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Lucila chegou do trabalho e levou um susto ao me ver sentada em sua porta.
Ela franziu as sobrancelhas ao ver minhas malas e me abraçou. Me ajudou a entrar com as malas e me levou ao seu quarto.
– O que aconteceu? Porque você saiu de casa?
Me aproximei de Lucila e contei tudo. Como conheci Henrique, como arrumei o emprego, como tudo aconteceu e, principalmente, a parte de Elik, que deixou Lucila horrorizada.
– Eu sei que é repentino, mas posso passar a noite aqui? Só hoje. Amanhã vejo o que vai ser da minha vida.
– Claro, Amora! Só não te chamo pra morar aqui, porque o proprietário não permite mais de duas pessoas. Minha avó doente já ocupa espaço demais.
– Não precisa se explicar. Só preciso de um lugar pra passar a noite. Obrigada! Eu estaria perdida se não fosse você.
– Imagina! Vou pegar alguns cobertores pra gente fazer uma cama no chão.
Dei um abraço em Lucila e, assim que ela saiu do quarto, tentei ligar para Henrique mais uma vez.
A mesma mensagem foi dada, indicando que aquele número não existia. Joguei o celular na cama e decidi que deveria parar de pensar em Henrique.

• • •

Lucila acordou cedo para se arrumar e aproveitei para me despedir dela.
Eu não tinha condições de permanecer na cidade. Mesmo sendo uma cidade pequena, era tudo bem caro. Além disso, acho que todos já sabiam que eu havia sido expulsa de casa.
Assim que Lucila saiu para trabalhar, chamei um taxi e fui para rodoviária. Eu voltaria para a minha cidade, tiraria um pouco do dinheiro da poupança da minha mãe e alugaria um quarto para ficar até que arrumasse um emprego.
Eu só estava torcendo para que não demorasse demais.

• • •

Ao chegar na minha cidade, procurei um hotel para deixar minhas coisas e descansar.
Tentei dormir, mas todos os acontecimentos recentes me faziam perder o sono, então fiquei revirando na cama a madrugada toda.
Na manhã seguinte, saí cedo para procurar um lugar para morar. Encontrei uma casa de um quarto por um valor razoável, então tive que aceitar. Todos os lugares restantes custavam mais do que eu poderia pagar.
Meu pai me ligava todos os dias, mas eu evitava atender. Não tinha mais nada para falar com ele, então decidi trocar meu número. Liguei na clínica da minha mãe e informei meu novo número para quando ela fosse me ligar.
Ao me ajeitar na casa nova, decidi procurar por Henrique nas redes sociais, mas não encontrei absolutamente nada. Henrique havia evaporado. Procurei por seu nome e pelo de Sarah, mas nunca encontrei um vestígio sequer dos dois.
As semanas iam se passando e eu continuei a procurar por Henrique na internet, mas nada mudou. Era como se ele não existisse. Eu sentia tanto sua falta! Cada vez que eu pensava nele, doía ainda mais.
Quando se passaram meses e eu ainda não tinha achado notícia nenhuma sobre Henrique, decidi pôr um fim nessa busca. Henrique não procurou por mim, então havia chegado a hora de parar de procurar quem não quer ser encontrado.
Arrumei um emprego de auxiliar de escritório em uma empresa de contabilidade. Consegui juntar dinheiro para prestar vestibular e fazer uma faculdade. Sempre sonhei em fazer faculdade de jornalismo e agora iria realizar esse sonho.
Minha mãe teve alta depois de um ano e meio de internação. Ela não reagiu muito bem ao tratamento e, sempre que tinha uma brecha, tentava tirar sua vida. Ela havia desistido de viver e isso me magoava profundamente.
Nos últimos meses de internação, ela teve uma melhora razoável e decidiram que ela estava bem para voltar para casa.
Eu a busquei na rodoviária e fiquei chocada com o quanto aquela pessoa na minha frente não se parecia nada com a minha mãe.
Ela havia perdido muito peso, seus cabelos estavam compridos e sem corte, suas roupas eram largas e desleixadas, mas ela sorriu ao me ver e isso foi o suficiente para mim.
Levei minha mãe para a nossa casa e ela ficou feliz por me ver ali. Perguntou quando eu voltei para a cidade e evitei contar tudo o que havia acontecido. Se ela soubesse o que meu pai fez, era capaz de ter outra piora e isso eu não queria. Eu queria ela bem e faria tudo o que estivesse ao meu alcance para conseguir isso.
Depois que minha mãe se adaptou, ela decidiu procurar um emprego e conseguiu alguns bicos de costureira em uma fábrica de blusas.
Ela estava animada com o rumo que sua vida havia tomado e pela primeira vez tive esperança de que tudo fosse diferente.

Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now