Capítulo Três

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Camila

A professora Lourdes levantou-se do primeiro assento do ônibus e virou-se para nós assim que este parou em frente ao colégio.

Lourdes é uma de nossas professoras favoritas. Ela tem uns 30 anos de idade, seu cabelo tingido de loiro escuro não passa da altura dos ombros e tem os olhos da cor de chocolate, é sempre alegre e divertida. Ela ensina história e tornou esta matéria a favorita de muitos alunos.

- Meninos e meninas! - todos calaram-se e prestaram atenção -  Antes que saiam quero lembrá-los que devem passar na secretaria do colégio e pegar os papéis para a rematrícula. Então, saiam calmamente e aqueles que estão atrás não ultrapassem os que estão a sua frente.

Ela desceu do ônibus e os alunos foram saindo em ordem. Continuei sentada, esperando a maioria dos meus colegas descerem, pois estava com minhas amigas no último assento do ônibus, que era a única forma de sentarmos as quatro juntas.

- Ela fala como se fôssemos um bando de crianças - Suzana reclamou.

- Você sabe que se ela não tivesse falado nada teria sido a maior bagunça - lembrei.

- Vamos logo - chamou Bia tentando não rir.Nos levantamos e saímos.

Elisa, Bia, Suzana eu somos amigas desde o sexto ano do ensino fundamental. Apesar das personalidades completamente diferentes, nós somos muito unidas.

Elisa é a mais calma do grupo, por mais irritada que ela seja nunca é agressiva ou sequer aumenta o tom de voz. Ela é bem magra, o que a chateia bastante, é loira natural e tem lindos olhos verdes.
Bianca é a mais divertida, é alegre e ri muito facilmente, o que faz com que as pessoas ao seu redor também riam, pois ela tem a risada mais engraçada do universo, parece uma hiena engasgada. Mas ela não vive em um estado imutável de bom humor, tenho pena daqueles que pisam em seu calo. Nós costumamos brincar que ela é a representação da mistura de raças no Brasil, pois sua pele é muito pálida enquanto seu cabelo castanho escuro é enroladinho e bem cheio.
Suzana é a mais amável e sensível, nós sempre fazemos piada a seu respeito por ela ser meio lenta. Ela é loira, o que é bem irônico, tem olhos castanhos e é a mais alta do grupo, o que não é grande coisa já que somos todas baixinhas.

Duas garotas estavam saindo da secretaria quando chegamos.

- Bom dia, Júlia! - saudamos juntas a secretária.

- Bom dia, meninas! O que acharam da viagem? - perguntou curiosa.

-Foi maravilhoso!

-Incrível!

Começamos todas a falar sobre os lugares que visitamos, quando percebi um movimento pela minha visão periférica na sala da diretora. Olhei para lá e estaquei, chocada e confusa, quando vi quem estava lá. Seu cabelo cinzento estava mais curto, na altura do queixo, estava usando um vestido preto e o olhar que eu conhecia bem, duro e altivo.

- Vó? Aconteceu alguma coisa com a minha mãe? - oh meu Deus, será que aquele cretino havia machucado ela pra valer?

-Temos que conversar - respondeu simplesmente. A diretora caminhou em minha direção e tocou em meu ombro.
Olhei para o seu rosto, ela me olhava com tristeza. Franzi o cenho, a diretora sempre foi tão severa, mas agora estava ali, triste e tentando me transmitir algum conforto que eu não entendia o porquê.

- Use minha sala pelo tempo que precisar - informou.

Olhei para a porta, mas minha avó já havia entrado na sala, me virei para as meninas que me olhavam com preocupação.

-Eu volto logo - informei.

-Estaremos aqui esperando - Elisa sorriu me encorajando.

Virei-me e caminhei em direção a sala.
Nunca havia entrado na diretoria, não era algo que algum aluno desejasse.
Ela era bem pequena, como esperado em uma escola do inteiror. Havia a mesa da diretora, a cadeira onde ela sentava-se e duas cadeiras em frente a mesa, para visitantes. Havia também duas estantes cheias de livros, próximas a mesa da diretora. 

Um Pai em Minha VidaWhere stories live. Discover now