"Frio"

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Cheguei à escola e a Eva estava na entrada à minha espera. Revirei os olhos quando vi aquele sorriso na sua cara, que indica que está a tramar alguma coisa, e eu não gosto disso. 

"Bom dia." Disse, ao passar ao seu lado, sem abrandar o passo ou sequer olhar para ela.

"Bom dia... entusiasmada com as compras de logo?" Perguntou, andando ao meu lado. 

"Quantas vezes vou ver te de dizer que eu não vou fazer compras nenhumas porque eu não vou à merda do jantar?" Levantei a voz, inconscientemente. 

Ouvi de imediato uma voz, atrás de nós no corredor.

"Diane Anderson!" Eu virei-me para confirmar aquilo que já desconfiava. É a reitora. "Acompanhe-me!" Ordenou. Eu fiz um aceno de cabeça à Eva para que esta fosse andando para as aulas e acompanhei a reitora até ao seu escritório. Ao chegar lá ela mandou-me sentar e passou para o lado de trás da sua secretária. "Diane... acha que aquilo é palavreado para ser utilizado dentro desta instituição?" Perguntou, séria. 

"Não, peço desculpa, só estou a ter um dia mau." Tentei desculpar-me. 

"Sabe que há colegas seus que já me vieram informar de que este tipo de conduta está a passar a ser demasiado regular, da sua parte? O que é que se passa? Está tudo bem com a sua vida escolar? Acha que precisa de acompanhamento da psicóloga do colégio?"

"Não, obrigada..." Franzi a testa, ao ouvir uma insinuação tão ridícula. "Eu prometo que essa minha conduta vai terminar. Posso ir para a aula, agora?" Ela apenas assentiu com a cabeça. 

Eu levantei-me e saí. Dirigi-me à aula de matemática. Ao entrar o professor lançou-me aquele olhar depreciativo, como quem espera por um pedido de desculpas ou por uma justificação para o atraso, mas eu não lhe dei nem uma coisa nem outra. Fui sentar-me no meu lugar, ao lado da Eva, abri os livro e só então me apercebi de como estava absolutamente arruinado. Abri também o caderno, e está exatamente na mesma. Não passa de um borrão pegado... Bonito serviço, palhaço do metro! Soprei para o ar só de pensar no trabalho que ia ter para passar a limpo três meses de aulas. 

"Ei... podes deixar-me ver pelo teu livro, e dás-me uma folha?" Pedi à Eva. 

"O que é que aconteceu com as tuas coisas?"

"Deixei-as cair, à chuva quando um idiota qualquer me empurrou nas escadas do metro..." 

"Vês Diane? Vês como eu tenho razão? Tu não devias vir sozinha de transportes públicos! Isto é Nova Iorque... anda muita gente má nas ruas..."

"Não dramatizes... são só uns cadernos." Revirei os olhos. 

Ela fez o que eu lhe pedi, e eu consegui, ainda assim, acompanhar a aula.

Mais tarde, já na hora de almoço, o meu amado (ou não tão amado) Brad veio sentar-se connosco. 

"Bom dia, meninas..." Cumprimentou.

"Bom dia..." Respondemos em coro, se bem que a Eva foi um pouco mais efusiva que eu. 

"Está tudo bem, Diane?" Perguntou, enquanto levava um garfo de salada à boca. 

"Ótimo..." Respondi, mais seca do que o Sahara. 

"Já sabes o que vais levar vestido ao jantar em minha casa?" Sorriu. 

"Eu não vou a esse jantar...Lamento." Lancei-lhe um sorriso amarelo. 

"Oh não... vá lá... tens de ir! Por favor!" Choramingou. 

"Não dá mesmo. Hoje fiquei com todos os meus apontamentos arruinados, vou ter que usar todos os meus tempos livres para reorganizar tudo de novo... por isso, não vai mesmo ser possível." Bem... obrigada, palhaço do metro... ao menos sempre serviste para alguma coisa. 

Outro copo de amor, por favor (#wattys2016)Where stories live. Discover now