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O caminho até casa de Norah não é muito longo, mas ninguém fala até lá.

"Como é que vais avisar a tua mãe?" Pergunto.

"Passo por lá depois de te deixar em casa." Ele não tira os olhos estrada enquanto responde.

Vou para lhe responder mas o seu telemóvel toca.

"Styles!" Harry atende e ouve e que dizem do outro lado. "Ok, vou já para aí." Ele responde rude e desliga.

A velocidade do carro aumenta e olho para o volante e Harry está a esmaga-lo literalmente. Começo a ficar assustada, cada vez mais a velocidade aumenta. Agarro-me ao puxador da porta com força, a estrada está quase Harry quando Harry não para nós semáforos.

"Harry..." chamo baixo, com medo. Ele não se mexe nem abranda.

"Harry!" Volto a chamar mais alto e desta vez chamando a sua atenção.

Ele olha para mim e encosta o carro.

"Desculpa, não era minha intenção assustar-te." Ele levanta a mão na minha direção, eu recuo e ele baixa-a.

"Eu não ia...bater-te..." Ele parece confuso. "Confias em mim?" Pergunta.

"Acho que sim..." repondo-lhe ainda reticente.

Styles volta a levantar a mão e leva-a à minha cara, limpa debaixo dos meus olhos, lágrimas desconhecidas por mim. Sinto um choque com o seu contacto e assusto-me.

"Desculpa-me, por favor." Pede num sussurro.

"Podes-me levar a casa, por favor?" Peço.

O caminho é retomado e Harry deixa-me em casa.

"Tenho uma emergência na empresa, não vou poder avisar a Anne." Quando estou para sair do carro ele fala.

"Não tem problema. Obrigada Harry." Entro em casa e fecho a porta.

São 9p.m quando entro em casa, vou à cozinha e pego numa peça de fruta, não tenho grande fome por isso não adianta fazer o jantar. Não sei a que horas Norah vem, mas não me sinto confortável em ir dormir enquanto Norah não chega por isso ligo a televisão e deito-me na sala.

Na televisão está a dar um desfile de sapatos e chama-me à atenção. Fico a ver o desfile, e encho-me de ideias para novos projetos da escola.

Os acontecimentos de hoje não deixam a minha cabeça nem por um segundo, as minhas mãos estão a tremer como nunca e sinto-me desprotegida. Procuro pelo meu diário na mala ao pé da porta e sento-me com ele de volta no sofá. Escrevo durante horas, perdi a noção do tempo enquanto escrevia, pouso o diário na mesa de centro e volto a minha atenção para a televisão. O desfile ao que parece já terminou, nos outro canais não está a dar nada que chame a minha atenção por isso deito-me a pensar. Norah ainda não chegou, por isso começo a ficar preocupada.

Ouço um barulho na porta, demoro a dar conta de onde estou, na sala. Norah entra na sala e pousa a mala num dos sofás.

"Ainda estás acordada querida? Devias estar a descansar." Ela senta-se ao meu lado.

"Não conseguia enquanto não chegasses. Desculpa."

"Não tem problema, desculpa ter saído à pressa. A patroa teve de ir resolver uns assuntos na empresa e tive de tomar conta da menina." Norah explica. "Estou exausta." Ela encosta-se no sofá.

"Devíamos de ir dormir" digo.

Outro pesadelo! Eu não estou a aguentar mais isto... Estou desesperada para que eles desapareçam. Mal durmo todas as noites, os pesadelos parecem cada vez mais reais, quase não consigo distinguir o pesadelo da realidade, se não fosse quando acordo ver onde realmente estou.

Ultimamente tem sido pior, acordo completamente encharcada, tenho muitas vezes de trocar os lençóis por causa da humidade do suor, acordo a tremer como se tivesse com ataques epilépticos e a gritar.

Já tenho medo sequer que chegue à noite, à hora de ir dormir, para eles não voltarem. O diário está sempre lá para quando eu acordo de cada pesadelo, o boxe está lá para descarregar a raiva, e a música para aliviar um pouco a dor e sofrimento.

Cada noite que isto acontece eu acordo e vou para a sala assistir a qualquer coisa, mesmo que seja estúpida, que passe na televisão. E não volto a fechar os olhos até à noite seguinte.

Hoje não vou para a empresa por isso vou descansar um pouco quando a Norah sair para trabalhar, assim sei que se gritar não vou estar a acorda-la. Mas também sei que vai ser pouco possível descansar.

Em menos de duas semanas, posso dizer que, o meu diário já passa do meio, com folhas rabiscadas de sofrimento e memórias.

Nem quero pensar que sábado vou ter de lá voltar, sozinha. Onde tudo aconteceu. Norah não pode ir comigo, vai trabalhar esse fim de semana, por isso vou ter de passar por tudo sozinha.

*20, Dezembro, 2017*

Quarta-feira, ontem não fui ao estágio, por ordens da Gemma, por isso hoje quando chegar à empresa tenho de ir ao escritório do patrão entregar a justificação.

Depois do pedido feito no Starbucks, sento-me com o livro da última vez. Hoje vim mais cedo para ter mais tempo de ler, "orgulho e preconceito", de Jane Austen.

"Desculpa, deixaste isto no balcão." Olho para cima e um rapaz está com a minha carteira na mão.

"Obrigada." Agradeço e guardo-a.

O rapaz sorri e vai embora. Volto a minha atenção para Mr. Darcy e Elizabeth Bennet. Um reservado e orgulhoso Mr. Darcy, que nega a presença de miss Elizabeth, na dança, por ela não ser suficientemente bonita para dançar com ele.

Guardo o livro na estante do café e caminho até à empresa.
Hoje não chove por isso não preciso de ir a correr.

Volto a encontrar Louis, como todos os dias, a entrar na empresa. Ele segura a porta para mim e faz-me companhia no elevador ao am andar do patrão.

"Bom dia, Rose, preciso de entregar uns papéis ao Mr. Styles, ele está?" Pergunto à antipática secretária.

"Tens de esperar que ele chegue." Rose prende chateada.

Sento-me com o Louis no bar ao lado de Rose. Em pouco tempo Harry passa por nós mas não dá pela nossa presença.

"Bom dia também para ti Styles!" Louis pronúncia do seu lugar quando o patrão para à beira da sua secretária de serviço.

"Louis, Natasha?!" Fica surpreendido.

"Estávamos à tua espera..." Louis levanta-se e dá-me a mão para eu me levantar também.

"Hoje não é um bom dia Louis." Harry responde rude.

"Pelo menos sê simpático com a tua estagiária." Louis, o segurança, diz e depois de se despedir com um beijo vai embora chateado.

"Podes entrar e esperar um pouco no meu escritório Natasha." O patrão mal humorado diz.

"Tudo bem." Entro no escritório e fecho a porta atrás de mim.

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