Capítulo XIV

109 11 0
                                    

GARETH

Deixei a casa dos Watson com facilidade, em alguns minutos de caminhada já ficava impossível avistá-la. O bairro de Nob Hill era o típico lugar que atraía estrangeiros e visitantes. Era um bairro tranquilo para se caminhar de noite.

Eu ainda estava com medo de que Theodore Watson notasse meu sumiço logo e viesse atrás de mim, então apertei o passo. Havia uma farmácia vinte e quatro horas com um caixa eletrônico dentro. Seria uma boa oportunidade para sacar o dinheiro de meu cartão e pegar um ônibus para que eu pudesse me distanciar o mais rápido o possível dali.

Coloquei o capuz de meu moletom preto antes de adentrar o local. Havia apenas uma atendente e ela parecia estar mais dormindo que acordada. Retirei meu cartão da mochila e o coloquei no caixa. Eu podia sacar no máximo três mil e quinhentos dólares da máquina e o fiz sem hesitar. Coloquei todo o dinheiro dentro da mochila e saí da farmácia, praticamente sem ser notado.

A rua estava inconvenientemente iluminada, se caso Watson notasse, eu seria visto. Enquanto caminhava, avistei uma parada de ônibus com um automóvel já estacionado, pegando passageiros. Corri até alcança-lo. Não vi qual era o destino, apenas entrei. Paguei a passagem, de cabeça baixa para o cobrador e sentei-me no assento do fundo.

A viagem parecia não ter fim.
Era inacreditável que o pai de Sophie fazia parte de alguma organização criminosa e iria me entregar. Eu o conhecia desde novo, por mais que ele e meu pai não se dessem tão bem, ainda era possível viver em paz. A verdade era que, eu não poderia viver em paz. Eu jamais iria ter paz ou viver sem o medo da morte. Todos os dias eram repletos de arrependimento por não ter dado valor na vida que levava com Alastair, minha imaturidade e falta de experiência faziam-me colocar defeito em tudo o que tive.

Acabei pegando no sono e só despertei com o cobrador me avisando que era o ponto final. Desci rapidamente do ônibus, e me deparei com um local totalmente desconhecido e de pouca iluminação. Eu não fazia ideia de onde estava, mas aquele lugar me causava arrepios. As ruas eram estreitas e vazias, havia apenas três ou quatro botecos abertos e alguns hotéis de aparência envelhecida. Tinha três mil e quinhentos dólares em minha mochila e eu não sabia o que fazer. Pensei em ficar num albergue, mas talvez me procurassem lá. Vi alguns moradores de rua brigando num quarteirão próximo e me aproximei.

— Senhor, senhor! – um deles gritou para mim, em desespero – Este safado está tentando roubar minha comida. – pude ver um velho barbudo de gorro vermelho com um pote metalizado em sua mão sair correndo. Não fiz nada, só observei o outro homem se ajoelhar no meio da rua e colocar a mão sobre o estômago. Ele devia estar faminto.

- Ei, senhor. – o chamei. O homem estava vestido em trapos com uma sequência incontável de cachecóis envoltos em seu pescoço. Seus cabelos eram negros e emaranhados na altura dos ombros. Ele era mais jovem que a maioria, talvez estivesse vivendo esta vida há pouco tempo. O jovem olhou-me, expondo seus olhos verdes em meu campo de visão. Cheguei perto o suficiente para falar baixo e para que ele me entendesse. – Vamos, vou comprar-lhe algo para comer.

O homem se levantou e tocou meu ombro, com os olhos marejados.

— Me desculpe, mas eu ia compartilhar com meus colegas esta refeição. A maioria deles está doente e não estão em condições de conseguir sequer comida. – meu coração se apertou. Eu nunca havia estado nesta parte da cidade antes, mas aquilo não me assustava.

— Sem problemas, vamos comprar algo para seus colegas também. – tentei sorrir, mas queria chorar com a situação.

— J-jura?! – os olhos do jovem morador de rua fitavam-me cheios de lágrimas.

Sorrow's ChildDonde viven las historias. Descúbrelo ahora