4...

42.1K 3K 490
                                    

Eu e o anjo saímos da pista de dança e fomos para o bar.
Pedi mais uma dose de tequila e uma água. O anjo de Deus pediu uma cerveja.
– Qual é o seu nome? – Ele perguntou, ficando mais próximo.
– Você é gay? – Perguntei sem que conseguisse controlar minha boca.
– O quê? – Ele riu.
– Amora! Você é casado?
– Você quer comer amora? A resposta é não – ele respondeu confuso.
– Para a primeira ou segunda pergunta? É meu nome. E o seu?
– Amora é seu nome?
– Sim!
– Não sou gay e nem casado. Me chamo Henrique.
– Estranho...
– O quê? – Ele perguntou tomando um gole da cerveja.
– Você não ser gay nem casado.
– Por quê?
– Porque você é bonito.
Ele riu e tomou mais da cerveja em sua mão.
– Já sei! Você namora!
– Não... – ele respondeu rindo ainda mais.
– Então não sei qual o problema.
– Por que tem que haver um problema?
– Porque é de lei! Sempre tem um problema!
– Você acha?
– Tenho certeza!
– Eu discordo...
– Eu discordo de você discordar. Pensa comigo: você! Você assim! Você bonito, educado e solteiro, só pode ter algum problema por estar falando comigo. Então vamos por eliminatórias... não é gay, não é casado, não namora! Hm... então você é serial killer! Ou broxa!
Assim que finalizei a frase, minha cara se contorceu ao ouvir o que eu tinha acabado de dizer.
A bebida me deixava sem papas na língua e quando eu começava a falar era como se eu assistisse a cena do alto. Tipo em um balanço preso no céu.
Henrique me olhava como quem estava achando graça e abriu minha garrafa de água, me entregando em seguida.
– Toma um pouco. Acho que você bebeu demais.
– Obrigada.
Tomei vários goles e aproveitei para observar Henrique.
Ele vestia uma calça jeans azul escura e uma camisa branca. Pelo tecido, era possível ver que ele usava uma regata por baixo da camisa.
Henrique era claramente mais velho que eu, mas não velho tipo avô. Mais velho, mas antes dos trinta.
Ele tinha aquele olhar tranquilo, de pessoa bem-sucedida na vida.
Fiquei me perguntando o que um homem bonito daqueles fazia solteiro. Será que ele era galinha e passava o rodo? Ou tinha medo de assumir a sua sexualidade? Ele não tinha jeito de gay, mas era algo a se pensar, já que ele era tão bonito.
Ele tinha que ter um defeito!
Henrique continuou a bebericar sua cerveja em silêncio.
Será que ele era broxa mesmo?
Fechei a garrafinha de água vazia e a coloquei no balcão. Henrique olhou para mim e eu decidi calçar meu sapato mais uma vez.
Assim que eu me abaixei para travar o fecho do sapato, meu rosto ficou na altura do quadril de Henrique.
Quando dei por mim, eu estava literalmente cutucando o dito cujo dele.
Ali estava eu, agachada e cutucando entre as pernas do homem mais bonito do recinto.
Ao invés de me dar um soco, Henrique apenas começou a gargalhar e me puxou para cima pelo braço.
– Você acha mesmo que eu sou broxa?
Seu rosto estava perto de mim e meus seios tocavam seu peitoral.
Eu não tinha reparado como Henrique era alto até ficar tão próxima.
– Sim. Você ficou em silêncio.
– Não sou broxa, Amora!
– Graças a Deus! – Falei baixo.
– O quê?
– Graças a Deus... deve ser muito difícil ser homem e não funcionar.
– Você nunca para de falar?
– Não. Foi a bebida! Eu vou tentar me controlar. Ou não...
– Eu gosto!
Henrique continuou segurando meu braço e me levou para a fila do caixa.
Ele tirou a comanda que eu segurava em minhas mãos e colocou junto com a dele. Sorriu para mim e, nessa hora, eu quis sair correndo.
Se ele não era gay, casado, namorado, nem broxa, então restou a última opção! Ele era um serial killer.
Ao perceber meu desconforto, Henrique sorriu mais ainda.
– Não sou um serial killer, Amora. Eu só me interessei por você. É difícil de entender?
– Sim!
– Por quê?
– Por quê?! Olhe pra você! Você é lindo, simpático, bem-sucedido! E eu sou eu. Assim. Normal. Deve ter muita mulher mais interessante do que eu atrás de você.
– E eu não ligo. Me interessei por você. Fim.
Fiquei de boca aberta por ele ter encerrado a conversa. Isso nunca havia acontecido antes.
Henrique deu dois passos para a frente e pagou as duas comandas. Ele voltou até mim, me segurou mais uma vez pelo braço e me levou para fora da boate.
Fomos andando pelo estacionamento até que ele destravou o alarme de um carro enorme.
Ele abriu a porta do passageiro para mim e esticou a mão para me ajudar a entrar.
– Vem. Vou te levar pra casa.
Parei de frente para ele e suspirei.
– Eu não vou pra casa assim... bebi demais. Mas obrigada pela noite!
Quando comecei a me afastar, Henrique segurou minha mão e sorriu.
– Eu vou te levar pra casa! Mas pra minha casa!
Era normal um coração disparar depois de ouvir algo assim? Porque o meu começou a bater tão forte que me deixou envergonhada.
Sorri em resposta e entrei em seu carro.
Que mal poderia acontecer? Eu ser morta e esquartejada? Ou ter um resto de noite maravilhosa com um anjo do céu?
Foquei na segunda opção, fiz o sinal da cruz, rezei dois Pai-Nossos e sorri.

Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now