XIV

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Bela chegou ao vilarejo pela manhã cedo. As carruagens que ali passavam chamaram mais uma vez a atenção de todos os transeuntes pela elegância, agora em maior quantidade. Todos estavam curiosos para saber quem estava nelas. Foi visível o espanto e surpresa dos moradores ao verem Bela descer de uma carruagem, que parou no meio do centro da cidade após ela ter avistado as irmãs e a tia Eliza. Todos no vilarejo pensavam que Bela estava morta, pois a história de que esta fora aprisionada por uma fera já havia se espalhado e corrido pelos arredores.

— Meu Deus! Bela! Você está viva! – Emma correu ao encontro da irmã e as duas se abraçaram em meio a lágrimas – Pensei que nunca mais fosse te ver! Pensei que estivesse morta! Senti tanta saudade, Bela!

Após as duas se soltarem, tia Eliza também correu ao encontro de Bela e a abraçou, muito emocionada.

— Quando vi aquele homenzinho velho dizendo que você não deveria ir para o castelo onde estava aquele monstro e você insistiu... Meu Deus! Eu rezei tanto para que você ficasse bem, para que Deus lhe protegesse de todo o mal, minha querida. Agora você voltou para a sua casa! Como conseguiu fugir de lá?

De repente, tia Eliza reparou as três carruagens idênticas à carruagem que partiu com Bela há mais de dois meses. Ela notou o homenzinho velho ao qual se referiu aproximando-se delas com um sorriso amarelo.

— Acredito que a senhora estava se referindo ao Elliot. Ele é um amor de pessoa quando se deixa conhecê-lo. – Bela sorriu e trocou um olhar amistoso com o mordomo, mas a tia se manteve séria.

— Obrigada, Srta. Bela. – Elliot sorriu de volta, surpreso com o elogio.

— Ora, ora! Mas o que temos aqui? A filhinha preferida retornou ao lar? Acho que não. Está escoltada pelos escravos da fera. O que significa isso? – perguntou Grace, sem se aproximar da irmã. Na verdade, parecia aborrecida por vê-la.

— Eles não são escravos, são empregados remunerados. E possuem liberdade para ir e vir. Estão no castelo a serviço. Ninguém é maltratado.

— Percebo hostilidade na forma como fala.

— E eu percebo que está infeliz por me ver. Preferia que eu estivesse morta, não é, Grace? É triste ver que a minha própria irmã, sangue do meu sangue, desenvolveu um grande desafeto por mim. Eu não entendo, mas prefiro ignorar.

Bela, a ingênua! – respondeu Grace com ironia.

— Grace, você é terrível. – disse Emma, chateada com a irmã.

Emma, a defensora dos oprimidos!

— Deixe Grace para lá. – disse Bela – Onde está o nosso pai, Emma? Diga-me que está em casa e não viajando.

— Sim, ele está em casa! – respondeu Grace no lugar de Emma, seu tom de voz era agressivo – Ele não trabalha desde que você se foi. A culpa é toda sua, Bela! Tinha que pedir uma rosa de presente, tinha que fazer com que nosso pai virasse escravo de uma aberração e tinha que ir no lugar dele! Ele sofre todos os dias. É como se nem tivesse outras filhas. Às vezes acho que os dois deveriam ter ido juntos e ficado na desgraça lado a lado.

— Grace, você é muito má. – disse Bela – De inocente e tímida você não tem nada. É uma sonsa desaforada.

— Eu sou muito tímida e inocente! Eu não abri as minhas pernas para o primeiro homem que disse que me amava! – Grace gritou. Ela queria humilhar a irmã na frente de todos que estavam paralisados assistindo a cena.

A discussão em via pública estava chamando mais do que muita atenção. Todos estavam comentando. O movimento pelo centro tornou-se um caos, pois um aglomerado de pessoas juntou-se ao redor das irmãs para ver e ouvir melhor o que estava acontecendo. Até outras carruagens pararam para ver do que se tratava tal alvoroço.

— Vamos para casa. Todos estão vendo essa discussão. – disse Emma.

— Vão cuidar das suas vidas! – berrou Bela com as pessoas. Após conhecer a fera, Bela mais nada temia, muito menos pessoas que viviam apenas para falar da vida alheia e repreender condutas desviantes.

As irmãs de Bela e a tia Eliza entraram na carruagem particular da família e Bela as seguiu na carruagem da fera. Chegaram à antiga casa de Bela alguns minutos depois.

A Bela e A FeraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora