Cap. 7 - Milena no banheiro (revisado)

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Eles são assim, um casal tradicional, cheios de comprometimento e devoção ao trabalho.

"Amadeus & Milena, amor eterno."

Esse fora o mote de seu casamento, grafado em alianças, guardanapos, toalhas de mesa, roupas de cama, canecas para os cavalheiros e sandálias havaianas para as damas convidadas. A noite fora perfeita, enfim a radiante e esplendorosa festa do enlace matrimonial, anos atrás.

Ele, um advogado aprumado e de grande renome, tão digno quanto o status social que sua profissão lhe conferiu. Sua curvatura abdominal mostra isso, um sucesso nada repentino, fruto de muito esforço e dedicação, vencera logo no início de carreira algumas odisseias jurídicas, enfrentando os mais poderosos conglomerados empresariais do país e saíra vitorioso. O crédito e os honorários correspondentes vieram de imediato, o início da calvície e o acúmulo abdominal complementando o pacote.

Ela, uma empreendedora talentosa. Trabalhando no conforto do lar, com a mão-amiga antifronteiras, a internet, atingiu em cheio os mercados consumidores do mundo inteiro, com seus produtos que realçam a feminilidade das pessoas. Das judias ortodoxas às islâmicas mais radicais, das feministas às mais recatas damas do lar, dos transexuais aos noviços empresariais enrustidos das grandes metrópoles, todas e todos se rendem aos seus produtos encantadores, principalmente perfumarias, óleos e essências naturais.

Certo dia decidiram, Amadeus e Milena, ir a uma festa de rua, coisa que nunca faziam, ou se lembravam de um dia assim procederem. Não pensaram sobre isso, então passou despercebido o fato de que pessoas de sua classe social raramente o fariam, por razões que eles dois sequer cogitavam a possibilidade de existirem.

Ele taciturno, como sempre, com espessas sobrancelhas contraídas, observava a todos no entorno. Enquanto isso, Milena conversava, fazia amizades, ria à beça e, em grande desenfado, aproveitava a festa. Uma verdadeira personalidade cativante se expandindo em profusão. Todos a olhavam, todos a queriam. Mas ela somente existia e isso lhe satisfazia, aparentemente.

Já ele, não era a festa que o deixara reservado em demasia daquela maneira, em verdade era um sonho que lhe incomodava há dias. Ele sempre dormia no mesmo horário, do mesmo lado da cama, após dobrar sua peça de roupa íntima e colocá-la no mesmo local, em cima do criado-mudo. Isto sempre parecera disparatado para Milena! Aliás, o quão metódico e alinhado aquele homem era acabava por dirimir-lhe a libido. Mas isto Milena possuía métodos para resolver dia após dia.

Em seu sonho, agora rotineiro há duas semanas, Amadeus estava nu, correndo por um campo verde, enorme. Seus passos eram pesados, ele se sentia forte e viril. Produzia sons de macho alfa que a todos ao redor impressionava. Ele tinha com esse sonho em mente havia alguns dias já, mas nada revelara à Milena, que na certa não daria importância. Só uma coisa ele sabia, no sonho ele era algum tipo de animal, grande e forte.

E foi quando ele estava a pensar sobre isso que o grupo amigos diminuiu, já que Milena beijou-lhe luxuriosamente a boca e disse-lhe que estava a ir com as amigas ao banheiro.

Seu sonho era assim, voltou a rememorá-lo, começava lentamente, sua visão era a de um vasto campo verdejante. Mas ele, em sua forma animalesca, parecia estar saindo de um local com cercas de madeira, na verdade cercas com réguas de madeira. Ficou ali insistindo para assomar os detalhes e vivificá-los, numa tentativa infrutífera de compreensão. Sua mente parecia confusa com toda aquela bebida que já havia ingerido.

De repente percebeu que Milena estava já há um exorbitante tempo no banheiro, a bem da verdade umas duas horas. Essa percepção lhe perturbou ainda mais.

Foi quando aconteceu o inesperado!

Amadeus, ao mesmo tempo em que se deu conta de que, em seu sonho ele era um enorme touro, quis também conversar com os outros homens do grupo, sobre o porquê das meninas estarem demorando tanto. Não houve como apartar os dois acontecimentos, um na sua mente e outro em seus lábios. Com os pensamentos e os sentimentos já extremamente conflitantes, não saiu voz de sua boca e sim outro som, absurdamente inumano.

Seus amigos lhe encararam incrédulos e, atônitos, não disseram uma palavra.

Em alto e bom som, todos os presentes notaram; Amadeus claramente havia mugido!

(fim)

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