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Frank nunca esteve em um avião antes, e até aquele momento ele estava odiando. Suas pernas estavam com cãibras por estarem dobradas por tanto tempo, o ar tinha gosto de velho e reciclado, e o travesseiro no qual ele supostamente deveria dormir era menor que a cabeça de qualquer ser humano, ele tinha certeza.

E ainda pior era o fato de que ninguém mais parecia estar tendo problemas para dormir; nem Ray com suas pernas estranhamente longas, ou Bob com sua cabeça gigante. Até Mikey estava afundado em seu assento ao lado de Frank, com os olhos fechados e a boca aberta. A única pessoa além de Frank que ainda estava acordada era o cara irritante a algumas fileiras de distância, que ficava tossindo a cada sete segundos. Bem, e o piloto. Frank esperava que sim, pelo menos.

Frank suspirou e reajustou seu travesseiro minúsculo pela milésima vez. Estava tão quieto no avião, com todos dormindo. Frank estava totalmente sozinho com seus pensamentos, que era absolutamente o último lugar que ele queria estar. Toda vez que ele baixava a sua guarda interna e tentava relaxar, ou respirar, ou dizer para si mesmo para ser paciente, ou qualquer coisa parecida, ele imediatamente tinha flashs de Gerard deitado nos braços de Mikey, ou do olhar no rosto de Brian quando os engravatados levaram o corpo, ou o modo com que Frank falou com Gerard na noite anterior -

Frank engoliu em seco e balançou a cabeça, afastando a memória. Ele esfregou as mãos no rosto, o que não ajudou, porque toda vez que ele fechava os olhos ele via o rosto de Gerard. Ele deitou a cabeça para trás contra o assento e encarou o teto, se conformando com a vigília.

"Eu dormi com o Toro."

Frank se assustou, virando para Mikey, que tinha aberto um olho e rolado o mesmo na direção de Frank, espiando.

"O que?" disse Frank.

"Toro," Mikey repetiu, abrindo o outro olho virando a cabeça totalmente para Frank. "Eu dormi com ele."

Frank o encarou, "Quando?"

Mikey franziu o cenho. "Tipo, ontem? Talvez o dia anterior. Eu não lembro."

Frank entendia. Ele sentia que ainda era o mesmo dia de quando Gerard morreu.

"Nós nos beijamos antes," Mikey continuou. "Quando você e Gerard estavam brigando."

Frank estremeceu. Ele não conseguia pensar sobre isso nem um pouco. Ele não podia pensar nisso ou ele iria se jogar do avião. Em vez disso, ele olhou para onde Ray estava dormindo, no assento do lado do corredor. Ele não sabia realmente o que dizer - nenhuma das suas respostas normais para as histórias de sexo de Mikey pareciam apropriadas. Ele hesitou, e então perguntou, "Foi só porque você estava triste?"

"Eu não sei." Mikey ergueu um ombro. "Eu honestamente não sei dizer."

"Merda." Frank se arrumou no banco. Ele pensou em como Ray era, como ele ia para a loja mais cedo toda manhã para arrumar o cabelo de Mikey, o quanto ele se preocupou quando Mikey conheceu Pete, o modo que seu rosto ficava quando Mikey o fazia rir. "Merda", ele disse novamente, a percepção chegando. "Toro gosta de você. Claro que ele gosta. Como eu perdi essa porra?"

Mikey deu de ombros. "Do mesmo jeito que os outros caras deixaram passar você e o Gee, eu acho."

Frank não sabia o que dizer para isso. Ele olhou para o seu colo e esfregou o polegar no rosário de Gerard, que estava enrolado em seu pulso.

"Nós deveríamos poder confiar um no outro com nossas vidas," Mikey disse. Frank olhou para cima, mas Mikey estava encarando alguma coisa a sua frente, o maxilar travado. "E então nós não dizemos merda nenhuma ao outro."

"Mas você sabia," Frank disse. "Eu não pensei - Mikey, você sabia."

Mikey negou com a cabeça. "Esse não é o ponto."

Frank sabia que ele estava certo, mas ele não sabia como explicar. As coisas que ele manteve para si - as conversas secretas, as noites em que ele se forçou a ficar acordado só para que eles pudessem conversar quando ninguém estava ouvindo - ele não tinha escondido elas só porque sabia que Mikey ficaria bravo. Foi porque essas eram as únicas coisas de Gerard que Frank tinha só para si, as únicas vezes que Frank tinha algo de Gerard que ninguém mais tinha.

Ele disse honestamente, "Eu pensei que Gerard fosse te contar."

"Yeah, bom." Mikey empurrou seus dedos por baixo dos óculos e esfregou os olhos. "Ele não contou."

Frank ficou secretamente feliz. Ele olhou para a janela para que Mikey não pudesse ver isso em seu rosto. Ele moveu o rosário em seu pulso.

Eventualmente Mikey disse, "Eu não acho que foi. Só porque eu estou triste, quero dizer."

Frank olhou para ele, "Então você deveria dizer a ele."

"Eu não sei." Mikey se acomodou no banco. "Eu nem mesmo... Eu nem mesmo me sinto uma pessoa," ele admitiu, lançando a Frank um olhar cauteloso. "Você sabe o que eu quero dizer?"

"Eu sei exatamente," disse Frank, desejando que não soubesse.

"Yeah." Mikey fechou os olhos por um momento, e então afundou em seu assento para apoiar a cabeça no ombro de Frank. Frank se virou para ele, descansando a bochecha sobre a cabeça de Mikey.

Ainda estava bem quieto no avião. Frank sentiu que seu sussurro foi realmente alto quando perguntou para Mikey a pergunta que ele tinha medo de ouvir a resposta, mas não conseguia manter para si mesmo. "Mikey? Você acha que ele está vivo?"

Mikey ficou quieto por um longo tempo antes de dizer, "Eu não sei."

Essa não era a resposta que Frank queria, mas era a melhor que ele iria conseguir. Ele fechou os olhos e tentou dormir.

*

Começou a melhor parte da trilogia.


Heaven Help Us [Frerard]Where stories live. Discover now