Com uma mão se dá...

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- Eu posso lhe contar um segredo?

E a Mãe e Rainha contou a sua prole os segredos da gestação, dos hormônios que transformavam o feminino em masculino, de como o mundo sempre fora delas, das mães e seus filhotes. E os homens por ali vagavam, conquistando o que não lhes fora designado. Para tanto morriam mais cedo.

- Ainda sim são as terras dos Príncipes e Reis, dos padres e bispos, dos comerciantes e lavradores. Nos resta a sobrevivência arraigada as botinas de nosso senhor... E tantas de nós somos usurpadas de nosso verdadeiro caminho.

- Não se preocupe, minha filha. Por muito a mulher já sofreu, mas os anos gloriosos a nossa porta se espreita, e cada filha terá sua menção e importância neste dia. Até você, minha curandeira talentosa.

Nunca antes um tronco possuiu tamanho significado, garantindo aquela moça um estado de completa segurança e graciosidade. Encontrava-se livre e cheia de si, adorando cada contorno de seu corpo, admirada com a voluptuosidade da Mãe.

- Me ajude a fazer justiça para com os homens!

- Você não pede justiça pelo que é certo, e sim por carregar em seu coração o desprezo e amargor de um amor não retribuído. Tu pedes minha ajuda pensando nas virgens raparigas que serão defloradas pelo Príncipe, sempre ele, e não o homem em si. Seus motivos são egoísticos.

- Eu sei, minha Mãe. Mas não me sossego até ter ele rebaixado perante a mim. Correndo ao meu encalço, provando do abandono, da negativa, de um amor fadado ao sofrimento. Não é justo, beleza e riqueza em mãos tão mesquinhas.

- Eu escuto as vozes do seu coração. Não se preocupe, vou atender aos seus clamores. Mas antes venha, quero lhe apresentar o bosque e seus moradores. Um dia você também correrá serelepe por entre eles, em harmonia e plenitude, como nenhum outro homem jamais ofereceu em profecias.

As duas caminharam lado a lado, e quem as visse de longe enxergaria apenas uma miúda humana abrindo caminho por entre os arbustos. A conversa fluía como as águas do riacho ali escondido, hora turbulenta e agressiva, com mandamentos difíceis de serem compreendidos e acatados, e outras da clareza e passividade de um lago de degelo, onde a profundidade do exposto revelava as verdadeiras intenções de se estar ali. Asial teria seu pedido atendido, como faziam as fadas madrinhas, mas com o encanto algumas objeções, poderia ela deitar-se com o príncipe só mais uma vez, e entre seus seios encontraria ele o mais avassalador dos amores, e por ela se arrastaria, mas cabia a moça seguir com sua promessa, e recusá-lo, fazendo com que sentisse as dores das tantas que rejeitou, dali poderia surgir um aprendizado ou uma tentativa de suicídio, como pregavam os românticos. A Mãe tinha suas apostas. 

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