"Vou fazer por isso..."

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São exatamente onze da noite. Saímos do nosso aconchegante apartamento, o Patrick trancou a porta, eu guardei a chave. Descemos e entrámos no carro. As malas estão feitas e guardadas na bagageira, juntamente com sacos cama, tenda, e muita comida enlatada... O depósito de combustível está cheio. Ele olhou para mim.

"E agora? Para onde vamos?" 

"Apenas liga o carro e vai." Não me interessa para onde estamos a ir, e essa é a parte interessante. Não temos um destino, e sem destino a viagem só acaba quando nós quisermos. 

Rodou a chave na ignição, arrancou. Olho em volta para ver os prédios de Nova Iorque que deixo para trás. Ele não sabe, mas passámos bem em frente do prédio onde vivia com os meus pais. Não tive a tentação de parar por um segundo sequer. Desde que tudo aquilo aconteceu, eu saí de casa e comecei uma vida por mim própria os meus pais nunca mais tentaram chegar até mim, nem para apenas conversar que fosse, acho que morri para eles, e ainda bem, porque eles também morreram para mim.

Saímos da cidade, pela zona oeste, numa estrada secundária, onde eu nunca tinha passado, e acho que ele também não, mas não me interessa, porque sem destino nunca podemos estar perdidos, e nós temos a casa na porta bagagens, por isso, onde quer que estejamos, podemos simplesmente montar a tenda, e estamos em casa. Além disso, é praticamente impossível passar um dia a viajar sem passar pelo menos por uma terrinha qualquer, e comprar o que quer que seja que nos faça falta, abastecer o depósito do carro ou seja lá o que for que precisamos de fazer. 

Esta noite o céu está coberto de estrelas, e a lua brilha o suficiente para iluminar a estrada em tons de prateado. Pela fisga aberta da janela do meu lado entra um vento fresco, com cheiro a eucalipto e a madrugada. Desde que tivemos esta ideia louca de viajar sem destino, sempre pensamos em partir de madrugada, o plano é, quando amanhecer, pararmos, onde quer que estejamos, e arranjar um lugar para acampar e ficar por quanto tempo nós quisermos. Quando não quisermos mais, desmontamos a tenda, e arrancamos para outro lugar. 

São seis e meia da manhã, acabámos de passar a ponte do estado de Virgínia para Ohio, acabámos nesta pequena cidade, se é que se pode chamar assim. Newport, à beira do rio Ohio, parámos o carro mesmo junto ao rio, numa estrada por onde aposto que ninguém passa. Ouvem-se os pássaros a cantar, a água do rio a correr e a passar pelos seixos, ouvem-se também algumas carrinhas de agricultores já a andar de um lado para o outro, e alguns tratores. Mesmo junto a esta estrada, está um lote de terra vazia. Não tem absolutamente nada, além de um manto fino de erva no chão. Eu apaixonei-me por este lugar... é ideal, é lindo, é calmo, é perfeito... 

Há casas aqui perto, várias até, e um supermercado, mesmo aqui ao lado. Vimos uma senhora, por volta dos seus setenta anos de idade a varrer o varandim em volta da sua casa, do nosso lado esquerdo. O Patrick dirigiu-se a ela e eu acompanhei-o. 

"Bom dia, minha senhora, pedimos desculpa por estar a incomodá-la, mas a será que a senhora nos sabe informar se há problema em acamparmos neste terreno aqui ao lado?" Perguntou, apontando da direção de onde temos o carro. 

"Não, não há problema, o lote está para venda, mas é meu e do meu marido, desde que não façam rebaldarias podem acampar à vontade." 

"Nós não fazemos, prometemos ser muito sossegados, nem vai dar pela nossa presença." Respondi com um sorriso de orelha a orelha, porque já disse, mas repito, estou apaixonada por este lugar. 

Começámos a montar a tenda, com a entrada virada para o rio. Colocámos as mantas lá dentro, porque além de já ser quase verão, ainda está frio a estas horas da manhã. Entrámos para tenda, com dois pacotes de bolachas com pepitas de chocolate e pacotes de leite com chocolate. Deixámos a tenda aberta, para podermos olhar lá para a fora, para aquela vista, e sentir o cheiro da erva molhada pela brisa noturna do rio. O Patrick passou um braço por trás de mim. Deve ter percebido que estou com frio... e ele deve estar exausto depois de conduzir mais de sete horas com apenas uma paragem de 30 minutos numa estação de serviço. Eu também não dormi, porque além de gostar de apreciar o caminho, a minha função é apontar todos os nomes de todas as localidades e pontos de referência por onde passamos, bem com os postos de combustível, supermercados, áreas de serviço, para nos podermos orientar quando precisarmos de voltar para Nova Iorque e organizar tudo para irmos para Boston. 

"Não é nada parecido com Nova Iorque, pois não?" Sussurrou no meu ouvido. 

"Nada mesmo..." Respondi, no mesmo tom de voz que ele, sem tirar os olhos da paisagem. 

"Posso contar-te um segredo e tu não te zangas comigo?" Após pronunciar estas palavras, beijou a minha bochecha. Eu assenti, a olhar para ele. "Nós não estamos aqui por acaso... eu já aqui tinha estado, quando vim de Las Vegas para Nova Iorque passei por esta cidade... não estou a dizer que vim com este destino pensado, mas uma vez que vi que, por acaso, até estávamos perto, achei que ias gostar de vir aqui." 

"Obrigada, Patri... Adorei." Encostei a cabeça no seu ombro. 

"Estás cansada?" Beijou a minha testa. 

"Um bocadinho, e tu?" 

"Eu nunca me canso, sou de ferro..." Soltou uma risada. 

"Aham... eu sei..." Apenas sorri, porque já não tenho forças para rir. 

"Vamos dormir, babe?" 

"Aham..." Ele fechou a tenda. Eu deixei-me cair com a cabeça na almofada.

Fechei os olhos, se é que eles não estavam já fechados. Senti-o deitar-se ao meu lado e abraçar-me pela cintura. Beijou os meus lábios e nem sei como, mas arranjei forças para retribuir. Começou a brincar com o meu cabelo. 

"Não imaginas o quanto significa para mim estar aqui contigo e saber que confias em mim o suficiente para deixares o teu destino nas minhas mãos. Eu sinto-me tão bem quando demonstras que confias em mim até de olhos fechados... sinto-me tão bem quando me dizes que nunca estiveste melhor do que estás agora. Fico tão realizado quando dizes que nunca ninguém te compreendeu como eu compreendo e que nunca ninguém cuidou tão bem de ti como eu cuido." Fez uma pausa e respirou fundo. Eu já não consigo responder-lhe, porque o sono pesa demais, mas continuo a ouvi-lo. "Eu amei ver-te evoluir enquanto estiveste comigo. Eu amei ver-te florescer de novo, de dia para dia, depois de te mudares para minha casa. Eu amei ver-te passar de menina indefesa a mulher decidida... Eu sei que já não me estás a ouvir, mas o teu subconsciente ainda está." Mas eu também estou a ouvir... "A primeira vez que te vi, não me perguntes como, mas eu soube que tu não estavas bem, talvez nessa altura tu ainda acreditasses que estavas, mas eu sabia que não. Não vou negar que acho que tiveste alguns dias felizes, mas depois desses dias eu podia ver nos teus olhos, a cada segundo que passava, que o teu mundo estava a desmoronar. Quando soube que de toda aquela história dos comprimidos senti-me a pessoa mais impotente do mundo. Quando soube estavas a viver num quarto alugado, o meu próprio mundo caiu-me aos pés por ver onde tinhas chegado... tu não mereces nada daquilo por que já passaste, meu amor. Eu só quero conseguir compensar-te por tudo o que viveste e não devias ter vivido... e talvez, daqui a alguns anos, consigas esquecer tudo o que aconteceu antes de mim e consigas fazer desaparecer todas as cicatrizes... pelo menos, eu espero que sim, e vou fazer por isso..." 

Hey babes <3 Viagem Patrine YEEEEEEEY tipo a odisseia do amor ahahah Espero que tenham gostado, e deixo aqui o link do local exato onde eles ficaram acampados (é um link do google maps por isso podem usar o street view para "olhar em volta" e explorar o local - Este link vai encontrar-se num comentário meu aqui em baixo para poderem copiar e colar): https://www.google.pt/maps/@39.3878293,-81.2288732,3a,75y,211.51h,73.33t/data=!3m6!1e1!3m4!1sf8czCT6BYM35v-2Jdgsicg!2e0!7i3328!8i1664 

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Kiss <3

Outro copo de amor, por favor (#wattys2016)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora