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Acordei com a cabeça explodindo e o barulho ensurdecedor do despertador não ajudou em nada.
Levantei devagar e fui ao banheiro para fazer minha limpeza matinal. Depois de trocada, desci as escadas e saí sem olhar para a cara de ninguém. Eu sentia que tudo havia sido um pesadelo, mas no fundo eu sabia que não.
Ao chegar no trabalho, Lucila me olhou preocupada e eu disse que explicava a ela depois. Ao sentar em minha cadeira, avistei um bilhete de Sarah em cima do teclado do computador.
"VENHA NA MINHA SALA"
Guardei minha bolsa e fui até seu escritório.
A porta estava aberta, então bati e entrei em seguida.
– Bom dia, Sarah!
– Sente-se.
Sarah estava séria e com cara de poucos amigos. Meu estômago se revirou, avisando que coisa boa não vinha. Ela me entregou um envelope pardo que estava escrito RH na parte de fora.
– Essa é a sua demissão. Quero que você passe no RH agora para assinar os papéis.
– Demissão? O quê? Por quê?
– Eu sei que você se envolveu com meu irmão para conseguir esse emprego, então você não é digna dele!
– O quê? Eu só soube que Henrique era seu irmão no jantar!
– E eu devo acreditar nisso?
– Claro! Porque é a verdade!
– Eu não acredito em você!
– Sarah, eu não sabia que ele era seu irmão! Eu me apaixonei por Henrique.
As lágrimas começaram a se formar em meus olhos, mas eu me esforcei para não as deixar cair.
– Não me interessa! Pegue seus pertences. Tenha um bom dia!
Fiquei olhando incrédula para Sarah um bom tempo. Ela estava decidida a me demitir, e eu não ia me explicar a ela. Ela estava enganada e um dia veria isso.
Levantei e fui para a minha mesa. Joguei todos os meus pertences em minha bolsa e fui falar com Lucila.
– Sarah me demitiu. Posso passar na sua casa depois do trabalho?
Perguntei, assim que as lágrimas escorreram em meu rosto. Lucila me abraçou e chorou comigo.
– Claro, Amora! Eu te espero lá!
– Obrigada – falei em um sussurro e sequei as lágrimas. Eu tinha que me recompor para que ninguém ficasse me olhando com pena.
Dei mais um abraço em Lucila e fui para o RH.
Depois de tudo resolvido, no caminho de casa percebi que eu não era bem-vinda em lugar nenhum. Isso fez com que eu chorasse sem parar.

• • •

Ao chegar em casa, fui direito para o meu quarto. Ao abrir a porta, todas as minhas coisas estavam guardadas nas malas que eu trouxe. Eu estava sendo expulsa e nessa hora percebi que não tinha para onde ir.
Troquei de roupa e vesti uma calça jeans com camiseta. Recolhi os meus pertences que estavam no banheiro. Terminei de organizar as minhas coisas e tirei um bloco de rascunho da minha bolsa. Sentei na cama e escrevi um bilhete para cada um daquela casa.

"Pai, saiba que um dia eu tive orgulho de você, por ter conseguido viver mais uma vez. Por ter criado uma nova família, mesmo que tenha me abandonado. Eu achava que vindo para cá, você aprenderia a me amar como não conseguiu antes, mas vi que me enganei. Você só pensa em si mesmo e julga sem saber. Saiba que, a partir de ontem, quando alguém me perguntar sobre meu pai, terei a resposta na ponta da língua. Direi que ele morreu. Porque é exatamente assim que me sinto agora. E apesar de tudo, espero que você saiba o que amar significa e rezo para que ninguém te abandone quando mais precisa, como está fazendo comigo agora."

"Simone, só tenho a agradecer por ter me recebido em sua casa. Me surpreendi com o carinho que você tem com seus filhos e confesso que senti um pontinho de inveja. Achei que um dia eu seria tratada da mesma forma. Obrigada por tudo!"

"Fauzer, não tive tempo de te conhecer direito, mas agradeço por ter ficado comigo quando eu estava sem chão. Você me ajudou quando todos fecharam as portas para mim e serei eternamente grata por isso. Espero que você seja eternamente feliz!"

"Elik, só tenho a dizer que você tem muito a aprender sobre a vida. Você é uma pessoa ruim, que só se sente bem ao estragar a vida de alguém. Mas tenho que te parabenizar! Você conseguiu acabar com a minha. Não te desejo nenhum mal, só desejo que todo o mal que causou a alguém volte da mesma forma a você, e espero que você saiba lidar com isso, porque não é qualquer pessoa que tem essa estrutura. Só tenho uma pergunta a fazer: como você consegue colocar a cabeça no travesseiro e dormir, sabendo que acabou com a vida de alguém? Agora não tenho onde morar, fui demitida e não tenho ninguém. Não te desejo nem isso, porque passar por isso é crueldade demais."

Coloquei todos os bilhetes em um envelope que deixei na mesa da cozinha. Saí daquela casa sem olhar para trás. Aquela dor seria mais um aprendizado que tive. Só estava tentando entender o que ele queria ensinar.
Chamei um táxi e guardei minhas malas no porta-malas. Como faltava muito tempo para Lucila sair do trabalho, pedi que o taxista fosse até a casa de Henrique. Ele não estaria lá, mas seria uma forma de ficar próxima a ele.
Assim que o táxi estacionou na frente da casa, pedi que ficássemos ali por um tempo. Entre as lágrimas, criei coragem de ligar para Henrique. A mensagem que ouvi me fez chorar sem que eu conseguisse parar.
"O número que você ligou não recebe chamadas ou não existe..."
O taxista me olhou preocupado.
– Você está bem, moça?
– Sim. Podemos dar uma volta? Eu não tenho mais pra onde ir.
Ele assentiu e disse que faria um tour pela cidade, que me mostraria os pontos mais antigos. Fiquei muito grata por ele estar fazendo aquilo por mim.
Quando desci do táxi na porta de Lucila e descarreguei minhas malas, seu Alberto veio até mim e me entregou um terço.
– Não sei se a senhorita tem religião, mas quero te dar esse terço. Ele sempre me ajudou nos momentos difíceis, mas acho que agora ele deve ajudar outra pessoa.
Peguei o pequeno terço dourado com pedras azuis e sorri entre as lágrimas.
– Obrigada! O senhor foi um anjo que apareceu pra mim!
Tirei o dinheiro da carteira e ele recusou na hora.
– Não, menina! Fique com seu dinheiro. Não sei o que você está passando, mas vai precisar muito dele.
–Não! Eu não posso aceitar! O senhor ficou o dia todo comigo! Não é justo!
– Então faz o seguinte... esse é o número da minha conta. Quando você estiver bem, você me paga.
Peguei o cartão da mão de Alberto e lhe dei um abraço.
– Obrigada!
– Não há de quê, menina! Saiba que tudo passa. Às vezes, parece que as coisas só dão errado, mas é só uma pedra no caminho para o melhor vir.
Sorri em agradecimento e me sentei no portão de Lucila, esperando ela chegar.

Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora