Capítulo Vinte e Quatro

Começar do início
                                    

"Deve ser um sonho", desta vez, Liam disse, acarinhando o rosto de Zayn com as duas mãos. "Você é um sonho."

Um sorriso saudoso estava no rosto de Zayn ao se lembrar do quanto foi feliz e seus olhos brilhavam, meio como se não aguentassem mais chorar e apenas lhe davam a sensação. Era nesses momentos que Zayn conseguia perdoar tudo o que passou. Lembrar o fazia esquecer a dor e apenas recordar com doçura o quão apaixonado e amado uma vez no passado ele foi. Tocou uma última vez o prédio que soterrou o que um dia foi sua moradia nos fins de tarde de sua adolescência e saiu andando vagarosamente.

Ele voltou a entrar no táxi, indicando ao motorista que podiam ir e que ele pegasse um atalho mais rápido. Sentiu-se cansado e deprimido e precisava deitar a sua cabeça contra um travesseiro e pensar no próximo passo que daria.

"Posso ir por Belleville?", perguntou o motorista e Zayn sentiu um salto no estômago. Assentiu, olhando atentamente para as ruas enquanto o carro seguia viagem.

Dobrando uma esquina, Zayn, mesmo com dificuldade, reconheceu parte do bairro onde viveu, dando um grande sorriso. Observou as pessoas andando nas ruas despreocupadas, alheias a todo o sentimento que dele saía e alheia ao significado daquele bairro para os que dele sentiam falta.

"Eu morei aqui...", acabou dizendo e o motorista, que o havia transportado calado por mais de uma hora, ficou surpreso por ouvir sua voz.

"Sério?", questionou interessado. "Mudou-se há quanto tempo?"

"Há muito tempo", disse Zayn emocionado. "Por favor, vire na próxima rua, preciso ver um lugar."

O motorista o fez de muita boa vontade e Zayn viu-se em sua antiga rua. Mesmo que ela estivesse muito diferente do que era antes, ele ainda podia se situar e reconhecer lugares. O carro passou por várias casas até Zayn avistar, de longe, a que era a sua.

"Pare ao lado daquela casa, por favor", apontou, indo um pouco a frente do banco para fazê-lo. O motorista parou o carro e olhou para Zayn, que tirava dinheiro da carteira e o pagou, pedindo para ele lhe esperar por mais alguns instantes enquanto ele saía do carro um pouco.

Ficou de frente para a sua antiga moradia, tomando fortemente o ar e dando um sorriso. Aproximou-se dois passos, meio vacilante e parou, torcendo as mãos. A sensação familiar era tanta que ele conteve-se. Ali não era mais sua casa.

Uma velha sensação chegou em seu peito e ele respirou fundo; havia tanto dele naquele lugar... tantas velhas recordações de infância, machucados na calçada, gritos para tomar vacina ou choramingos quando era obrigado por sua mãe, sempre paciente, a tomar o aerosol.

As falhas que ele tinha naquela época pareciam tão pequenas com a imensidão do que era a sua fantasia; Zayn, quando criança, tinha devaneios tão lindos e vivia em sua mente algo tão maravilhoso que suas carências sentimentais e físicas passavam despercebidas aos seus próprios olhos e ele era realmente feliz e não sabia.

Quando havia virado um tolo? Comparava felicidade com coisas vãs depois que virou adulto. Tudo aquilo que viveu não o havia ensinado nada? Zayn se sentia pequeno diante de sua história, que vinha assolando a sua mente e o deixando confuso de tudo.

Quanto carinho... Quanto afeto. Lembrou-se que tinha os pais mais maravilhosos que alguém poderia ter. Sempre tão compreensivos, tão bons. Os corações de seus pais sempre foram grandes almofadas que o confortavam nos momentos mais difíceis, evitando que ele se tornasse uma pessoa frustrada por sempre estar doente. Seus pais foram os únicos que nunca desistiram dele, quando ele mesmo havia desistido da vida.

Zayn tentou se lembrar de quando havia esquecido do amor de seus pais por ele. Tentou, mas falhou. Tanto tempo havia passado e ele sequer se importou em dar valor àqueles que sempre estiveram presentes, apoiando-o a cada passo. Aceitando-o cheio de falhas de caráter construídos pela sua dor crescente depois de ser violentado no dia do baile.

Seventeen » ziamOnde as histórias ganham vida. Descobre agora