Capítulo Dois

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Lili

A sexta-feira chegou, Camila saiu quando o sol mal tinha nascido.
Já era hora do almoço, a qualquer momento o Leonardo iria chegar e eu me encontrava aqui, deitada sobre a cama, no meu quarto. No nosso quarto, me corrigi mentalmente.

Ainda era difícil aceitar a convivência com esse homem, eu era obrigada a viver com um homem que eu odiava, que eu tinha asco. Suspirei, hoje as coisas seriam ainda mais complicadas.Teria que aguentar ele e mamãe juntos. Dona Leocádia o adora, ele é o filho homem que ela sempre quis. E já que não podia ter esse filho, fez de tudo para que ele se unisse a sua filha única.

Escutei a chave na fechadura e me levantei rapidamente, no minuto seguinte ele apareceu na porta do quarto.

- Olá, meu amor - ele caminhou em minha direção sorrindo, quando fez menção de me beijar desviei o rosto e ele acabou beijando minha bochecha.

-Eu vou pôr o almoço, quero chegar a casa de minha mãe antes de escurecer.

-Não seja assim, Lili - ele segurou firmemente os meus braços, senti a cama atrás de mim, se eu fizesse algum movimento ele me empurraria sobre a cama.

-Como quer que eu seja de outra forma? Você sabe que eu o odeio, que nunca quis me casar com você.Se a minha mãe não tivesse feito o que fez, eu nunca teria me envolvido com você.Mas isso vai acabar, a Camila já tem 15 anos, assim que ela atingir a maioridade, eu vou me livrar de você. Eu só tenho que aguentar isso por mais três anos.

Antes que eu pudesse arrepender-me por proferir aquelas palavras, senti o tapa forte em minha bochecha.Caí sobre a cama e ele subiu em cima de mim, colocando uma perna em cada lado do meu corpo. Ele segurou o meu queixo e olhou com ódio em meus olhos.

-Você não entende? Eu nunca vou deixá-la ir, você é minha! Eu prefiro matá-la antes de deixá-la livre para se envolver com outro homem. - Estremeci, eu tinha certeza que ele não hesitaria em cumprir sua palavra. Sua mão desceu até o meu pescoço e seu olhar acompanhou o movimento. De repente, Leonardo me soltou e saiu de cima de mim. Estendeu sua mão e aceitei antes que seu humor explodisse novamente.

-Agora, vamos almoçar e depois você vai cuidar desse machucado -sussurrou, com um olhar suave.
(...)

Estávamos no carro há mais de uma hora. Leonardo conversou o tempo todo, na verdade isso era mais um monólogo do que uma conversa, já que somente ele falava enquanto eu respondia de vez em quando com alguns murmúrios. Ele só ficou em silêncio quando eu virei o meu rosto para o outro lado do carro observando a paisagem e fechei os olhos, fingindo dormir.

Eu aguentei essa vida durante quinze anos, pensei amargurada. Eu só precisava aguentar por mais três e então, as ameaças dele e da minha mãe não surtiriam mais efeito. Se aquele maldito dia nunca tivesse acontecido, eu ainda estaria casada com o Henrique. Eu seria amada de verdade, Camila teria um pai de verdade.Se eu não tivesse sido tão orgulhosa...
(...)

Acordei com alguém chamando meu nome, virei o rosto e encontrei o Leonardo me observando com um sorriso.

- Já chegamos - franzi o cenho -  Você dormiu durante todo o caminho.

Saí do carro e ele me seguiu, adiantei-me e toquei a campainha.
Enquanto esperávamos, observei a casa onde passei minha infância e parte da minha adolescência, o lugar lembrava a personalidade da mulher que lá vivia. Mesmo sendo um bairro chique, a casa se destacava, era linda e intimidante.

-Olá, senhora Lili, senhor Leonardo -Maria, a empregada, abriu a porta e nos cumprimentou. A abracei e ela sorriu, embaraçada.Maria trabalhava ali há anos, ela quem realmente me criou.

-Não é de bom tom ficar abraçando as empregadas, Liliane - minha mãe falou enquanto descia as escadas.

-Também estava com saudades, mamãe - respondi, irônica. Ela beijou-me no rosto e em seguida abraçou o Leonardo, revirei os olhos. Sinceramente, esses dois se merecem.

-Você está cada dia mais linda, Leocádia- ele gracejou.

-São os seus olhos, querido - ela respondeu sorridente. - Subam, tomem um banho e descansem até a hora do jantar.Viajar por três horas de carro é bastante cansativo.Ah, onde está a Camila? - ela finalmente lembrou-se de perguntar.

-Ela viajou com a turma do colégio e alguns professores. Uma viagem de férias!

-Ah, que ótimo! -respondeu simplesmente.
(...)

O domingo finalmente chegou, já não aguentava mais mamãe e Leonardo atuando na peça da família perfeita.Estava morrendo de saudades da minha garotinha, só queria vê-la e abraça-la.

- Vocês precisam vir logo, novamente. - Estávamos em frente a casa de minha mãe, nos despedindo.

- Não demoraremos a fazer uma nova visita, Leocádia - suspirei, queria entrar de vez nesse carro e voltar para o meu lar, mesmo sabendo que a Camila só chegaria amanhã de manhã.
Mamãe abraçou-me e beijou minha face.

-Vocês dois tratem de me dar mais netos, uma criança nascida dos dois seria perfeita.

-Sabe que isso nunca irá acontecer -falei, irritada. Ela me devolveu o olhar e antes que alguma de nós desse início a uma discussão Leonardo interferiu.

-É melhor irmos logo.Até mais, Leocádia. - ele beijou sua mão enquanto ela lhe sorriu e eu caminhava diretamente para o carro.

-Por que falou daquele jeito? - ele finalmente perguntou. Uau, ele conseguiu se segurar por muito tempo, passou os últimos 20 minutos segurando o volante do carro com força. - Fez parecer que não temos uma relação estável, que não tem interesse em continuar casada comigo.

O olhei chocada.

-Você é doente! É exatamente assim que as coisas são. Como pode querer continuar a viver com uma mulher que o odeia? Se a minha mãe não tivesse ameaçado me tirar a Camila eu nunca teria casado com você.

-Quando você vai entender? Nós somos todos uma família - ele olhou-me furioso - Eu sou o pai da Camila e você é minha mulher, isso não vai mudar!

Olhei a estrada e gritei. Após a curva, que havíamos acabado de virar, vinha um carro em alta velocidade. Leonardo conseguiu desviar do outro carro, mas antes que eu registra-se esse pensamento, tudo virou uma confusão, gritei apavorada e senti minha visão escurecer.

Um Pai em Minha VidaWhere stories live. Discover now