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Henrique e eu passamos o resto do dia na cama.
Ele fez alguns petiscos para nós e assistimos a vários filmes.
Henrique era ainda mais divertido em seu tempo livre. Ele era leve, ainda sorridente, e me fazia bem. Eu não sabia o que seria de mim depois que ele fosse embora, mas me esforcei para não pensar nisso.
Eu não estava apaixonada, mas havia passado da fase do encantamento onde a gente só pensa na pessoa. Eu pensava e sonhava com ele, então meu estágio estava evoluído.

• • •

Os dias foram passando, nos deixando ainda mais próximos. Henrique dormia quase todos os dias comigo, e colocava o despertador de madrugada para ele voltar para seu quarto e ninguém desconfiar.
Um dia Henrique foi mais cedo para o trabalho, e eu estava tomando café da manhã, quando Elik entrou na cozinha me olhando diferente.
– Eu sei que vocês estão juntos.
Fiz a minha melhor cara de paisagem e respondi:
– Vocês quem?
– Não se faça de tonta! Eu vi Henrique saindo do seu quarto.
– E daí?
– E daí que eu sei o que vocês estavam fazendo lá.
– Sabe? E o que seria?
– Preciso mesmo dizer?
– Claro! Você não é sabichão?
– Você sabe exatamente do que estou falando.
– Sobre o que?
Meu pai entrou na cozinha querendo saber sobre o que nós estávamos falando. Elik sorriu para mim, como se soubesse que meu pai iria surtar com a notícia.
– Elik está achando que eu e Henrique estamos juntos.
– De onde você tirou essa bobagem? – Meu pai perguntou bravo.
– Vi Henrique saindo do quarto dela hoje de madrugada!
Elik me olhava desafiadoramente, mas eu não cairia no seu jogo. Engoli todo o nervosismo e o tremor do meu corpo e falei tranquilamente.
– Você se lembra aquele dia em que gritei no quarto, porque tinha uma barata lá?
– Sim – meu pai respondeu preocupado.
– Apareceu mais uma. E como o quarto de Henrique é o mais próximo do meu, pedi que ele matasse a barata. Mas seu enteado prefere inventar histórias mentirosas para prejudicar as pessoas.
Meu pai olhou Elik com raiva e ele me devolveu o mesmo olhar.
Elik subiu as escadas batendo os pés e eu fiquei extremamente aliviada por meu pai ter acreditado.
Ele se despediu de mim e foi trabalhar.
Fiquei pensando em como Elik era cruel e mal-amado, quando meu celular tocou e aparecia um número desconhecido.
– Alô?
– Amora? Sou eu!
Ouvir a voz da minha mãe me fez chorar imediatamente. Eu sentia tanta falta dela, como nunca imaginei que sentiria.
– Mãe!! Como você está? Como é aí? Estão te tratando bem? Quando você volta?
– Confesso que não está sendo fácil, mas todos são uns amores. Aprendi a fazer crochê. Não tenho previsão para voltar. Me desculpe, filha.
A notícia me deixou arrasada. Eu queria ver a minha mãe bem, para voltarmos a ter nossa vida. Sua voz estava cansada e não como eu imaginei que estaria.
– Mas vai ficar fácil. Você vai ver! – A encorajei.
– Eu só não desisto dessa loucura por você, filha.
Engoli em seco sem saber o que dizer.
– Não faça nada que você não queira, mãe. Quero ver você feliz. Só isso!
– Eu sei, filha... mas a felicidade não faz mais parte de mim...
Minha mãe falar aquelas coisas acabaram comigo. Eu queria ir até a tal clínica e dar vários tapas na cara dela, para que ela parasse de dizer tanta bobagem.
– Preciso ir, filha. Eu te amo. Se cuida e até a próxima ligação.
Antes que eu pudesse responder, a ligação foi encerrada.
Meu coração estava apertado e as lágrimas corriam pelo meu rosto.
Minha mãe sempre foi uma mulher forte e hoje ela mostrou como é frágil, infeliz e insegura.
Permaneci sentada, quando Elik apareceu para me atormentar mais uma vez.
– O que foi, irmãzinha? Seu pai descobriu a verdade?
Olhei para ele secando as lágrimas.
– Eu tenho pena de você, sabia? Você é uma pessoa tão desnecessária, que só se sente bem prejudicando os outros. Até mesmo sua família. Pois saiba que você pode inventar a história que quiser, eu não vou cair em nenhuma. Acho que está na hora de você crescer e aprender a ser homem, não acha?
Elik me olhou incrédulo com tudo o que eu disse. Acho que havia passado da hora de Elik ouvir umas verdades. Me levantei, colocando minha xícara na pia e fui para o meu quarto ligar para Sarah, avisando que não iria trabalhar.

• • •

Henrique chegou do trabalho e foi para o meu quarto, preocupado.
– Fui no escritório de Sarah e ela disse que você não foi trabalhar porque não estava se sentindo bem. O que aconteceu, Amora?
Henrique se sentou ao meu lado na cama e apoiei a cabeça em suas pernas.
– Minha mãe me ligou hoje. Ela está pior do que antes de se internar. Ela disse que não é feliz. Acho que ela desistiu de viver.
– Ela só deve estar confusa por causa do tratamento.
– Não. Ela desistiu mesmo.
– Eu sinto muito, Amora.
– Obrigada.
– Tem algo que eu possa fazer por você?
– Só fica aqui comigo... por favor...
– Ótimo, porque só saio daqui arrastado.
Dei risada.
Henrique ficou mexendo em meus cabelos até que eu relaxasse por completo.

Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now