Capítulo 48

8.3K 665 31
                                    



Malu.

Ouvi um grito assustado da Sofia e o Bernardo passar correndo pelo corredor no primeiro andar, larguei as coisas que segurava em cima da mesa e subi as escadas correndo, Bernardo estava segurando a Sofia no colo. Havia uma boneca sem a cabeça na cama dela, cheia de sangue, assustador... Coloquei a mão na boca assustada. Bernardo acolheu a Sofia que afundou o rosto em seu ombro e chorava entre soluços.

— O que é isso? — Falei para mim mesma, peguei a boneca e puxei o lençol da cama para tirar aquele sangue todo.

— Eu não sei, Malu — Falou nervoso e me deu entregou a Sofia.

Segurou minha mão e me arrastou até nosso quarto.

— Fica aqui com ela e não sai — Bernardo me empurrou devagar.

— Bernardo, faz 5 anos... Você acha que... — Me interrompeu fechando a porta na minha cara, escutei o barulho da chave.

Ótimo, eu velha desse jeito e ele me tratava como a mesma menina de quando tinha 19 anos.
Sentei na cama e a Sofia se encolheu nos meus braços, fiz alguns carinhos e tentei acalma-lá com história de criancinhas até ela pegar no sono.
Eu não queria que acontecesse tudo de novo, igual a 5 anos atrás, o mesmo terror que havia sido, não poderia ser a mesma pessoa, ele havia morrido como todos falavam.

(...)

Fiquei ali sentada por uns 15 minutos e a porta se abriu, meu coração disparou e o Bernardo estava lá, ajeitando uma arma na cintura, ele tinha uma, mas depois que a Sofia nasceu ele nunca mais havia tocado e eu nem sabia que ainda existia por todo esse tempo.

— Vem, vamos sair daqui — Falou pegando a Sofia com cuidado para não acorda-la.

— Pra onde vamos? — Perguntei me levantando.

— Para outra casa, pega só o necessário que depois voltamos — Falou.

— Bernardo, calma — Segurei na sua mão e ele me olhou.

— Vai rápido, Malu — Soltou nossas mãos e puxou uma mala, jogando algumas coisas enquanto segurava a Sofia com o braço esquerdo.

O olhei por alguns segundos e logo fui colocando algumas roupas minha na mala, coisa necessária.  Bernardo me seguiu até o quarto da Sofia para pegar as coisas dela, peguei quase tudo e ele colocou tudo no carro. Eu nunca tinha ido na outra casa, eu só sabia que ele tinha, não só essa como várias... Mas a gente nunca tinha saído dessa.

Estávamos dentro do carro e o Bernardo dirigia nervoso, apertava o volante com força às vezes. Sofia dormia no banco de trás.

— Você não precisa ficar assim — Falei e ele me olhou quando parou no sinal.

— Não dá pra arriscar, eu não só tenho você, eu tenho uma filha. — Disse grosso.

— Mas a gente nem sabe... — Fui interrompida.

— Ele vai me caçar, Malu. Até eu morrer, você tá me ouvindo? — Gritou e eu olhei para trás rápido. Sofia tinha acordado. Ótimo.

Eu o olhei e ele bufou alto.

— Pra onde estamos indo? — Perguntou bocejando e coçando o olho.

— Em um parque, filha — Bernardo falou e ela pulou no banco.

Sofia seguiu o caminho imitando a peppa e cantando galinha pintadinha, essas musicas ficavam na minha cabeça de tanto que ela cantava e o Bernardo às vezes assobiava.

Bernardo estacionou em frente ao um parque público movimentado, onde várias crianças brincavam. Sofia soltou um grito e ficou louca.

— Um parque? Que ótimo! — Falei rindo e ele me olhou.

— É pra ela tentar esquecer — Sussurrou.

Desci do carro e logo em seguida peguei a Sofia que me deu a mão, estava tímida por ter tanta gente, meninas da idade dela brincando.

— Eu não trouxe nenhum brinquedo — Falou emburrada.

— Agradece porque eu te trouxe, eu ainda to com o teu xixi no meu corpo, mijona — Bernardo disse e ela deu língua.

— Maria Sofia! — A repreendi.

— Faz de novo que eu não vi, Sofia — Bernardo falou grosso e ela ficou com medo.

Me sentei em um banco com o Bernardo e a Sofia ficou correndo para um lado e outro perto da gente, brincando sozinha e fazendo birra com algumas meninas que passavam de bicicleta perto dela. Eu falava que não podia e o Bernardo ensinava o errado, dizia para derrubar as coitadas.

Ouvi um barulho de bomba forte perto de gente, o que me assustou e a Sofia também.

— Medrosa — Bernardo falou e segurou o meu rosto forte me puxando para ele, me deu um selinho demorado. Logo em seguida escutei outro barulho.

— O que é isso? São João? — Perguntei rindo e ele estava pálido, me olhando com os olhos arregalados. — Ei, o que houve? — Perguntei.

Bernardo levou seus olhos para o peito e colocou a mão devagar, estava escorrendo um líquido vermelho. Sangue!

— Bernardo, o que é isso? — Falei gritando fazendo todo mundo olhar pra mim.

Subi sua blusa rápido para ver e tinha um buraco de dois dedos no máximo, gritei desesperada.

— SOCORRO! — Gritei e algumas pessoas vinheram até mim.

— A Sofia — Tossiu enquanto falava e sua boca sangrava.

— BERNARDO — Gritei sentindo seu corpo ficar mole.

— Eu já chamei a samu, moça — Disse um homem que eu não prestei atenção, algumas pessoas filmavam e outras corriam.

Procurei rapidamente a Sofia com os olhos que estava gritando desesperada na minha frente, pedindo ajuda as pessoas. Tudo girava na minha cabeça, tudo parecia um filme. Bernardo foi fechando os olhos e sua camisa já estava cheia de sangue. Eu o segurava em meus braços e gritava para Deus não o levar agora.

——

Penúltimo capítulo :(

OBSESSÃO. (Finalizada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora