"Tu mereces"

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Na competição não tivemos o melhor tempo, mas ficámos em terceiro. O professor elogiou bastante o nosso trabalho de equipa, coordenação e confiança no par. Disse que foi bom ver-nos atuar em conjunto, especialmente na última parte da prova, em que nos ajudamos mutuamente a subir para o plinto de forma simbiótica. Nunca pensei que esta palavra - "simbiótica" -  fosse aparecer no contexto da minha relação com uma pessoa que não fosse o David. Foda-se! Não acredito... 

"O David!" Exclamei, mas alto do que era suposto, no meio do corredor. 

"O que tem o David?" O Patrick, que caminhava ao meu lado, perguntou. 

"Eu fiquei de lhe mandar uma mensagem quando chegasse à escola, e esqueci-me por completo, ele já se deve estar a passar!" 

Tirei o telemóvel, às pressas de dentro da mala. Tenho 5 mensagens e 4 chamadas. A última mensagem diz: "Diane, atende o telefone ou eu juro que vou à escola à tua procura. Estou preocupado. Liga-me assim que vires esta mensagem!" Eu liguei-lhe de imediato, não posso acreditar que me esqueci! Como me fui esquecer disto?

"Finalmente!" Atendeu e respirou fundo. "Eu estava a morrer de preocupação contigo, Diane! Porque é que só me disseste alguma coisa agora?"

"Desculpa, eu cheguei atrasada à escola e a primeira aula foi educação física, com a pressa de chegar ao balneário e trocar de roupa não me lembrei... desculpa." O Patrick olhou para mim e sorriu ironicamente. 

"Pronto, ok. O que interessa é que estás bem. Eu vou buscar-te logo à tarde, está bem?"

"Sim... até logo." 

"Até logo, New York girl... eu amo-te." 

"Também te amo." 

"Sabes que é só por isso que me preocupo tanto contigo. Vivo no medo constante de te perder." Suspirou. "O patrão está a chamar. Até logo." 

"Até logo." Desliguei e coloquei o telemóvel de volta na mala. O Patrick ficou a olhar fixamente para mim. "Que foi?" Franzi a testa. O facto de me olhar assim começa a intimidar-me. 

"Costumas fazer isso muitas vezes?" Continua com aquele sorriso meio irónico na cara. 

"Isso o quê?" 

"Isso... mentir descaradamente ao teu namorado." Soltou uma risada. 

"Eu não lhe menti... do que é que estás a falar?" 

"Não lhe mentiste?" Semicerrou os olhos. "Estás a tentar enganar a pessoa errada. Nós chegámos à escola 10 minutos antes da aula começar, estivemos um monte de tempo a conversar na entrada... não estavas nada atrasada, nem com pressa nenhuma de trocar de roupa. Porque é que lhe mentiste?" 

"Já chegava o estado de nervos em que ele estava, não ia atirar mais lenha para a fogueira." 

"Porque é que seria atirar lenha para a fogueira se dissesses que simplesmente te distraíste a falar com um amigo e acabaste por te esquecer de lhe mandar a mensagem?" 

"Tu não o conheces..." Abanei a cabeça negativamente, sem olhar para a cara dele. 

"Pois não... e ou muito me engano, ou tu também não!" Revirou os olhos. "Há quanto tempo é que tu o conheces, mesmo?" 

"O que é que isso interessa?" 

"Vives com ele... gostava de saber há quanto tempo o conheces, deve ser há muito, não é? Para confiares tanto nele..." Eu sei perfeitamente que ele só está a tentar espicaçar.

"Sabes muito bem que não o conheço há muito tempo." Respondi, num tom de voz mais baixo. 

"Quanto tempo? 3 meses?" Arqueou a sobrancelha, mas eu não respondi. "Dois meses e meio?" Continuo silenciosa como um túmulo. "Vá lá..." Soltou uma risada irónica. "A sério? Dois meses?" Recuso-me a responder. "Menos de dois meses?" Mandou a cabeça para trás, a rir. "A sério... pelo menos diz-me que é mais de um mês." 

Outro copo de amor, por favor (#wattys2016)Where stories live. Discover now