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Nós três almoçamos em silêncio, quando de repente Henrique começou a rir sem parar. Maria e eu o olhamos como se ele fosse um louco.
– O que foi, menino? – Maria perguntou curiosa.
– Eu ainda não consigo acreditar que a Amora pensou que eu e você estávamos juntos.
– Você achou mesmo isso, Amorinha? – Maria perguntou rindo.
– Sim! Mas posso explicar.
– A Amora sempre tem alguma explicação. Tudo para ela precisa de uma explicação. – Henrique falou.
– Mas é claro que sim!
– Quando nós dois nos conhecemos, Maria, a Amora pensou que eu era ator pornô!
– Santo Deus, filha! Por que você pensou isso?
Henrique me olhou na expectativa pela minha resposta.
– Porque ele era bonito e tinha uma casa grande – falei, por fim.
Henrique levantou uma sobrancelha e sorriu.
– Só por isso?
– Exatamente por isso. Também pensei que ele fosse um traficante, mas como não havia seguranças em sua casa, deduzi que não era.
– Essa eu não sabia – Henrique falou divertido.
– Pois é! Você não sabe de muita coisa.
Maria ria sem parar com nossas histórias. E graças à mão divina Henrique não tocou mais no assunto sobre os dois estarem juntos, na frente de Maria.
Depois que Maria almoçou, foi para a casa dela tirar o cochilo da tarde, nos deixando a sós.
Henrique e eu nos sentamos no sofá e ele falou baixo.
– Fiquei tanto tempo sem te ver e, agora, olhando pra você, parece que não se passaram nem dias.
– Eu tenho a mesma sensação.
– Chegou um momento em que achei que não veria você nunca mais.
– Eu tive certeza disso. Mas o que você estava fazendo na casa de Maria?
– Quando deixei Monique, vim direito pra cá e como eu não sabia se você iria falar comigo, fui para a casa dela.
– Há quanto tempo você chegou?
– Há alguns dias.
– Por que não veio falar comigo antes?
– Eu estava procurando um lugar pra morar. E assim eu pude te olhar de longe.
– Você é estranho – concluí.
– Um pouco, mas sou uma boa pessoa! – Henrique falou rindo.
– Mas e a sua casa?
– O contrato de aluguel estava no fim, então decidi não renovar e vir pra cá.
– E se eu dissesse que não queria nada com você?
– Aí eu ia ter que pedir Maria em casamento!
Comecei a rir sem parar.
– Senti sua falta – falei.
– Eu também, Amora. Eu voltei quando soube que Sarah te mandou embora. Eu voltei, mas ninguém sabia de você. Nem mesmo Lucila.
– Eu não quis manter contato com mais ninguém de lá. Tudo ali me lembrava de você e isso doía demais.
– Eu me arrependo a cada segundo por não ter estado com você quando seu pai fez aquilo.
– Eu te liguei diversas vezes aquele dia. Eu liguei, chorei e implorei para que você atendesse. Mas eu tive sorte. Conheci um taxista que foi muito bom comigo. Quando ele viu que eu te ligava e o número não existia, ele me consolou e fez com que eu ficasse calma. Então, me deu um terço para me dar força quando eu precisasse. E não deixou que eu pagasse a corrida. Disse que eu precisaria daquele dinheiro e que quando eu me estabilizasse de novo, eu pagaria a ele. Seu Alberto me deu um cartão com sua conta e a primeira coisa que eu fiz quando recebi meu primeiro salário, foi pagá-lo.
– Fico aliviado em saber que alguém te ajudou. Eu soube, antes de voltar, o que meus sócios estavam fazendo, e assim que cheguei na cidade, fui assaltado e não reativei meu número. Eu achei que teria notícias de você com Sarah, mas por causa dela tudo mudou.
– Você não falou mais com ela?
– Não, e não quero!
– Eu acho que vocês deveriam conversar. A pior coisa que existe é não ter contato com sua família.
– Ela sabe onde me encontrar e nunca me pediu desculpa, mesmo sabendo que havia cometido um grande erro.
– Todo mundo erra, Henrique.
– Eu sei, mas ela teve diversas oportunidades de se redimir e não fez.
– Eu sinto muito.
– Eu sei. Você gostava muito de Sarah.
– Muito mesmo. Fiquei extremamente decepcionada com o que ela pensava de mim. Eu achei que fôssemos amigas.
– Sarah me decepcionou muito também. Depois que ela se casou, ela virou outra pessoa.
– Sinto muito, Henrique...
– Obrigado.
– E Simone? Vocês ainda se falam?
– Mais do que antes. Pelo menos com essa história nós nos unimos mais.
– Meu pai está arrasado sem ela.
– Ela também. Eu disse a ela que ela se precipitou, mas acredito que ela havia chegado ao limite dela.
Assenti e fiquei olhando Henrique ao meu lado. Ele estava ainda mais bonito.
Seus olhos cinzas estavam mais claros e sua barba estava maior do que ele sempre deixou. Meu coração apertou com a saudade que senti, com as preocupações do que ele estaria fazendo, com o desejo que senti de ele estar ao meu lado em todos esses anos.
– O que você fez esse tempo todo, Amora?
Contei a Henrique sobre minha faculdade e sobre a minha mãe. Contei sobre meus namoradinhos que não deram certo e em como tudo perdeu a graça sem ele.
Henrique me contou sobre a clínica em que ele trabalhava, sobre sua empresa e não falou mais de Monique, o que me deixou extremamente aliviada.
– Você dormiu com alguém? – Henrique perguntou de repente.
– Pra que você quer saber isso? – Eu disse, desconfortável.
– Porque sim.
– Bom... tive alguns casos.
– E foram bons?
– Razoáveis.
– O que seria razoável, Amora?
– Ah... bem... normal. Pequenos... sem nada demais.
– Você gozou com algum deles?
– Não todos.
– Você pensava em mim?
– O tempo todo – falei baixo, me sentindo patética.
– Perfeito.
Henrique me beijou com tudo, sem que eu pudesse raciocinar. Ele me puxou para o seu colo e eu fiquei sentada de frente para ele, com uma perna em cada lado de seu corpo.
Henrique segurou meu rosto com suas mãos enormes e sorriu.
– Eu sonhei e esperei tanto esse momento, Amora. Você é tão linda. Perfeita. Eu amo cada detalhe seu. Seu nariz empinadinho, suas bochechas rosadas, a cor dos seus olhos, sua boca macia. Puta merda, Amora, você não sabe o quanto eu desejei que esse dia chegasse.
Eu sorri e beijei a ponta de seu nariz. Henrique mal sabia o quanto eu também desejei que esse dia chegasse, o quanto eu queria ele ao meu lado nesses momentos difíceis, o quanto eu esperei por qualquer notícia dele por todos esses anos.
Voltei a beijar sua boca, que foi feita para mim. Henrique e eu fizemos amor exatamente como na nossa despedida. Ele cuidou de mim, me beijou, me fez carinho e provou que seu amor era tão forte quanto o meu.
Sentir sua pele na minha, sua respiração misturando com a minha, seus suspiros e gemidos, seu sorriso direcionado a mim, fez eu me sentir em paz. Me fez ver que tanto quanto eu, Henrique tentou ser feliz. Buscou sua felicidade independente de nós dois e eu não tinha direito de julgá-lo.
Tentei fazer a mesma coisa, mas não tive a mesma sorte que ele. Ele encontrou alguém que o curou, que o ajudou, mas que não foi o suficiente. E agora ele estava aqui comigo, se entregando da mesma forma que eu, provando que poderíamos passar por cima de tudo o que aconteceu e ser felizes como desejamos esses anos todos.

Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora