Cap. 13 - A esteticista (revisado)

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Ela sabe o que quer.

Acorda cedo, segue para o banheiro. Novamente sem namorado.

Sua casa é grande, tão proporcional às suas motivações quanto os seus desejos e ambições, que toda uma vida com infância pobre lhe permitiu.

Sete cômodos compõem seu refúgio, físico e espiritual. Três quartos, uma sala ampla e iluminada, cozinha projetada, duas varandas, corredor, jardim de inverno e um quintal com arvoredo, gramado e piscina.

Todos os dias ela analisa suas conquistas e se orgulha de cada uma delas.

Seu corpo? Uma conquista a parte. É verdade que não possui glúteos aprumados, como as mulheres e ocasionalmente os homens desejam, mas isso certamente não a impedira em nada. Sua autoconfiança, seu vigor matinal, suas olheiras sob a maquiagem impecável, tudo fora conquistado.

Ela se orgulha, agora, de ter mudado para sempre o seu biotipo. Não saberia dizer se foram as horas de puro sofrimento em academias da cidade, as pedaladas na alvorada pelas periferias ou as toneladas de suplementos alimentares. Algo tinha funcionado. Aquela menina descorada, de pouquíssimos atrativos sexuais ficara para trás, e dessa vez em definitivo. Uma expiração intensa é liberada, a cada vez que ela se lembra disso.

Seu nome é o mesmo de uma estrela. Na verdade um planeta. Nascida para brilhar! Sempre repete essa frase a si mesma, no silêncio da noite em sua cama ou ao final de uma jornada de sucesso. Alimenta-se disso, das perspectivas que em sua vida frutificaram e da certeza de que nasceu para o sucesso. Não como artista, mas como uma profissional inspiradora, motivada e capaz de transformar vidas. Seu objetivo diário? Beleza.

A sua aparente inaptidão com os homens, seu maior problema. Sempre gostou muito deles, talvez fosse esse o seu menor talento, como lidar com rapazes. Teve muitos desde tenra idade, não esconde isso. Onde estaria o seu homem em especial, é algo que ela sempre se pergunta.

Seu talento para esculpir beleza em todas as mulheres à sua volta, desde características capilares íntimas, penteados, pele, unhas e até psiquê, a fez uma mulher distinta. Contra tudo e contra todos ela cunhou o seu valor, às vezes monetário, outras vezes inquantificável. Ela não se importa. Tem consciência de seu papel e do quanto é amada.

Quando dirige o seu carro se assemelha a uma aristocrata, com seu nariz sempre apontando o zênite, e olhar intenso e profundo, parecendo olhar mais o horizonte vindouro que a própria estrada.

Essa é a menina, a moça, a mulher. Com três décadas de experiência, ainda a procura dele, seu grande e viril companheiro, sem sequer desconfiar que ele nunca existira.

(fim)

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⊙ Conto publicado no jornal "O Ponte Velha" em Resende/Itatiaia-RJ em julho de 2016.

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