- Então... – o loiro virou a atenção para a namorada, ao mesmo tempo que esfregava as mãos uma na outra. Voltou a deixar cair o olhar em nós. – Nós temos uma coisa importante para vos dizer.

Nenhum de nós falou. Eu já estava à espera de tudo, e sinceramente já nada me poderia surpreender. Porém eu enganei-me redondamente. Porque quando somos egoístas, não conseguimos ver ponta de felicidade, especialmente quando essa mesma felicidade vai causar exatamente o contrário em nós.

- Se calhar não é o melhor momento, mas a Ambar não quer adiar mais isto...

- Nós não viemos para ficar. – a ruiva interrompeu o discurso dele. – A principal razão pela qual viemos foi para o Niall te contar a verdade. – ela apontou para mim. – Eu nem sequer queria vir. Os nossos planos sempre foram outros e excluíram-te sempre da lista.

- Disso eu já percebi. – disse-lhe. – Escusas de dizer sempre a mesma coisa. Se a tua intenção é deixares-me mal com isso, então podes dar meia volta e sair daqui. Não querias vir pois não? Não viesses. Ninguém te pediu. Até porque se conseguiste um sítio para viver foi graças a mim, então é melhor parares com essas acusações e insinuações, porque honestamente estou por aqui contigo. – juntei o indicador e o polegar, abrindo um pequeno, quase invisível espaço.

- Vá lá, não discutam agora. – o Niall pediu. – É suposto isto ser um momento de calma.

- Digam então o que se passa. Agora estou curiosa. – a Ava falou e todos olhamos para ela. Reparei que se sentiu observada quando o seu olhar pousou no chão. Porém não desviei o olhar do corpo dela.

Se nos próximos dias ela não me ouvisse, então poderia dar como finalizado o meu esforço para tal. Podia voltar para Carson e das duas uma, ou me voltava a juntar de novo ao Matt, ou então encostava-me num canto. De um momento para o outro foi como se o meu eu cheio de raiva tivesse desaparecido. Foi como se eu me tivesse transformado. Aquilo parecia resultado da influência da Ava. Ela deixava-me sem fôlego para conseguir voltar.

- Nós vamos casar e depois vamos para o Arizona. – aquela foi a frase que me fez desviar a atenção da Ava para o casal à minha frente.

Fiquei sem palavras. No meu interior havia sim uma enorme confusão. Não conseguia assimilar aquela informação. Tinha sido tudo muito depressa.

O Niall estava a olhar para mim, certamente à espera que eu dissesse algo. Mas eu não conseguia. Não conseguia. Aquela era uma informação demasiado grande para o meu cérebro que parecia estar a diminuir.

- Bem, isso é que é uma novidade. – a voz da Ava soou com um evidente sorriso a acompanhar. – Parabéns.

Ela levantou-se e abraçou a Ambar, fazendo o mesmo com o Niall. Aquilo era algo que eu não iria fazer. Não acreditava que o meu melhor amigo, se bem que eu já nem sabia se o poderia considerar como tal, ia fazer uma coisa daquelas. Era como se ele me estivesse a espetar facas nas costas. Logo ele, que desde cedo sempre se prontificou a levar alguns planos a cabo comigo. Mas primeiro ele fingiu-se de morto para poder fugir com uma rapariga, e depois aquilo... casar-se.

- Obrigada. – a Ambar respondeu-lhe com um sorriso. – Nós queríamos pedir-te uma coisa. Precisamos de testemunhas e queríamos que fosses uma delas.

- Claro!

Seguiu-se um silêncio. Olhei para o chão e depois fechei os olhos. Não conseguia acreditar naquilo. Estava a ser demasiado. Ainda para mais naquela altura. Não sei onde tinha a cabeça ao pensar que alguma coisa poderia dar certo. Ao pensar que o Niall nunca ia ficar fraco ao ponto de fazer aquilo. Com as revelações ao longo dos dias depois dele ter aparecido, só pode concluir uma coisa: eu nunca o conheci. Sempre pensei que a nossa amizade fosse como unha e carne, mas afinal de contas não passava de uma fina camada. Eu não o conhecia e não me conhecia a mim.

Quando o Niall voltou, pensei que pudéssemos voltar a ser o que éramos. Uns marginais. Mas ele tinha mudado e nós já não tínhamos nada a ver um com o outro. Eu tinha continuado igual, ou talvez pior, e ele tinha mudado completamente. Já não havia espaço suficiente para podemos estar no mesmo lugar. Ele tinha planos para a vida e eu nem sabia o que fazer no momento exato.

- Harry... nós precisávamos que fosses a outra testemunha... – depois daquele silêncio, onde o mais provável era que estivessem todos a olhar para mim, a voz do Niall surgiu demasiado deslocada da realidade.

Levantei-me e finalmente olhei para ele. – Queres uma testemunha para depois te pores a andar daqui para fora? – ri-me sem vontade. – Não precisas de nada disso. Podes ir agora. Se essas sempre foram as tuas intenções eu nem sei para que é que vieste.

Dito aquilo saí disparado para o meu quarto, batendo a porta com demasiada força. O meu primeiro instinto foi dar um murro no armário. Estava frustrado. Mas no fundo eu tinha era ciúmes. Porque o Niall conseguiu alguma coisa da vida e eu apenas me deixei levar, à espera que a vida me desse algo.

- Custa-te assim tanto ver as pessoas felizes? – quando ouvi a voz da Ava um pequeno clique despertou em mim. – Porque é que fazes sempre isso? Assim só estás a cavar o teu próprio buraco.

- Tu não entendes. – continuei de costas.

- Tu nem sequer explicas. Como é que queres que entenda? – o tom de voz dela começou a subir. – Ficas sempre à espera que saibamos tudo. Porquê? Custa assim tanto dizeres a verdade?

- Sai Ava. Sai daqui. – foi tudo o que eu pedi depois dela ter falado. Porém, eu soube, e acima de tudo senti que ela não tinha ido.

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