Capítulo Vinte

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- Eu tenho um avô? - perguntei, surpresa. Henrique nunca comentou sobre ter um pai e eu também nunca perguntei. Eu meio que ignorei sua existência.

O homem riu e respondeu com uma voz calorosa.

- Tem sim, minha querida. Sinto muito que eu não tenha falado com você antes, mas meu filho achou melhor dar um tempo pra você lidar com toda a confusão em sua vida.

Eu não sabia o que responder. Era tudo tão estranho. Ele parecia ser um homem bom e tão diferente da esposa.

- Acho que estamos todos com fome, não é? - ele virou-se para o resto da sala. - Vamos almoçar.

Pedro, seria muito estranho chamá-lo de vô!, permaneceu ao meu lado e me acompanhou até a sala de jantar. Havia uma grande mesa onde nos acomodamos, Melissa estava à minha esquerda e Sofia à minha direita. Ângela sentou-se em minha frente. Rute estava à direita da cabeceira. Ótimo! Eu não sofreria uma indigestão em ter que comer olhando pra cara dela.

Duas mulheres apareceram e começaram a distribuir os pratos. O cheiro me atingiu e me perguntei se eu estava ficando louca, mas vi que realmente era quando o prato foi depositado em minha frente.

- Espero que esteja do seu agrado, Camila. - levantei os olhos e observei o meu avô sentado a cabeceira com um sorriso no rosto.

- O que é isso? - Melissa questionou, olhando para o prato como se estivesse vendo uma lesma rastejando.

- Caruru. - murmurei. - Coma. Você vai gostar.

Ela experimentou um pouco do vatapá e eu soube que tinha gostado ao ver sua cara satisfeita.

- Nossa! Isso é muito gostoso.

- Você precisa experimentar o acarajé. Vai te fazer chorar de tão bom.

Voltei minha atenção ao meu prato e levei a comida a minha boca. Há quanto tempo eu não comia essa maravilha? Meu coração se apertou com as lembranças boas que me trouxe e a comida tornou-se difícil de engolir. Aquelas boas lembranças eram, de certa forma, dolorosas. O rosto de minha mãe cravou-se em minha mente, sua expressão demonstrando o seu amor e preocupação quando me despedi dela naquela sexta-feira.

- Com licença. - murmurei enquanto me levantava da mesa, o prato quase cheio, e corria para o quarto.

Deixei que as lágrimas molhassem o travesseiro, com a esperança de que aquele aperto em meu coração diminuísse. Eu estava surpresa. Pensei que eu não era mais capaz de chorar por minha mãe.Já se passaram sete meses, quando isso iria parar?

Fiquei tensa ao sentir uma mão acariciando meus cabelos.

- Está tudo bem, Camila. - ouvi o meu pai falar.

Minha respiração, aos poucos, se acalmou e eu me virei para encará-lo.

- Não devia ter vindo atrás de mim. - murmurei. - Você não terminou de almoçar.

- Eu sou seu pai, Camila. Eu me preocupo com você. Não quero vê-la desse jeito.

Me sentei na cama e o encarei, irritada. A raiva era muito melhor que a tristeza.

- Por que você quer que eu diga o tempo todo o que estou sentindo? Eu não gosto disso. Não sou do tipo que se abre.

- Não. - ele balançou a cabeça. - O problema aqui não é você ser fechada, mas sim, você não conseguir confiar em ninguém.

- Ah, não me venha com essa. O que vai vir agora? Uma consulta ao psicólogo? Não me trate como se eu fosse uma criança traumatizada, só porque eu vi algumas merdas.

Um Pai em Minha VidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora