XVIII

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Desesperada, Bela chorava abraçada a uma árvore, temendo pela vida da fera. Ela nada poderia fazer para impedir a emboscada e muito menos o desejo de vingança que a fera expelia por todos os seus poros naquele momento. Mas que mundo pequeno... A fera e o Coronel Lorde Crawford eram inimigos! Aquilo não cheirava nada bem para Bela. Ela não sabia o que fazer e, perdendo a esperança por um momento, sentou-se ao pé da árvore, fechou os olhos e apenas rezou baixinho para que nenhuma tragédia acontecesse.

Quando Bela abriu os olhos, a floresta estava escura ao seu redor. Já era noite, ela tinha adormecido por horas. Sem fazer a mínima ideia do horário e do que estava acontecendo no castelo da fera, se a tal cruzada de morte à fera já havia atacado, Bela tomou fôlego e correu na direção de volta para o castelo. Porém, para a infelicidade da jovem moça, ela cruzou o caminho do Lorde Coronel Crawford e seus homens, todos montados em fortes cavalos e levando consigo tochas e armas dos mais variados tipos, armas que ela nunca havia visto.

— Está perdida, minha querida? – gritou o coronel, a voz destilando arrogância. Apesar da escuridão, a luz provocada pelo fogo das tochas era suficiente para ela ver o ódio no olhar de Crawford. Em um cavalo logo atrás do líder da cruzada, estava o pai de Bela, também a encarando com um olhar rígido.

— Sei muito bem onde estou. – e Bela deu-lhe as costas, a fim de desviar o caminho e encontrar outro acesso ao castelo.

— Onde está a besta que diz loucamente ser seu noivo? – ele gargalhou com ironia.

— Se quiser saber, continue procurando. – Bela não tinha medo do coronel. Talvez se estes se cruzassem antes dela conhecer a fera, podia ser que seu coração ficasse balançado e ela se ressentisse magoada por ter sido usada cruelmente. Agora, Bela apenas tinha nojo do maldito coronel.

— Talvez eu precise de algo de valor para atrair a fera para a floresta, onde meus homens estarão escondidos e o atacarão até deixá-lo inútil o suficiente para que eu o destroce com uma lâmina afiada.

— Se é tão forte e corajoso quanto parece, deveria encarar a fera cara a cara, afinal, já tentou matá-la uma vez, não é, Crawford? Fiquei sabendo que levou uma surra e só escapou da prisão graças ao duque de Hamptonshire, mas acho que dessa vez você não terá tanta sorte.

— Ora, sua vagabunda! – o coronel gritou e desceu do cavalo, partindo para cima de Bela, agarrando seus cabelos com força.

— Solte-me, desgraçado! – Bela gritou, tentando desferir socos em Crawford, mas este lhe dominou e lhe estapeou, apesar dos protestos do Sr. Carter.

— Vamos ver quem não terá tanta sorte!

O Coronel Lorde Crawford amarrou e amordaçou Bela com a ajuda de dois de seus homens e ordenou que a carregassem em um cavalo. Bela resistiu o máximo que pôde, mas foi vencida nos últimos minutos. A cruzada prosseguiu em direção ao castelo sob a liderança do coronel e o auxílio do Sr. Carter, que já chorava de infelicidade pela filha, arrependido de talvez ter tomado uma decisão terrível, afinal, apesar de louca, Bela parecia feliz ao anunciar seu noivado e casamento com a fera, agora a jovem era estapeada e tratada como um objeto pelo seu ex-noivo, que apenas lhe provocou mal.

Bela rezava, desejava, torcia para que a fera tivesse tomado a sábia decisão de fugir. A criatura e seus empregados não teriam chance contra aquele mini-exército de Crawford. Ela odiaria ver a morte do seu amado pelas mãos do que homem que a destruiu. Seria uma morte dupla, pois uma parte dela morreria se a fera deixasse de existir.

Quanto mais se aproximavam do castelo da fera, mais o coração de Bela batia forte. O que aconteceria? Qual seria o desfecho daquela noite? Quem ganharia? Quem perderia? No entanto, a chegada ao castelo foi inevitável e Bela não conseguiu mais segurar suas lágrimas e soluços. Tudo estava calmo e silencioso a não ser o trote barulhento dos cavalos e o ranger das armas. A porta principal estava aberta, como que esperando uma visita. Bela sentiu um calafrio.

Uma marcha rápida e frenética se deu para dentro da propriedade da fera. Os cavalheiros conduziram seus animais por toda a extensão, inclusive pelo jardim da fera, destruindo as flores que a criatura tanto amava, e ela própria também. Bela estava se sentindo inútil e indefesa. Um sentimento de angústia crescia em seu coração. De repente, a porta da entrada do castelo se abriu, revelando Elliot, o mordomo. Ele estava sozinho e desarmado. O que era aquilo? Um convite para ser morto?

— Elliot, seu velho desprezível! – Crawford gargalhou, não faltava desprezo em sua voz – Onde está a besta? Quero acabar logo com isso.

— Coronel Crawford, Sir. Dominic III lhe convocou para um duelo no salão de jogos do castelo. É permitida somente a sua entrada no recinto.

— O quê? Isso é uma piada? – a gargalhada de Crawford ficava cada vez mais presunçosa – Se essa aberração pensa que vai impedir que meus homens entrem no castelo está redondamente enganada.

— Seja justo, coronel. – disse Elliot – Sir. Dominic III está desarmado, sem nenhum homem para lhe proteger. Serão apenas os dois senhores em um duelo. Pode levar suas armas, mas terá que ir sozinho.

— E se eu não quiser, quem vai me impedir?

— Seu próprio bom senso de honra, ou talvez não o tenha. Acho que está com medo de enfrentar Sir. Dominic III cara a cara. Precisa de proteção porque tem medo.

— Você é apenas um velho, não tem o direito de falar.

— Se estiver com medo, tudo bem. Eu entendo. Eu também não enfrentaria Sir. Dominic III nas condições atuais. Ele é uma fera, não é mesmo? Põe homens para correr. Talvez até seus homens se intimidem quando vir a criatura. Vão dizer que é o Diabo sobre a Terra.

— Ah, Elliot, você está jogando baixo. Sabe que não resisto a um desafio que mexa com o meu ego e a minha vaidade, mas a besta que eu vim matar não tem palavra. Porém, posso abrir uma concessão e entrar no castelo para o tal duelo, sem todos os meus homens, mas desejo levar Ryan, meu escudeiro, o Sr. Carter e a sua filha Bela.

— Bela?! – Elliot espantou-se.

Dois homens levaram a jovem amarrada até o coronel para que o mordomo pudesse vê-la com seus próprios olhos.

— Meu Deus! Eles pegaram a senhorita!

— Agora vamos entrar. Ryan, traga a vagabunda e seu pai.

Crawford, Ryan, Bela e o Sr. Carter adentraram o castelo da fera enquanto o restante dos homens ficou fora do recinto, sentindo-se injustiçado ao ser deixado de fora da ação principal. De que adiantava aquele exército se nada iriam fazer? Crawford era de fato muito orgulhoso e narcisista, mas foi desonestamente esperto, deixando comandos através de gestos para dois de seus homens, ordenando que invadissem o castelo se ele não saísse de lá após algum tempo. Todos os habitantes do castelo seriam mortos. O desejo de Crawford era que não houvesse sobreviventes. Nem mesmo Bela.

A Bela e A FeraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora