Capítulo Oito

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Os dias passaram-se rapidamente e quando percebi o ano de 2015 já tinha terminado. Já era sábado, fazia dez minutos que eu estava deitada de bruços na cama, encarando o envelope que decidiria o meu futuro.

Eu sabia que minha mãe não mentiria pra mim, mas eu não podia evitar aquele pedacinho de dúvida que surgiu lá do fundo e então, me sentia culpada por ter qualquer dúvida sobre a minha mãe. Eu deveria abri-lo, é o que qualquer pessoa normal faria, mas estou morrendo de medo das possíveis consequências desse resultado.

Lembrei-me da conversa que tive no dia anterior com as minhas amigas.

Flashback On

Já era uma da manhã quando minha vó e eu subimos, cada uma para o seu quarto. Tínhamos assistido as explosões de fogos no céu, foi tudo tão lindo.

Assim que fechei a porta do quarto do hotel, meu celular começou a tocar. Enfiei minha mão no bolso da calça e o peguei, era a Bia. Sorri automaticamente e atendi.

- Feliz Ano Novo! - elas gritaram em coro.

- Feliz Ano Novo! - gritei animada em resposta. - Estão todas aí?

- Sim. - responderam juntas.
Suspirei entristecida.

- Eu queria que vocês estivessem aqui, eu estou morrendo de saudades. - choraminguei. Fui até a cama e me joguei, deitando de costas.

- Nós também estamos com muita saudade. Não existe um quarteto de três. - murmurou Suzana. Sorri divertida.

- Sim, nós estamos morrendo de saudades, isso é um fato. Mas nós também ligamos porque temos um assunto de força maior. - Elisa falou firmemente.

- Li tem razão. - ouvi Bia pronunciar-se.

- O que houve? - indaguei curiosa.

- Nós sabemos que mesmo com o teste de paternidade provando que você é filha dele, ainda irá pairar a sombra da traição da sua mãe. - Elisa explicou - Não fique irritada! - falou rapidamente, antes que eu protestasse.

- O fato é que só há uma forma de esclarecer esta situação. - Bia concluiu.

- Como?

- O diário da sua mãe! - Suzana exclamou, entusiasmada. Abri a boca, surpresa. Eu havia me esquecido completamente do diário da minha mãe.

- Suponho que você também tenha esquecido desse grande fator. - Elisa murmurou, chateada. Franzi o cenho, surpresa.

- Eu estava muito envolvida com as últimas mudanças. - justifiquei-me.

- Não, não. Eu não estou culpando você. - explicou-se Elisa. - Na verdade, estou chateada comigo mesma por não ter me lembrado disso.

Bia gargalhou.
- Foi a Suzie quem lembrou-se.

- Isso é sério? - perguntei, também já rindo.

- Mas é claro! - Suzana afirmou. Bia e eu continuamos a rir, Li e Suzie tentaram manter-se sérias, mas ao ouvir o riso da Bia, fracassaram miseravelmente.
Após vário minutos, conseguimos nos controlar.

- Meu estômago está doendo. - contei.

- É duas! - Bia confirmou.

- Três! - Li também concordou.

- Quatro! - falou Suzie. Eu sabia que, neste momento, as três estavam deitadas, espalhadas no chão do quarto da Suzie. Seus pais eram os mais liberais e nunca brigavam, seus irmãos não moravam mais em casa. A casa dela era como uma casa da árvore que toda criança sonha ter.

- Eu estou com medo. - sussurrei.

- Do que você tem medo? - Elisa perguntou.

- Eu não sei o que vou encontrar. Tenho medo de saber que tipo de pessoa ele é, tenho medo dele ou de sua família não me aceitar. Tenho medo dele não me tratar igualmente como faz com a outra filha. - confessei. - Eu não sei nem como vou agir.

- Como você imagina esse encontro, Cami? - perguntou-me Bia.

- Minha avó, provavelmente, irá ligar para ele e iremos nos encontrar em algum lugar. Eu me sinto completamente insegura com esta situação.

- Você só precisa ser você mesma, Camila. - disse Bia. -  Será difícil no início, mas, pouco a pouco, vocês irão aprender a lidar com essa relação.

- Eu espero que sim. - falei, sem muita convicção.

- A sua animação me choca. - Elisa debochou. - Pelo menos, ele não é o cretino do Leonardo.

- Vai saber. - retruquei.

- Camila! - as três me reprimiram.

- Tudo bem! Desculpem-me.

Flashback off

Rapidamente, peguei o envelope e abri. Passei meus olhos por todos aqueles dados que só os médicos entediam e li o laudo. Não pude evitar o suspiro de alívio.
Como mágica, a porta abriu-se e minha avó entrou.

- E então? - perguntou imediatamente.

- Eu disse, minha mãe não mentiu pra mim. - ela sorriu, visivelmente aliviada.

- Eu vou ligar para o Henrique. - anunciou. No minuto em que ela proferiu estas palavras, a ideia surgiu em minha mente.

"Você precisa ser você mesma." As palavras da Bia me iluminaram.

- Vó, espere. Eu tenho uma ideia melhor.

- Que ideia? - olhou-me desconfiada.

- Um encontro marcado só vai nos causar constrangimento. Eu quero fazer uma bela surpresa para o meu querido pai. - sorri com doçura.

Um Pai em Minha VidaWhere stories live. Discover now