Capítulo Catorze

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Algumas semanas se passaram e não houve nenhuma mudança significativa. Eu continuava evitando uma aproximação maior com a minha nova família, especialmente o Henrique.

Ele passava o dia inteiro na empresa e quando chegava, à noite, eu já estava no quarto, ficava lendo ou trocando mensagens com minhas amigas. Durante a manhã, dizíamos um "Bom dia" apressados e logo saíamos. Ele pra empresa, eu pra escola. E os dias se seguiam assim. De uma certa forma, eu estava bem. Não estava plenamente feliz, mas não estava mais me sentindo como se toda desgraça no mundo fosse cair sobre mim.

Era uma manhã de sexta-feira, graças a Deus, quando a calmaria em minha vida chegou ao fim. Eu estava no colégio e tinha ido beber uma água antes que a próxima aula começasse. Foi quando o meu celular tocou.

Quando vi o nome do Otávio, senti meu coração gelar. Eu sabia que só havia dois motivos para uma ligação dele: minha avó ou o meu padrasto. E nenhuma das opções era agradável nesse momento.

- Alô?

- Minha doce Camila! Como você está? - ouvi sua voz alegre perguntar.

- Estou bem. O que aconteceu? - fui direto ao ponto.

- Ah, eu tenho ótimas notícias! O Leo acordou do coma! Ele vai fazer alguns exames, mas os médicos disseram que não há mais nenhum risco. Não é uma ótima notícia?

Não. Não era uma ótima notícia. Deus que me perdoe, mas o meu desejo era de que o meu padrasto nunca se recuperasse desse coma. Tudo que eu desejava era ouvir a notícia de sua morte.

- Alô? Camila?

- sr. Otávio, eu tenho que desligar. - consegui falar e logo desliguei o celular.

Virei-me para voltar pra sala e acabei me esbarrando com alguém que derramou um copo de água em mim. A frente da minha farda ficou totalmente encharcada.

Levantei o rosto e dei de cara com Viviane, minha querida colega de sala. Nós vínhamos nos provocando desde o primeiro dia de aula, aquele era, realmente, um péssimo momento pra eu ouvir algum desaforo daquela menina.

- Eu sinto muito, Camila. Foi um acidente! - observei seu sorriso descarado e não pensei duas vezes. Caminhei até o filtro, enchi um copo de água e derramei tudo sobre o seu falso cabelo liso.

Dei um sorriso de satisfação ao ver sua expressão chocada.

- Acho que escorregou. - debochei.

- Sua idiota! - seus olhos quase saltaram de raiva. - É mesmo uma caipira, igualzinha a vadia da sua mãe!

Respirei fundo, tentando recuperar minha calma, já inexistente.

- Do que você chamou minha mãe? - perguntei entredentes.

- Vai dizer que é mentira? O meu pai trabalha na Enterprise. Ele ouviu os comentários sobre o seu pai ter feito um teste de DNA antes de assumir você. Aposto que sua mãe não vale nada. E você conhece o ditado: filho de peixe, peixinho é.

Seja lá o que ela fosse dizer em seguida, não conseguiu. Puxei Viviane pelos cabelos e ela, imediatamente, começou a gritar.

- Cale a boca! - gritei e ela encolheu-se, assustada. - A caipira aqui vai te dar uma pequena lição.

Puxei seu cabelo com mais força e ela voltou a gritar histérica, fazendo com que minha raiva aumentasse ainda mais. Senti a dor do meu cabelo sendo puxado e acabei afrouxando o aperto no seu. Aproveitando-se de meu descuido, a garota tentou acertar meu rosto com um tapa e acabei sendo obrigada a soltar o seu cabelo para segurar o seu braço antes que atingisse o meu rosto.

Um Pai em Minha VidaWhere stories live. Discover now