Capítulo VII

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GARETH

Eu estava sentindo meus pés em carne viva, meu corpo já não aguentava mais correr. Eu o forçava, tentando achar uma saída daquele matagal, mas parecia que meu esforço era em vão. Eu havia me perdido. A noite estava fria e minha fina camiseta não me aquecia o quanto eu gostaria.

Olhei para o céu e levei cuidadosamente minha mão até meu rosto, que deveria estar completamente deformado. Tentei expulsar o sangue já seco do meu nariz para tentar reparar minha respiração prejudicada; eu tinha certeza de que havia quebrado.

Corri mais um pouco, sempre seguindo em frente, mas... Já não sabia mais onde era frente e trás; esquerda ou direita. Tudo se transformou numa confusão de intermináveis tons de verde e marrom. Minha vista estava turva, não enxergava muito bem o caminho pelo o qual seguia. Senti meu pé bater numa superfície dura, fazendo-me tropeçar e cair com o rosto direto no chão. A dor era intensa e eu estava no meu limite.

Deixei que algumas lágrimas fugissem de meus olhos. Os últimos dias foram péssimos, estavam parecendo uma montanha-russa com destino às profundezas do inferno. Chorei mais alto, sentia meu rosto doer ao forçar as lágrimas para fora. Eu só queria ter uma vida estável, era pedir muito?

Eu nunca dei valor em minha casa em Portland, em minha escola normal com pessoas normais e em meu pai, que fazia de tudo para levar sua vida maluca e manter-me fora dela. Talvez eu devesse ter aproveitado mais esta normalidade que agora se tornara inexistente.

Havia passado algumas horas correndo sem rumo, não estava conseguindo pensar em nada, apenas nele. Será que ele havia armado isto para mim? Talvez quisesse que eu sumisse e o deixasse em paz... Por quê?

— S-Sebastian... – choraminguei, chamando pelo loiro.

Ele nunca me encontraria. O céu de Brighton iluminou-se por um instante, olhei para cima e me animei, achando que fosse um helicóptero de busca, mas era apenas um raio que deu origem a um barulho estrondoso. Pude sentir algumas gotículas extremamente frias caindo sobre meu rosto, fazendo com que ele ardesse. Gritei. Usei meu último resquício de força e me coloquei em pé novamente. Corri por alguns metros e pude ouvir o som de motores. Com meu corpo fraco e encharcado pela chuva repentina, segui o som, mas ainda parecia distante. O lugar estava escuro demais para que eu pudesse ver o que estava ao meu redor, então confiei minha vida aos meus instintos e a minha audição.

Pude ver algumas árvores sendo iluminadas por uma luz branca e forte. Era o farol de um carro, eu tinha certeza. Corri com desespero, não acreditei que conseguiria sair dali. Consegui aproximar-me mais da luz e avistei uma estrada, havia um carro prateado passando lentamente por ali, sem pensar, atirei-me em frente ao veículo. A sua intensa luz cegou-me por alguns instantes, deixando-me imóvel.

(...)

SEBASTIAN

Estava tão ocupando tentando coordenar as ideias que transitavam por minha mente desde que saí de minha casa em busca de Gareth que mal conseguia manter os olhos na estrada.

Já estava vagando pelos arredores há horas e não havia encontrar nenhum sinal sequer do garoto. A tempestade que desabava sobre a cidade apenas prejudicara minha possibilidade de encontrá-lo. Nada estava ao meu favor.

De repente, quando voltei à realidade, deparei-me com uma silhueta atirando-se para frente de meu veículo, forçando-me a brecar antes que eu o atingisse.

Aquilo era mesmo só o que me faltava para melhorar a situação. Um louco suicida no meio do nada.

Freando bruscamente, tentei ver do que se tratava. Assustei-me, porém, ao reconhecer o sujeito... Não era nenhum maluco tentando se matar.

Sorrow's ChildWhere stories live. Discover now