Cap. 16 - Joana Resolvida - Parte II (revisado)

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Hélio, em seus enfadonhos 35 anos, formado em engenharia mecatrônica, era mais afeito às máquinas, pois as compreendia melhor. Não acreditava em reviravoltas miraculosas ou no amor à primeira vista. Somente cria nas sequências de lógica precisa.

Sua programação de personalidade não era robusta o suficiente. O aparato lógico necessário para conectá-los era falho em várias partes do código, avaliava todo dia.

Mais uma semana se passou. Na segunda-feira ele a viu com uma expressão pálida perambulando pelo jardim, no horário pós-almoço, o qual, aliás, ela não havia desfrutado, aparentemente.

Joana parecia distante e sem perspectivas, muito diferente da mulher que existia nos corredores da empresa ou no escritório do RH, das oito às dezessete horas, incansavelmente, todos os dias da semana. Com movimentos de uma boemia triste e ao mesmo tempo desmotivada, lá no jardim, ela degustava uma cigarrilha aromatizada. Esguia como ela mesma.

Seus cabelos curtos e vermelhos destoavam das folhas verdes dos arbustos do entorno. Sua melancolia, durante aqueles poucos minutos à vista de Hélio, enterneceu seu coração. Uma necessidade de protegê-la caiu sobre ele.

Hélio fora para casa, pensativo.

Naquela noite, repousando de olhos abertos, tarde da noite, na casa de sua mãe, em seu quarto de menino ainda, Hélio decidira.

Falaria com ela no outro dia. Fosse para levar um fora ou não. Aquele seria o dia decisivo!

No dia seguinte, ele acordou cedo, fez uma caminhada, dez abdominais, vestiu sua melhor camisa azul claro de algodão e foi ao trabalho.

Não a viu por toda a manhã.

Não suportou a demora e foi até o seu departamento. Lá ficou sabendo que ela não aparecera para o trabalho. Um comportamento atípico. Soubera também que não atendera ao telefone.

Hélio ficou preocupado. No entanto, não quis demonstrar isso aos demais.

Voltou para casa, desapontado.

Sua mãe lhe fez um chá e se sentaram para tomá-lo. Foi então quando a senhora, com a tranquilidade dos idosos, disse:

- Que triste né? Aquela moça... Pena, ter morrido assim tão jovem.

Ele, não dando importância ao que a mãe dizia, deu de ombros e falou, quase que por educação:

- Pois é, triste mesmo.

A mãe então o encarou e perguntou:

- Você a conhecia, ela trabalhava lá também, né?

O coração de Hélio disparou. Num salto desleixado ele seguiu para o notebook sobre a mesinha e com poucos cliques encarou a verdade insípida.

Joana havia cometido suicídio.

E assim, sem um bilhete de despedida ou sequer uma conversa com Joana, Hélio sentira sua solidão.

Entre lágrimas ele e a mãe se abraçaram.

(fim)


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