Capítulo Sete

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Camila

Acordei de uma noite sem sonhos, espreguicei-me e gemi, satisfeita,  ainda com os olhos fechados.

- Parece que dormiu muito bem. - arregalei os olhos, assustada, ao ouvir a voz. Minha avó estava em pé, ao lado da cama,  me observando com um sorriso divertido no rosto.

- Está tentando me matar do coração? - sentei-me na cama, me encostando na cabeceira. De repente, seu sorriso sumiu e ela olhou-me com seriedade.

- Nós temos que conversar. - disse, já sentando-se em minha cama. Imediatamente, me senti apreensiva.

- O que foi? - perguntei ansiosa.

- Nós duas não gostamos de enrolação, então vamos direto ao ponto. Eu fui até o prédio onde o seu pai trabalha e nós conversamos. Ele me contou uma história diferente sobre o que aconteceu entre ele e sua mãe, então eu propus algo que acabaria com as nossas dúvidas.

- O quê?! Espere! Quando você falou com ele? - Respirei fundo, preciso me manter calma.

- Ontem à noite. Sinto muito se queria estar presente, mas pensei em resolvermos o mais rápido possível tudo isso.

- E então? - perguntei impaciente.

- Você sabia que o Leonardo era o melhor amigo do Henrique? - abri a boca, surpresa.

- Como é que é? - perguntei atordoada.

- Alguma vez a Lili contou por que eles se separaram? - ela insistiu.

- Eles não terminaram, ele abandonou... - comecei, mas ela interrompeu-me.

- Henrique disse que sua mãe traiu ele. - ela pausou, esperando que eu absorvesse suas palavras, mas quando viu que eu permaneci calada, continuou.

- Henrique flagrou a Lili e o Leo juntos e ela jogou na cara dele que você não era sua filha. - quando compreendi o significado de suas palavras, arregalei os olhos. Eu não podia acreditar que ele tinha inventado isso. Minha mãe é passiva, fiel, sincera. Ela nunca teria mentido pra mim, eu nem mesmo podia cogitar a ideia de ser filha daquele homem com quem ela se casou. Eu o odiava com todas as minhas forças.

- Isso é mentira! - sussurrei apavorada.- É mentira! - consegui falar mais firme desta vez. Fechei os olhos e contei mentalmente até cinco, quando os abri estava sob controle novamente. - Vamos fazer um teste de paternidade. - decidi. - Se ele se recusar, iremos recorrer à justiça.

- Não vai ser preciso, Camila. Eu já falei com o Henrique sobre isso e ele concordou em fazermos um exame. - Relaxei.

- Quando?

- Hoje, às 09:30.

- Mas já? - não pude evitar demonstrar minha surpresa.
Vó sorriu e arqueou a sobrancelha.

- Você parecia bem disposta há alguns segundos. Não está com medo, não é?

- É claro que não. - respondi rapidamente.

- Então, apronte-se, mocinha. Não podemos perder o horário. - falou, já se levantando. Peguei o meu celular, que estava quase caindo da cama e olhei a hora.

- Mas são sete horas! - reclamei. Minha avó, que já estava abrindo a porta, virou-se.

- Isso aqui não é nenhuma cidadezinha do interior, Camila. Mas não se preocupe, tenho certeza de que você logo se acostumará com o trânsito de São Paulo. - sorriu com deboche e saiu do quarto.
(...)

- Pode abrir os olhos. - a enfermeira avisou-me, tentando conter o riso. Abri e vi que a seringa não estava mais no meu campo de visão.
Sorri, envergonhada,  para a simpática enfermeira e me levantei da cadeira onde ela havia retirado o meu sangue.

- Eu não costumo ser tão medrosa. - retruquei.

- Tenho certeza que não. - ela lançou-me um olhar enigmático. Mas antes que eu fizesse qualquer pergunta, ela voltou a sorrir.

- Não se preocupe, eu morro de medo do escuro. Mas não saia espalhando por aí. - ela piscou o olho e eu tive que rir. Ela devia ter uns 30 anos, era engraçado ver um adulto admitir uma fraqueza.

- Feliz Natal, Camila. - ela me acompanhou até a porta da pequena sala e me deu um abraço, despedindo-se.

- Feliz Natal, ... - me calei, percebi que não sabia o nome dela.

- Ângela. - respondeu a minha pergunta muda.

- Feliz Natal, Ângela. - sorri.

- Eu espero vê-la logo, minha querida. - ela lançou-me aquele olhar novamente, mas não a questionei.

Fui a procura da minha avó, não podia abusar da sorte. Ela marcou o horário do meu exame mais cedo, para que não precisemos cruzar com o Henrique, mas é melhor prevenir do que dar de cara com ele. Vai que ele seja dessas pessoas que odeiam atrasos e então chegam mais cedo que o horário determinado?
Encontrei a minha avó conversando com a recepcionista, ela me viu, finalizou sua conversa e veio em minha direção.

- Vamos? - chamou.

- Quando sai o resultado? - indaguei.

- Dia dois de janeiro. - estranhei,hoje é dia dezenove, pensei que esses testes de paternidade demorassem bem mais. Apenas dei de ombros, deixando o assunto de lado.

- Vamos logo. - respondi a sua pergunta anterior. Quanto mais rápido sair daqui, melhor.

Um Pai em Minha VidaWhere stories live. Discover now