Capítulo 68 - Verdades

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*Ariana.

- E então tá pronta para falar com o senhor Dracon? Disse Andrês com ar de zombaria.
- Meu pai deve estar todo nervoso pensando no que estou fazendo aqui que não saí ainda. Ele e o meu querido mentor, Linus. Brincou ele.
- É verdade, seu pai quer falar comigo. Alék havia me dito. Lembrei-me.
- E quem é Alék? Perguntou Andrés curioso.
- O curandeiro que cuidou de mim quando eu desmaiei. Foi ele que foi te chamar. Contei.
- Ah, ele. Bem, posso chamar meu pai? Perguntou ele.
- Espera! Deixa eu me preparar. Pedi me ajeitando no sofá.
- Pra que tanta cerimônia? Perguntou Andrés rindo
- Não ria de mim seu tonto. Falei lhe dando um tapinha no braço
- Agora eu sou a rainha. Tenho que ter alguma postura. Falei mantendo o queixo reto.
-Se você diz. Respondeu beijando o meu rosto e se pondo em pé em seguida - Vou lá chamar o meu pai então. Avisou.
- Tá bom. Respondi o observando sair da sala.

Assim que ele saiu me bateu o nervosismo. Fiquei torcendo as mãos enquanto esperava. Toda a pressão de ser rainha de uma terra que eu acabara de conhecer e mau sabia como funcionava, se abateu sobre mim.
Peguei o pingente de rubi em minha mão e o estudei. Como uma pedra como aquela podia decidir quem iria governar um reino inteiro? Por um momento pensei em lança-la pela janela e fugir de tudo. Mas eu não podia fazer isso. Minha mãe a confiou a mim. E também, eu não podia deixar Aurór cair nas garras de Maia. Nas garras dos tenebris.

Uma batida na porta me despertou de meu desvaneio.
- Majestade posso entrar? Me veio a voz de Dracon do outro lado.
- S-sim. Respondi com voz tremida, efeito do meu despreparo mental para aquele momento.
Dracon abriu a porta e me cumprimentou com uma mesura levando a mão ao peito. Assim como ele cumprimentava minha mãe.
Dracon se sentou numa das duas cadeiras luxuosas em veludo vermelho, que mobiliavam a sala de minha mãe.
- Como está majestade? Perguntou me olhando firme nos olhos.
- Bem. Respondi olhando para minhas mãos e com vontade de roer as unhas. Hábito que eu havia deixado a anos.
- Espero que a rainha Branca se recupere logo. Falou
- Eu também. Respondi dando uma olhada rápida em seu rosto para logo voltar as minhas mãos. Seu olhar continuava firme em meu rosto.
- Alék, o chefe dos curandeiros do palácio me disse uma coisa que eu gostaria de confirmar. Disse ele.
- Ele é chefe dos curandeiros? Mas me pareceu tão jovem. Respondi surpresa.
- E é. Mas o seu talento nos encantos de cura são inigualáveis. Ele é um gênio nessa área. Explicou.
Como a pequena Isa. Pensei comigo.
- Ah. Então, o que o senhor queria me perguntar? Perguntei já o olhando nos olhos.
- Alék me disse que vossa majestade o informou que sua mãe teria sido envenenada com veneno de lonsente negra.
- É verdade. Respondi.
- Posso perguntar como vossa majestade obteve essa informação?

Será que ele acreditaria em mim se eu falasse a verdade ou pensaria que eu estava insana? Mas eu precisava de alguém que me ajudasse a obter provas e ele seria a pessoa perfeita para isso.

- Não sei se o senhor vai acreditar, mas eu vou lhe contar ...

E contei tudo o que eu me lembrava, tal qual eu fizera com minha mãe.

Assim que eu terminei, ele não disse nada. Só ficou olhando para o nada contemplativo, coçando o queixo.
- O senhor não acredita. Não é? Perguntei com medo de ser chamada de louca ou pior.
- Longe disso. Isso explica muita coisa que antes estava sem sentido para mim. Respondeu com o rosto sério.
- Pensei que o senhor preferiria acreditar em Alberon como muitos me disseram que a maioria das pessoas desse castelo fariam. Afinal, ele é o irmão da rainha e eu sou apenas uma mestiça que chegou a pouco tempo.
- Não há duvidas que se vossa majestade tornasse essas informações públicas, a maioria das pessoas não acreditariam, pois têm muito respeito por Alberon e carinho por Maia. Mas eu convívo com Alberon desde criança e conheço sua face perversa, sua alta capacidade de fingir e sua sede de poder. Afinal, nós eramos amigos até eu apoiar o reinado de sua mãe. A partir daí ele me considerou um traidor e me trata com hostilidade, pois sabe que eu era um servo fiel de sua mãe e estava sempre de olho nele. Além disso, nunca acreditei nessa tal doença de Maia. Ela sempre foi uma criança muito saudável.
- Então o senhor acha que eu não devo contar a verdade?
- Não sem provas. Mas pode deixar isso em minhas mãos. Vou juntar provas contra eles. Sabe me dizer qual era o nome do guarda que eles citaram?
- Humm. Acho que era Cláudio, ou Claud. Alguma coisa assim. Respondi tentando lembrar.
- Cloud? Perguntou.
- Isso mesmo. Cloud, era esse mesmo.
- Então é ele. Ótimo, com essa informação e com as informações de Mercúrio, já temos um caminho a seguir.
- Que bom. Respondi aliviada.
- Agora temos outro assunto a tratar. O anúncio da nova rainha.
Concordei com gesto de cabeça.
- Primeiro iremos apresentá-la perante o conselho de Aurór. Ele é formado pelos vinte governadores das províncias de Aurór do sul, o conselheiro real, o comandante do exército e a rainha. Tomei a liberdade de marcar uma reunião com eles amanhã a tarde. Concorda vossa majestade?
- Ah? Ta bom. Concordo. Respondi surpresa por ele pedir minha opinião. Mas eu teria que me acostumar. Como rainha eu teria que decidir sobre muitas coisas e isso me assustava. Muito.
- E será que eles vão me aceitar como rainha?
- Terão que aceita-la, pois a pedra do fundamento a aceitou.
- E o povo?
- O primeiro passo é conquistar o conselho, assim eles podem falar bem de vossa majestade perante o povo de cada província e do exército.
- E como eu faço isso?
- Se comportando como uma rainha. Confie em si mesma. Disse ele me dando um sorriso discreto.
- Eu não sei se consigo.
- Consegue. Afinal Ariana, você é filha dela. Disse ele me olhando firme.
O olhei surpresa.
- O senhor me chamou de Ariana? Não de princesa, senhorita ou vossa majestade, mas de Ariana?
- Não gostou? Perguntou abrindo um sorriso que me fez me lembrar seu filho.
- Pelo contrário. È bom ouvir meu nome.
- É, mas é primeira e a última vez. A partir de hoje você é a rainha e todos devem tratá-la como tal.
- Eu sei, mas é bom ouvir meu nome. Repeti com um sorriso.
- Bom, majestade tenho que ir para resolver algumas coisas. Disse ele se levantando.
- Ah. O Andrés...
- Ele foi para o quarto dele. Aliás todos foram. Pedi que ninguém incomodasse vossa majestade e sua mãe. Apenas seus guardas e a senhorita Rose a estão esperando para acompanhá-la até seu quarto.
- Posso me despedir de minha mãe primeiro? Perguntei me levantando também.
- Como desejar vossa majestade. Que Fyri esteja contigo. Respondeu fazendo uma reverência.
- Que Fyri esteja contigo. Respondi me inclinando em mesura.
- Não se incline. A rainha não se inclina para seus súditos.
- Ah, me descupe. Eu não sabia. Respondi atrapalhada.
- Tenho certeza que Rose lhe ensinará como se portar. Disse ele voltando a sua postura séria.
- Com sua licença. Falou saindo.

Abri a porta depois dele e fui até a cama de minha mãe. Sentei na cama e beijei sua testa.
- Fica bem. Falei e sai do quarto.

Rose me esperava encostada a parede. Assim que me viu, veio em minha direção.
- Ainda tá brava comigo? Perguntou.
- Não. Nem lembrava que tinha ficado brava com você. Respondi.
Ela me abraçou forte.
- Como é que está sua mãe? Perguntou ainda abraçada a mim.
- Bem, mas ainda inconsciente.
- Ela vai acordar logo. Você vai ver. Disse ela segurando em minhas mãos.
- Assim eu espero. Você soube de mim? Perguntei levando a mão para tocar o pingente, mas Rose me impediu. Ela fez um gesto negativo com a cabeça e aproximou-se do meu ouvido.
- O senhor Dracon me contou vossa majestade, mas não é para todo mundo saber ainda.
- Tá bom. Respondi com um sorriso.
- Vamos para o seu quarto. Tenho que ensinar algumas coisinhas para você e escolher um vestido bem lindo para amanhã.
Rose enganchou seu braço no meu e nós seguimos para o meu quarto escoltadas pelos meus guardas.

* Andrês

Assim que sai do quarto da rainha meu pai me deu uma bronca por demorar tanto no quarto de uma dama e ordenou que os guardas me acompanhassem até meu quarto.
Jantei lá também, mas não me importei. Soube pelo servo que trouxe a comida que Ariana também comeria em seu quarto, pois estava muito ocupada.

Demorei a pegar no sono pensando em tudo que Ariana teria que enfrentar. Em tudo que nós dois teríamos que enfrentar. Apesar de tudo que Ariana me falara, isso ainda me preocupava.

Cansado de sofrer por antecedência, empurrei esses pensamentos para um canto escondido da minha mente e tranquei-os.

No outro dia fui liberado do treino com Linus, pois ele estava ocupado com outras coisas.
No almoço, apesar de eu ter comido na sala de jantar, não vi Ariana de novo.
Será que isso era um prelúdio do que seria nossa vida daqui para frente?

De volta ao meu quarto, encontrei um sobretudo azul escuro adornado em ouro com uma calça da mesma cor.
Por quê aquela roupa tão chique estava aqui em meu quarto?
Ouvi uma batida na porta.
- Quem é? Perguntei deixando a roupa de lado.
Sem responder, meu pai entrou no quarto.
- Pai? Disse surpreso. Ele estava com uma roupa no mesmo estilo da que estava sobre a minha cama, só que ainda mais chique e vermelho escura.
- Boa tarde Andrês. Vejo que já recebeu as roupas.
- Sim. Foi você que mandou?
- Isso mesmo.
- Pra quê? Vou a algum lugar?
- Você e Linus me acompanharão a reunião de hoje.
- Mas eu pensei que era somente para o conselho.
- Vocês serão meus convidados. Tenho certeza que Ariana se sentirá mais a vontade vendo rostos conhecidos.
- É, acho que o senhor tem razão.
- Se troque rápido. A reunião será daqui a pouco. Linus virá te ajudar.
- Não precisa. Falei, mas ele já havia saido.

Linus entrou em seguida vestido de verde escuro e ficou sentado enquanto eu me trocava.
- Pronto. Falei assim que me vesti.
- Penteie esse cabelo. Ordenou.
Penteei e me apresentei a ele novamente.
- Tá bom agora? Perguntei.
Ele levantou e veio até mim.
- Muda essa cara de nervoso e bota uma expressão mais confiante. A senhorita Ariana deve estar muito nervosa e vai buscar apoio em você. Então lhe transmita confiança, é o mínimo que você pode fazer.
Tentei colocar a expressão que ele queria.

Saímos em seguida, meu pai estava nos esperando.

Entramos na sala de reunião, as cadeiras já estavam ocupadas em sua maioria. Meu pai sentou na cadeira na cabeceira da mesa. Na outra ponta havia uma cadeira maior de ouro e veludo vinho que ainda estava vazia. Eu e Linus nos postamos atrás dele.
- Esse é Andrês meu filho e Linus seu tutor. Apresentou meu pai.
Linus se inclinou em uma reverência. O imitei.
Os faes nos olharam por um momento depois mudaram o foco para meu pai.
- Como está a rainha? Perguntou um deles.
- Está em coma. Respondeu meu pai.
- Quem vai governar enquanto isso? Perguntou outro.
- A rainha Branca não pode mais governar. Ela morreu por alguns instantes e a pedra rubi se apagou em sua mão.
Um oh se espalhou pela mesa.
- E agora? Perguntou uma fae aflita.
Um servo entrou na sala e fez um sinal para meu pai. Ele inclinou a cabeça em resposta.
- A pedra brilhou em outras mãos. Disse meu pai.
- Já há outro governante? Quem é? Perguntou outro.
Meu pai ficou de pé.
- Senhoras e senhores desse conselho, recebam a nova rainha de Aurór do sul. Ariana Morrigan Lancaster a filha da rainha Branca.
Todos se colocaram de pé quando as portas se abriram.
Ela entrou, vestida em um vestido prata com uma saia enorme coberta de pedrarias. O pingente de rubi destacava-se em seu decote junto ao seu pingente safira. Seus cabelos com alguns fios presos sustentavam uma pequena coroa prateada. Seus olhos estavam mais azuis do que nunca. Sua postura era realmente a de uma rainha.
Seu olhar encontrou o meu. Tentei parecer tranquilo, mas eu estava era surpreso com sua aparência deslumbrante.
Ela sorriu para mim.
- Boa tarde. Eu sou Ariana a nova rainha.

A filha da rainha - contos dos medium fairy. (Em Revisão) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora