou para frente. — Ele fez algo com você?

Franzi o cenho.

— Muitas perguntas.

— Apenas quero saber mais sobre você. – ela ficou cabisbaixa e eu soube que a culpa era minha. — Costumávamos conversa sobre tudo.

Mordi mais um pedaço de rabanada.

— Nos meio que brigamos. – disse. — Não sei mais o que somos.

— Eu sinto muito. – ela cobriu minha mão direita com as dela.

— Não, você não sente.

— Sim, eu sinto! – disse minha mãe em um tom firme. — Você pode pensar que não me importo com você. Mas isso não e verdade. Você e meu filho, David. Meu único filho.

Será Que é Amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora