Remember Me

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— Isso é uma brincadeira, não é Tommy? — Newt dá um sorriso nervoso.

Thomas franze a testa.

— Desculpe, mas será que pode chamar a minha irmã ou minha mãe?

Newt sente o coração afundar em um eterna escuridão que poderia engoli-lo vivo. Sente seus olhos arderem e volta a forçar um sorriso tranquilizador para o garoto que acabou de acordar, não queria assustá-lo.

— Claro, vou chamar.

O loiro sai porta a fora e sente suas pernas falharem aos poucos, recosta contra uma parede e procura algo para se apoiar, mas cai sentado no chão. Teresa o vê e corre ao seu encontro.

— Newt! — Ela se agacha perto do loiro. — O que houve? Você está bem?

Minho está em alerta em pé perto dos dois.

— O que foi, Newt? — Pergunta ele.

Newt se mantém calado e as lágrimas começam a rolar violentamente pelo seu rosto.

— Ele... — O loiro começa a soluçar.

— Ele o que, Newt? — Incita Teresa passando os dedos e limpando as lágrimas do amigo.

Newt volta a chorar baixinho e Teresa o abraça.

— Eu vou pegar água pra ele. — Minho se afasta.

— Newt, me fala! — Teresa continua.

Mary passa por eles com um copo na mão e ergue a sobrancelha.

— O que houve, crianças? — Pergunta ela.

Newt não responde.

— Mãe, vai lá ver o Tom, eu fico aqui com ele.

Mary assente com a cabeça e entra no quarto do moreno.

— Você precisa levantar do chão. — Diz Teresa se levantando e puxando Newt com ela.

— Ele não se lembra de mim, Teresa.

Teresa o olha sem acreditar no que o amigo acabou de dizer.

— Como assim? Ele lembrou de mim e de mamãe.

Newt balança a cabeça cansado.

— É, mas não de mim. — Ele sente as lágrimas teimarem a descer novamente.

— Vem, você quer que eu te leve pra casa? — Pergunta ela.

— Sim, por favor.

— Tudo bem.

Minho aparece com a água e Newt agradece, abrindo a garrafinha e bebendo.

Dois enfermeiros entram no quarto de Thomas e saem com ele e Mary depois de alguns minutos. O garoto está na cadeira de rodas.

— Eu consigo andar, dá pra me deixar andar ou está difícil? — Diz ele a ninguém em específico.

— Tom, você passou quase dois meses sem andar, mesmo com a fisioterapia você está sem forças. — Responde Mary.

O garoto parece não protestar mais. Passam por Newt, Teresa e Minho que estão em pé observando o garoto como se ele fosse alguma atração.

Thomas olha rapidamente para Newt e desvia o olhar seguindo com a mãe e os enfermeiros para o corredor.

— Para onde estão levando ele? — Pergunta Newt.

— Agora vai começar uma batalha de exames no coitado. — Teresa suspira.

***

Newt está em casa, abraçado a seu travesseiro, fecha os olhos com força. Esse pesadelo não poderia ficar pior, era isso o que ele achava pelo menos. Ele chora descontroladamente abafando o choro no travesseiro, grita o máximo que consegue, se aproveitando dos benefícios de ter um travesseiro para abafar tudo. Seu rosto está mais vermelho do que tudo, seu nariz não para de escorrer, ele não consegue uma folga do choro que teima em assolar seu peito.

Tudo volta em forma de flashbacks em sua mente...

O desconhecido possui cabelos pretos como carvão e desgrenhado para a alegria das garotas e o sorriso mais cretino que Newt já viu na vida.

Thomas? O nome dele é Thomas? É um lindo nome. Simples porém muito sexy.

***Seu nome é Newt, certo?***

** Novato. O que o traz a minha humilde mesa? **

**Que bom te ver, Novato!**

**Eu poderia ser tanta coisa e fazer tanto por você.**

**Me acha um cretino, Newt?** **Por que me acha um cretino?** **Você ainda pergunta?**

**Eu nem sei também porque fiquei magoado.** **Eu sei por que... Porque você me quer. Mas eu também te quero**

Agora a voz de Thomas viajava pela sua mente, lembrando da noite em que transaram pela primeira vez.

**Eu vou com calma, prometo. Confia em mim, ok?**

**Ah, novato. Me deixe cuidar de você**

** Você vai ser o meu inferno** **Você já é o meu inferno**

** Eu amo você **

** Qual o seu nome?**

A última lembrança faz o peito de Newt arder como se um fogo estivesse crescendo dentro dele e o engolindo vivo. Ele chora como nunca chorou antes, tudo o que ele tem feito desde que conheceu Thomas é chorar. A dor parece bem presente, nada a faz ir embora. Não havia dor pior do que a pessoa que você mais ama não lembrar nem mesmo do seu nome. O rosto de Thomas, a última expressão do garoto guardada na memória de Newt era uma expressão de alguém que não estava brincando, ele realmente não se lembrava dele. Tudo o que viveram, todos os toques, todas as declarações fofas que trocaram e até mesmo as brigas bestas sumiram, foram embora, não habitavam mais a mente de Thomas. Newt não tinha mais espaço por lá.

O loiro volta a chorar sem se importar com o barulho, ele apenas quer colocar tudo pra fora, essa dor não passava de jeito nenhum, nada faria passar, ele preferia mil vezes que o moreno terminasse com ele mais uma vez do que isso. Pelo menos ele continuaria lembrando dele e poderia ter a possibilidade remota de voltarem em algum futuro, como fizeram. Mas como ele poderia tentar algo com alguém que não tinha uma única memória, nada, Newt era apenas um rosto desconhecido em meio a tantos para Thomas.

Essa parte do coma, a parte a qual a pessoa perde a memória e não se lembra de uma determinada pessoa é tão estranho. Ainda mais estranho quando a pessoa que não se é lembrada foi alguma forma de amante para a ela. Porque é como se tudo o que passaram não valesse de nada. A pessoa com a memória intacta ainda lembra de cada detalhe do corpo, do jeito, das carícias, do olhar da que esteve em coma, mas para a outra é como se nada tivesse existido. Ainda não inventaram um tipo de dor quando se trata de um relacionamento pior do que essa, pior do que ser apagado completamente da mente da pessoa amada.

Newt fecha os olhos com força, desejando que essa dor fosse arrancada completamente do seu peito.

—Lembre de mim, Tommy. Por favor. — Ele implora baixinho olhando para a janela do quarto.

DEPOIMENTOS DE FAMILIARES DE ALGUÉM QUE JÁ ESTEVE EM COMA:
Mariane – irmã da Fernanda
Entrar em uma UTI e ver uma das pessoas que você mais ama incondicionalmente no mundo, deitada, imóvel, entubada
é a maior sensação de impotência, fragilidade e desespero que já experimentei na vida. O que importava era a sua sobrevivência
acima de tudo. Sequelas? Isso nem passava na minha cabeça, pois só queria ela viva, e ela estando viva tudo ficaria bem, nunca tive dúvidas. Primeira batalha vencida, hora de enfrentar as possíveis sequelas. Danos na memória, falta de atenção, dificuldade na fala, reaprender a andar... Agora sim vem o medo de algum dano permanente, aperto no peito, um medo inexplicável de pensar nas pequenas batalhas que deverão ser enfrentadas, mas sempre com aquela esperança de que tudo vai ficar bem...

Bastard | Newtmas #Wattys2016Where stories live. Discover now