Capítulo III

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GARETH

Após ouvir o barulho da porta fechando-se estrondosamente atrás de mim, dirigi-me para a varanda. Observei o movimento das ondas tentando alinhá-los com minha respiração. Não aguentei ficar mais um segundo naquela sala, o ar lá era denso e eu não queria acreditar nas palavras de meu guardião.

Inspirei profundamente e soltei o ar lentamente. Nunca soube muito sobre o trabalho de Alastair, ele sempre mudava de assunto quando eu o perguntava, sempre fora muito discreto com seus clientes, nem mesmo falava ao telefone quando estava perto de mim. O que me deixava mais nervoso era que tudo fazia sentido. Eu sempre tive dúvidas sobre o trabalho de meu pai, já que ele nunca comentava nada.

A noite estava fria e calma, mas eu estava com vontade de pegar uma das armas que encontrei naquele maldito quarto e sair disparando balas por aí. Cerrei meus punhos, senti as pontas de meus dedos gelados o suficiente para me fazer querer entrar para o quarto novamente.

Esperava conseguir dormir, mas depois de tamanha revelação parecia impossível pegar no sono.

Quem era Sebastian Lancaster? Qual era a relação dele com meu pai? Havia tantas perguntas a serem respondidas, mas todas estavam trancadas e decodificadas na incógnita Sebastian.

Deitei-me em minha cama e fiquei pensando nos motivos pelo qual meu pai poderia ter vendido sua alma para o diabo daquela maneira. Lembrei-me vagamente de algumas coisas que ele me dissera quando eu era apenas uma criança.

A família de minha falecida mãe, Susan, era muito prestigiada em Portland. Eles eram chamados de "os reis do café" por ser a primeira empresa a importar café de nacionalidades diferentes e trazê-lo para nossas cafeterias. Susan sempre fora a queridinha de meu falecido avô, então nunca precisou trabalhar muito para ter uma vida boa. Ela e meu pai financiaram a cobertura a qual morávamos até o assassinato, mas um acidente aconteceu. Eu, Gareth Geller. Susan morreu em meu parto, após isso, a família de minha mãe parou de ajudar Alastair e a mim. Ele sempre estava trabalhando, nunca tinha tempo para nada e agora eu entendia o porquê.

Ele morreu como um traidor para quem havia o matado, mas como um herói para mim. Ele podia ter feito o que fez, mas teve seus motivos e o motivo principal era eu.

Olhei para o relógio que se encontrava pendurado na parede em frente à cama. Os ponteiros dourados mostravam o quão longa a noite fora para mim, já eram quatro horas da madrugada. Acabei dormindo vencido pelo cansaço.

O sol fraco despertou-me ainda cedo. Mesmo cheio de nuvens escuras no céu, o dia parecia um pouco mais claro que o anterior. Despi-me e cobri minha nudez com uma toalha presa em meu quadril. Fui em direção ao banheiro e liguei o chuveiro. Fiquei esperando que a água esquentasse encostado na parede, sentindo a superfície fria entrando em contato com minhas costas nuas. Pude ouvir alguém batendo em minha porta, mas ignorei. Despi-me por completo e entrei no banho.

A água deliciosamente quente tomou conta de todo meu corpo. Suspirei fundo e fechei os olhos. Aquele banho era o que eu estava precisando para conseguir pensar direito. Eu precisava tomar uma decisão, mas tinha de ser uma decisão madura. Eu tinha de aprender a lidar com minhas merdas e pensar seria o caminho mais fácil para esta decisão. As atitudes que tomei durante esta última semana iam contra a tudo que fiz em meus dezessete anos de idade. Iria me tornar um homem, as rebeldias de adolescente iam ter um fim.

Quando terminei de me banhar, sequei meu corpo com a macia toalha branca e voltei a prendê-la em meu quadril. Quando abri a porta do banheiro, pude ver as madeixas loiras que caiam até a altura do ombro de Sebastian, meu tutor se encontrava sentado na beira de minha cama encarando a porta. Assustei-me. Ele devia estar muito puto comigo por ter invadido seu arsenal na noite passada. Esperei pelo pior.

Sorrow's ChildWhere stories live. Discover now