Cap. 6 - Ela promete (revisado)

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Matilde, moça trabalhadora e vigorosa. Nascida em uma grande e barulhenta família. Desde cedo não tivera sorte com seus namorados. Ora eles eram preguiçosos, ora namoradores demais. Nenhum deles lhe inspirara confiança.

Quando ela se deu conta da situação corriqueira com seus ex-namorados, simultaneamente no seu trabalho, um ancião lhe dava sinais de interesse amoroso. Muitas vezes ele lhe trazia café ou água, outras vezes flertava descaradamente com ela, elogiando em demasia seu trabalho, sua postura e até suas curvas naturais.

Em princípio ela ficara confusa, em dúvida se aquilo era um tipo de assédio ou uma demonstração de carinho. Afinal, em seus relacionamentos, um terminava por vir acompanhado do outro. Ela não sabia bem como distingui-los.

Todavia, tudo isso ficara para trás, pensou hoje ao acordar.

Já ontem pela manhã quando ela se levantou, teve certeza de que ao longe sua vida apresentava sinais de mudança. Havia sete anos que ela não saía com seus amigos ou familiares para alguma festa que não fosse de família. Na verdade, isso acontecia desde que casara com o tal galante de terceira idade e logo nascera sua linda filhinha.

Não era nem meio dia, quando um amigo baladeiro de tempos atrás lhe enviara uma mensagem, convidando-a para uma festa nas redondezas, uma dessas de rua em cidades pequenas, em que as bandas tocam de tudo. É claro que ela pensou duas vezes antes de dizer sim, já que estava casada e sua filha ainda demandava muita atenção.

Finalmente decidiu e disse um fatigado sim.

Enquanto o horário da festa não se aproximava, ela mesma a nomeara como sua "libertação emocional". E passou o restante do dia se regozijando na certeza que a diversão na medida exata estava encaminhada.

Chegando à festa, não somente o seu amigo estava por lá, como também estavam os amigos do seu amigo, que logo lhe acolheram, formando uma rede de pessoas dispostas a ter momentos de alegria noite adentro. Bebidas com sabores antigos surgiam misteriosamente e a música parecia melhorar a cada novo hit.

Depois de muitas bebidas e danças que lhe fizeram aquecer o próprio corpo, ela levou a filha para dormir, no conforto da casa de sua irmã e voltou disposta a dar continuidade em seu processo pessoal, deleitando-se com os embalos de uma banda de rock, que por vocalista tinha um sósia do mais aclamado cantor desse gênero musical, em terras brasileiras:

- Raul Seixas! (gritavam as pessoas por lá)

E lá no show, envolta por bebidas de todos os tipos e fumaças espessas, ela sentia-se feliz, desejada, cheia de vigor e capaz de qualquer coisa. Exatamente o sentimento que nela pulsara a vida toda e que lhe havia sido roubado nos últimos anos.

Quanto mais ela bebia, cantava e dançava, mais se sentia livre e afortunada com as múltiplas possibilidades de sua vida, que agora aflorava perante seus olhos. Então ela brandia os punhos cerrados, executava movimentos enérgicos e declamava com volúpia as letras das músicas, acompanhando a guitarra e se contorcendo ao sentir emoções mil.

No seu íntimo ela sabia que aquele era o seu dia, a sua vida que fora roubada, sua válvula de escape para suportar a próxima semana no trabalho e toda a vida que lhe rachava os ossos. Ela nascera para estar ali, um lugar de alegria em que a maior preocupação das pessoas era a escolha da próxima música.

E foi nesse exato momento que alguém no meio de toda aquela gente a observava em sua dedicação intensa. Tamanha foi a surpresa da pessoa expectadora, que se virou e comentou com os amigos que estavam próximos:

- Vejam aquela moça ali. Ela não está somente cantando, está fazendo promessas. Ela está prometendo coisas!

Todos a observaram e concordaram com um sorriso.

Matilde estava em seu melhor momento, e para si ou para o cosmo, ela parecia continuar com suas mais intensas juras:

- Eu vou ficaaarrr... arr, ficar com certeza Maluco Beleza... Eu vou fica aarrrr, ficar com certeza...


(fim)



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