Prólogo

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"A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem." – Epicuro.

Portland, Oregon.

Apertando a pasta de material negro que imitava couro, Alastair Geller sentiu uma solitária e fria gota de suor descer pela face que estampava com clareza seu nervosismo. Há minutos estivera ali, encarando o restaurante logo após descer de seu automóvel de luxo.

A verdade era que todo o trajeto até ali fora uma corrida contra suas próprias incertezas. Não dúvidas, pois estava determinado a colocar em prática sua decisão, mas a falta de certeza acerca do que ocorreria com ele próprio depois que executasse seu plano.

Um dia antes, durante a noite, marcara de encontrar-se com seu mais estimado cliente, certo de que ele o ouviria e aliviaria o peso sobre suas costas, oferecendo-lhe auxílio e apoio.

Geller não era íntimo de seus clientes, tampouco considerava-os amigos. Sua carreira como advogado criminal era, no entanto, conhecida por todos os quatro cantos onde o vento soprava. Era conhecido por conseguir livrar da culpa muitos réus acusados de crimes complexos, terríveis e até mesmo imperdoáveis aos olhos da sociedade.

Talvez fosse por isso que grande – ou toda – parte dos membros da alta sociedade, cuja dignidade estava envolvida com tráfico, lavagem de dinheiro e assassinatos à sangue frio, interligados à famosa tradição na máfia, onde se paga com a vida quando não se paga com dinheiro, procurava por ele, tornando-se seus clientes.

Alastair Geller era o advogado dos ricos e gananciosos. Desde a traficantes milionários à chefes de organizações secretas.

Em anos de carreira, porém, não permitira que nenhum destes tornasse seu amigo. Nem mesmo que se aproximasse de seu lar ou de sua família, que há anos resumia-se apenas a seu único filho, Gareth, cuja mãe – esposa de Alastair – falecera durante o parto.

A tragédia era um tanto quanto cliché, coisas que Geller jamais pensara que pudesse acontecer com ele, em sua vida.

Contudo, muitas das coisas que ocorreram em sua vida desde que se envolvera com tantos sujeitos de poder sequer podiam ser imaginadas pelas outras pessoas.

Desde a perda da mulher, o advogado tornara-se não apenas uma pessoa reservada, de poucas palavras. Era também um pai distante, limitando-se a conversar com o filho brevemente apenas durante jantares e cafés-da-manhã.

Era um tanto irônica a situação agora.

Pois era exatamente pelo bem-estar de seu filho que Geller tomara a decisão de estar ali hoje, disposto a abrir mão daquilo que levara anos para conquistar, incluindo não apenas sua reputação e carreira, mas sua própria vida.

Exalando um suspiro pesado, finalmente decidiu-se por adentrar o restaurante.

Este era localizado em um bairro de alta classe na cidade.

Atravessando o que parecia uma infinidade de mesas às quais as pessoas almoçavam e conversavam de forma comedida, Alastair Geller procurava com os olhos por quem provavelmente já estava à sua espera.

O homem brecou seus passos assim que em seu campo de visão notara a presença distante de seu cliente.

Colocou-se a caminhar até a mesma do mesmo.

Ao sentir que alguém fitava-lhe ali, em pé ao lado de sua mesa, Sebastian Lancaster abaixou o jornal que lia desinteressadamente e levou uma das mãos até o cigarro que pendia nos lábios, levantando os olhos para seu provável interlocutor.

Sorrow's ChildWhere stories live. Discover now