Capítulo XXIII

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SEBASTIAN

Era mais do que desagradável ter de me manter na cama, me sentindo incapaz. Eu detestava demonstrar vulnerabilidade, mas nas circunstâncias em que me encontrava era difícil fingir que as coisas estavam bem. Ainda sentia meu corpo cansado. O Dr. Bryson me dera uma lista de recomendações que passaram a tornar meus dias extremamente entediantes.

Georges Corrigan, por diversas vezes, viera até meu quarto para me colocar a par do que estava acontecendo lá fora.

Fora ele mesmo quem me relatara o que havia acontecido depois que levei o tiro.

Segundo Corrigan, um dos guardas de minha propriedade tratara de rapidamente contatar homens da organização assim que Yoshio Tatsuo e seus capangas invadiram a casa. Depois de disparar contra Gareth, acertando-me em seu lugar, Yoshio descobrira-se sem saída. Temendo a chegada de meus aliados, já que meus seguranças encontravam-se em maior número e uma multidão estava prestes a aparecer, ele recuara, indo embora com certo desespero.

Eu lembrava-me do estado em que ele chegara até mim quando invadira minha casa. Estava sob o efeito de drogas, como na maioria das vezes em que o vira.

Saber que Tatsuo não tornaria a atacar-nos tão cedo novamente me trazia certo alivio. Contudo, havia outra coisa que ainda me incomodava.

Em uma das noites em que a febre causada pela infecção que tomara conta do ferimento onde a bala havia me atingido, lembrava-me de ter dito a Gareth coisas que em estado consciente eu jamais teria confessado.

Eu havia dito a ele que o amava. Era loucura, uma atitude completamente inconsequente.

Mas era a verdade.

Eu não teria me atirado na frente dele no momento em que Tatsuo disparara o tiro se não tivesse certeza de meus sentimentos, muito embora eles ainda fossem confusos.

Eu amava Gareth. E mesmo naquela situação, não conseguia me arrepender de ter me sacrificado pelo seu bem.

Estar completamente seguro de que ele estava bem era o que verdadeiramente me trazia paz naquele momento.

Apesar disso, não me lembrava de tê-lo visto desde aquela noite. Talvez minha confissão o tivesse assustado. Eu apenas esperava que aquilo não tornasse a afastá-lo de mim, pois percebia que ele ainda estava agindo de maneira estranha desde que voltara a morar ali.

Não havíamos tido uma conversa objetiva sobre o que acontecera a ele em Portland. Tampouco sobre seu trajeto de volta à Inglaterra. Era bem verdade que me incomodava não saber nada àquele respeito, mas eu precisava dar a ele tempo para perceber que poderia confiar inteiramente em mim mais uma vez.

Sabia que uma hora ou outra, eventualmente, ele mesmo me contaria o que o trouxera de volta à minha casa. Estava mudado, era mais do que óbvio. Mas os laços que havíamos criado em tão pouco tempo não pareciam ter sofrido nenhum tipo de alteração.

A única coisa, porém, que me interessava saber agora era se meus sentimentos por ele eram recíprocos. Ou se eu estava simplesmente perdendo o resto de juízo que me restava.

Olga vinha ao meu quarto muitas vezes, sempre trazendo consigo algo para que eu pudesse beber ou comer. Não era novidade a sua preocupação. Assim como não era novidade eu me sentir imensamente grato por tê-la ali. Não sabia o que faria sem sua ajuda em momentos assim.

Mesmo com certa tranquilidade, minha mente ainda me forçava a planejar o que faria assim que me recuperasse por completo.

Thomas Bryson afirmara que eu ficaria em boas condições em breve e que era um milagre eu ter sobrevivido sem precisar ir de fato ao hospital. Eu não acreditava em milagres. Nem em sorte.

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