Capítulo 8- Desenterrando o passado

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_E então, o que decide, Vitor ? Vai continuar com esse ciúme bobo ou podemos conversar de forma civilizada? Porque lá fora você me ignorou completamente, na frente de todos os nossos colegas ainda por cima._ Lindsay continuava falando, com os braços cruzados.

_Tudo bem, podemos conversar de forma civilizada._ Ele baixou a guarda, para o alívio de Lindsay.

Vitor fez uma pausa para respirar antes de comunicar a decisão que havia tomado, mas Lindsay deu a frase por encerrada e se aproximou de seu melhor amigo, buscando em seu rosto aquele sorriso acolhedor que só ele conseguia dar.

_Mas não seremos como antes, acredito que exista amizades que durem mais do que outras, mas talvez não seja esse o nosso caso. _ A frase dele a fez parar no meio do caminho.

_ O que?_ Ela ficou petrificada.

_ Pessoas entram e saem de nossas vidas, amizades se desfazem o tempo inteiro. Mas,acredite : eu nunca vou esquecer tudo que vivemos, aprendi muito com você. Sempre terá um lugar especial no meu coração, mas eu prefiro me afastar. Essa situação está sendo um tanto incômoda para os dois ,então, que cada um siga o seu caminho._ Vítor sentia um nó na garganta, mas nunca daria o braço a torcer.

Ele disse tudo de uma vez, não se dando ao luxo de repensar sua decisão ou voltaria atrás no mesmo instante, ao notar o semblante de tristeza de Lindsay. O sorriso, que outrora iluminava o rosto de sua ruiva favorita, desapareceu completamente ao constatar o que aquilo significava.

_ Eu entendo._Foi tudo que ela conseguiu dizer.

Lindsay caminhou em direção a porta, que agora parecia mais distante do que realmente era. Andou em silêncio, calada, com o olhar perdido, mas lembrou - se de algo que a fez retornar.

_ Acho que está tomando essa decisão baseada num sentimento que pode prejudicá-lo mais tarde. Ao invés de se afastar deveria lutar contra esses ciúmes e aprender a lidar com certas situações, não fugir delas. Mas, tudo bem, acredito que não seja o fim, apenas uma pequena pausa na nossa amizade._ Após dizer tudo o que precisava, ela se retirou da sala em que conversavam, deixando Vitor pensativo.

_"Essa é a minha garota. Pode até ser esquentadinha, impulsiva e geniosa, mas também é determinada, empática e amável. Até seus defeitos me cativaram. Ela não é como Anna e é isso que me alivia."_ Ele pensou consigo.

Seus pensamentos estavam a mil. Vítor saiu da sala se despedindo de todos, inclusive de Lindsay, e partindo para sua casa; aquele era seu dia de folga então aproveitou para relaxar. Não que fosse exatamente possível, afinal, Vítor respirava trabalho e Lindsay era a única que conseguia fazê-la sair da rotina.

Chegou em sua casa, foi para seu quarto buscando seus pertences e andou em direção ao banheiro para tomar um relaxante banho quente. Quando saiu ,com uma toalha na mão passando em sua cabeça massageando-a, sentiu a presença de outra pessoa em seu quarto.

Olhou ao redor, porém não havia ninguém. Deu de ombros, tentando ignorar a sensação, que seria quase impossível, levando em consideração a profissão que exercia. Se sentou em sua cama, de olhos fechados enquanto massageava sua nuca tentando relaxar, mas...

_O que faz aqui, Anna Mendonça?_ Perguntou, Vitor, ainda de olhos fechados.

_Uau, está muito melhor do que antes e não digo isso só por ter aprimorado seu instinto investigativo._ Anna disse, observando Vitor de perto.

_Então ainda me tem guardada em sua memória depois de anos ? Afinal, reconheceu o meu perfume e não me diga que é porque ele é ruim, você sempre amou o aroma. _ Anna aproximou seu pescoço do nariz de Vítor, mas ele se afastou, levantando da cama.

_Ainda não respondeu minha pergunta: o que faz aqui?_ Ele perguntou de braços cruzados.

_Só vim para matar a saudade em nome dos velhos tempos. _ A Mendonça mais nova se aproximou acariciando os braços de Vítor.

_Nunca houveram " velhos tempos ". _ O policial se esquivou, mais uma vez. _Vá embora e me deixe em paz.

_Tem razão. Naquela época, eu tinha uma " queda" pelo namorado da minha irmã e não te dei chance alguma. Vim aqui hoje consertar esse erro._ Ela sorriu com malícia.

_ Não tem nada para consertar. Fico feliz por não termos tido relacionamento algum, hoje eu vejo quem você realmente é: uma mulher ambiciosa, manipuladora e superficial. _Ao ouvir as palavras que saíram da boca de Vítor, Anna deu-lhe um tapa.

_Nunca mais repita isso. Eu tinha, sim, sentimentos por você, mas... _ As palavras sumiram dos lábios de Anna.

_ Mas a inveja e vontade de ser como sua irmã eram maiores do que quaisquer sentimentos que você poderia ter. Inclusive a tal " queda" que você tinha por seu cunhado era só parte de todo o pacote de inveja que sentia pela Deise._ Vítor completou, com completo desgosto.

_ Ela sempre foi a filha mais inteligente, a que foi para a faculdade, aquela que vai herdar as ações do papai nas empresas parceiras e a agência que você trabalhou, a simpática e humilde, a certinha. Todos os elogios sempre foram para ela, eu só recebia " alertas" do tipo: " Seja como a Deise " ou " sua irmã é incrível, siga os passos dela ". Sabe o que é escutar de seu próprio pai que o melhor momento da vida dele ,depois do casamento com a nossa mãe, foi o dia que ela nasceu ? ELA tem tudo. _ Os olhos avermelhados denunciavam que Anna andou chorando.

_Então armar para que ela e o Alex terminassem ia te fazer sentir melhor?_ Vítor indagou.

_ Não me venha com lições de moral, você não é nem nunca vai ser melhor do que eu. Ou se esqueceu de que me ajudou no flagrante que minha irmã deu em mim e no Alex? Aliás, você teve oportunidades de sobra para contar a ela que tudo havia sido armação e o que você fez ? Nada. Deixou que seu " amigo " levasse toda a culpa enquanto eu saía como a vítima seduzida por ele. Você é tão culpado quanto eu por essa separação._ Anna jogou tudo na cara de Vítor e só então ele pôde perceber o quanto parecido com ela ele era.

_ Eu fiz isso porque eu sentia algo por você, mas eu percebi ,ao longo do tempo, que tudo isso foi um erro. Só não contei a ela porque sabia que você faria a cabeça da Deise e ela acreditava em você de olhos fechados. Seria a palavra de um " traidor " contra a da sua irmã pobre e indefesa. Mas eu vou conseguir provar que a culpa foi nossa._ Vítor ainda tinha essa certeza, apesar de não ser mais próximo de Alex.

_ Melhor não se meter nisso ou sua querida Lindsay não vai te dar uma notícia muito boa. _ Anna sorriu ao ver a ameaça surtir efeito no rapaz.

_Experimenta fazer algo contra a Lindsay e eu te coloco na cadeia por falsificação de documentos, ou se esqueceu de que você só foi estudar fora porque roubou a prova da Deise?! foi ela quem conseguiu aquele intercâmbio. _ Vítor sentiu-se cada vez mais podre ao se lembrar das tiranias que fez. Ele não merecia a amizade de Deise e sabia disso.

_Você não faria isso. _ Anna perdeu a compostura.

_Eu não pagaria pra ver se fosse você. Acho melhor você apagar o nome " Lindsay " da sua memória senão vai passar mais do que alguns dias na cadeia, seu pai vai saber que você é uma criminosa. Agora ,fora da minha casa, nunca mais apareça na minha vida. _ Vitor, disse ,enquanto colocava Anna para fora de sua casa.

Uma Noite Sem FimOù les histoires vivent. Découvrez maintenant