seis dias antes

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Ele me ligou, dizendo que precisava conversar e pôr toda aquela aflição que estava sentindo para fora.

- Eu não aguento mais não saber onde ele está! - resmungou, passando as mãos impiedosamente pelos cabelos, soltando uma lufada de ar pesada e frustrada. - Ele não vai à escola faz seis dias!!! - completa.

- Você... precisa parar de esperar. - aconselho. Aperto os lábios um contra o outro, ansiando pela sua resposta. Não que eu quisesse fazê-lo desistir de seu amor, longe disso. Eu gostaria que Jimin fosse feliz.

Ele levanta seu olhar tristonho e brilhante para mim, pressionando os lábios vermelhos uns contra os outros. Abriu a boca para falar algo, mas a fechou em seguida, abaixando a cabeça.

Pensei ligeiramente sobre a situação em que eu estava. Eu não sabia muito como ajudar, afinal. Nunca tive um relacionamento sério, nem amoroso. Nunca tive amigos para aconselhar-me, nem para aconselhar... O que eu deveria fazer agora? Eu deveria fazer alguma coisa? Eu poderia fazer?

Pensei em todas as vezes em que caí em câmera lenta em um precipício profundo, intenso e devastador. Em todas as vezes que senti que iria finalmente chegar ao fim, que iria bater com intensidade e rapidez no chão, meu corpo; machucando-o, assim como eu estava. Em todas as vezes em que inalei substâncias em minhas veias, para esquecer minhas lembranças caóticas e destruidoras. Em todas as vezes em que eu sentia alguém qualquer, invadindo-me rapidamente, sem sentimento. Apenas o vazio; como o precipício no qual eu vivia. Pensei, por fim, no que Yoongi sempre fazia nestes momento. Pensei, por fim e por mim, que eu não tinha nada a perder. 

Olhei-o intensamente, absorvendo a sua dor para mim e guardando-a em meu interior. Eu o entendia, de qualquer forma. Não que fosse fazer diferença para ele, mas eu o entendia. Respirei e levantei-me, sorrindo leve. 

- Pode vir comigo? - pergunto, piscando três vezes repetidas, mais rápidas do que deveriam ser e dei um passo para o lado.

Ele levantou os olhos e ergueu minimamente a cabeça, com uma linha fina entre os olhos, expressando que estava confuso.

- Para onde? - falou, com a voz suave e fina. 

Sua voz invadiu meus ouvidos como a água cai por nossa pele. Lenta, delicada e dolorosamente, se estivermos com febre. Sabe o problema? Eu sempre estava febril. Quente e sensível para tudo e para todos.

- Só venha. - argumentei, estendendo minha mão sobre o vácuo. Esperei pacientemente alguns segundos até que ele tirasse aquela expressão de confusão de seu rosto, e juntasse suas mãos as minhas, levantando-se da cadeira.

Caminhamos juntos até o final do estabelecimento e paramos na calçada em frente ao local em que estávamos. Esperei que ele soltasse sua mão da minha, já que a o ofereci apenas para se levantar, mas ele continuou segurando minha mão fortemente, como se tentasse se apoiar nela. Seus dedos eram finos e curtos, e eu sorri para aquela sensação extremamente boba e confusa para mim. Era engraçado como sua mão parecia apenas um bolinho de dedos comparados a minha.

- Você me trouxe para a rua? É isso? - olhou-me sorrindo, mesmo que estivesse explodindo em tristeza. 

Eu sorri também, mesmo que estivesse explodindo em sua tristeza. 

                                                                                           . . .

O céu estava carregado de nuvens cinzas e pesadas, preenchidas por água e ácidos prontos para serem derramados sobre a terra, sobre nós. Eu costumava gostar quando o céu estava daquela forma sombria, eu me assemelhava de alguma forma. Era aconchegante. Como um enraizamento. Aquela necessidade de sentir que faz parte um lugar. De sentir que têm uma casa, um lar. Um lugar especial, só seu. Que quando você está perto, ou nele, te faz sentir completo e feliz. Como se tudo já não importasse e você estivesse encontrado o seu caminho. Muitas vezes, não é um lugar também. Pode ser uma pessoa. Então, quando estávamos sentados na relva esverdeada daquele parque no qual eu o levara, ele me disse:

- Eu me sinto em paz e completo quando estou com Hoseok. Entende? - proferiu calmamente, fechando os olhos. - É como se ele fosse o meu lar.

Suspirei fundo, e aquele ar que passava pelo meus pulmões me rasgavam de uma maneira dolorosa e intensa. Quando eu pararia de me sentir assim... quebrado, usado e... sem um lar.

Fiquei em silêncio sentindo meu coração palpitar tolamente.

- Tem alguém que faz você se sentir assim? - indagou inocentemente, provavelmente não se dando conta de que aquilo me ferira tão dolorosamente que me fez ficar com os olhos marejados novamente. 

Eu era como um balão cheio de água a ponto de estourar.  Vulnerável de mais a tudo que me rondava. Qualquer coisa, qualquer palavra, qualquer atitude, qualquer... eu explodia, e tudo o que estava em meu interior fora posto para fora. Espirrava e tocava aqueles e aquilo que estava ao meu lado. Tinha bastante coisas acumuladas em minha cabeça, e talvez aquele era um dos motivos de porquê eu sempre sentia uma ânsia de chorar sempre que ele estava por perto, ou sempre que ele me perguntava algo sobre mim. Eu sou apenas um aglomerado de dores.

- Eu tenho um amigo. - informei-o, com a voz fraca. - Eu não sei se é o mesmo sentimento que você sente, mas, ele é o único que não me faz sentir como se estivesse a ponto de quebrar. - finalizei, fitando o céu nublado.

Ele estava deitado sobre a grama, relaxado. Eu estava ao seu lado, impotente.

- Sério? - sorriu, virando-se para o meu lado. Seu corpo inclinado. - Qual o nome dele?

Virei-me também, sentindo uma onda de choque colidir contra mim junto com o seu olhar animado.

- Yoongi. - não consegui evitar um sorriso ao falar seu nome.

- Você deve gostar muito dele. - sussurrou. Seus cabelos estavam bagunçados por causa do vendo forte e frio que soprava. 

Assenti.

- Você está sorrindo! - Jimin disse, abrindo um sorriso esplandecente. 

O branco de seus dentes reluziram em meus olhos, e não pude evitar de notar o quão lindo ele era. 

Eu já não sabia mais se estava sorrindo por Yoongi, ou por observar tolamente Jimin sorrir.

Naquela tarde, fiquei ainda mais confuso em relação a Hoseok. Jimin era animado e bobo, em um bom sentido. Ria de qualquer coisa, embora naquele dia, estivesse triste. Perguntava sobre tudo e deixava sua curiosidade sobre mim explícita. Nos levantamos da grama e andamos para um lugar perto dali, onde Yoongi me levara para tomar sorvete. Eu não sabia bem o que estava fazendo, ou porquê. Apenas fiz tudo o que meu amigo fazia comigo. Deu certo, em fim. Jimin lambuzou as bochechas de sorvete e passou as mãos pequenas sobre as bochechas, fazendo movimentos desajeitados em um tentativa de limpa-las, mas apenas espalhou ainda mais o sorvete de morango pela sua pele.

Não queria admitir; mas ele fazia-me sentir como se eu estivesse em casa. 





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