- P...prec...preciso que to...tomes conta da Ava. – não queria olhar para ele. Mal conseguia falar e tinha o corpo a tremer, e aquilo fazia-me muita confusão. – Não a deixes sozinha nun...nunca. O Matt quer tira-la de ti.

- A Ava não é minha Carl. No mínimo ela pertence-te. – revirei os olhos.

- Não, ela minha não é mais. Mas ela pode ser t...tua.

- Não Carl. Isso nunca vai acontecer. – encarei-o depois de um longo suspiro. – Eu nunca quis estar com a Ava da maneira que as pessoas querem. Nem sei como deixei as coisas chegarem a este ponto, mas elas chegaram. Se quero que ela agora se vá? Não. Mas também não sei o que quero, honestamente. E não sei porquê, faz-me muita confusão que não estejas zangado comigo com tudo o que se passou. Não entendo e isso deixa-me de certo modo zangado, porque estou habituado a que aconteça de cada vez que faço algo, que parece que é uma rotina.

Calei-me e não se ouviu um único som entre nós os dois. De um momento para o outro mudava a minha maneira de agir e ficava totalmente desesperado. Tanto tinha certezas, como a seguir as perdi-a.

Talvez eu não quisesse admitir o que se estava a passar comigo. Eu queria ficar neutro em relação a ela, mas não podia. Porque se antes era eu que a rejeitava, naquele momento era ela que o fazia comigo, e eu sentia-o da maneira que ela antes senti-a.

O problema das pessoas é que deixam escapar as oportunidades. Foi o que eu fiz.

- Eu sei que tu não és assim Harry. Eu consigo ver. – o Carl não me deu alguma oportunidade de responder.

Se houve pessoa que não mereceu nada daquilo que lhe aconteceu, foi ele. Desde o primeiro, até ao último dia.

As despedidas fizeram-se de maneira muito rápida. Fui o primeiro a ir para fora, enquanto que todos os outros ficaram lá dentro. Não queria assistir a mais lágrimas, muito menos se fossem vindas da Ava.

O meu telemóvel tocou. Peguei nele e deslizei o dedo pelo ecrã depois de ver o nome do John.

- Meu, onde é que te meteste? E a Ava, e a Ingrid? O que é que se passa? – afastei o telemóvel da orelha. Tinha sido um erro atender a chamada.

- Vamos com calma John. – apertei a cana do nariz. Era irónico pedir que alguém estivesse com calma quando eu me chateava por ma pedirem.

- Com calma. – ele repetiu. – Então vamos lá. Primeiro. Onde está a Ava?

- A Ava está comigo.

- E onde é que vocês estão? – perguntou, dando ênfase à última palavra. – Eu preciso que ela venha trabalhar, eu não consigo dar conta de tudo sozinho.

- A Ava não vai mais trabalhar. – olhei em volta. Aquela cidade era mais rica do que Carson. Estávamos a milhares de quilómetros de distância e eu não queria nunca mais lá voltar, só para destruir o que me consumia. – Nós estamos no Maine.

- O quê? – ele perguntou demasiado alto. – Como assim vocês estão no Maine? A Ava tem um contrato comigo, e a Ingrid também.

- John, presta atenção. – suspirei. – Nós. Não. Vamos. Voltar. Entendido? Nós estamos a ser perseguidos no momento, não podemos ir para o sítio onde melhor nos conhecem. Tens de ignorar a existência do contrato, tens de fingir que não sabes quem somos.

- Mas porquê? O que é que vocês fizeram?

- Nós não fizemos nada, eu é que fiz tudo. – não podia, não podia cair na asneira de lhe contar a verdade. – Ouve. Nós não podemos voltar aí, ao menos enquanto eu não resolver um assunto. Preciso de me mantenhas ao corrente da situação. Se for aí um homem chamado Matt, tu tens de me ligar e dizer o que ele te disse ou perguntou.

- Eu não pergunto o nome aos meus clientes. – constatou com ironia.

- Eu envio uma fotografia, mas tens de me prometer que o vais fazer. É importante, é muito importante.

Acabei por desligar, antes que fosse atingido por mais perguntas.

O John poderia ser uma grande ajuda, se o Matt não chegasse primeiro. Porque como ele era e com o que fez anteriormente, confirmava bem que não iria desistir, mas eu não ia ceder. Já estava mais preparado, ao menos eu pensava que sim.

Guardei o telemóvel e numa questão de minutos, todos saíram. Sorrateiramente agarrei no braço da Ava e puxei-a lentamente para trás.

- Precisamos de continuar a nossa conversa.

- Para quê? Para me mentires mais? Não. – com uma pequena força ela soltou-se de mim.

- Compreende que mesmo que quisesse não te podia mentir. – falei zangado. – Há uma série de coisas que aconteceram que têm uma explicação.

- Mas agora eu não quero saber. Quando quis tu ocultaste-me e agora queres contar-me? Agora que tenho tudo à vista? Não, não funciona assim. E não penses que lá por estares a pagar a estadia do meu pai na clínica estás a trabalhar para ser desculpado, porque não. Isto é uma obrigação tua.

- Não Harry. – o Niall agarrou-me quando estava prestes a ir atrás da morena dos olhos azuis. – Tens de a deixar pensar.

- Pensar? – perguntei retoricamente. – Se ela pensar nunca mais vai querer saber do que realmente aconteceu. Tudo bem que eu tenho culpa. Mas sabes? Tu tens culpa, tu és parte do culpado aqui. Fugiste com a Ambar e eu fiquei com o pior nas mãos até chegar a este ponto.

- E lá vamos nós para o mesmo. – ele disse abanando a cabeça. – Tudo bem, queres usar esse argumento em todas as situações, usa-o. Mas sabes que mais? Não fazias metade disto se não gostasses da Ava. Então cala-te, porque estás a agir como eu, ou ainda pior.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now