Zayn fechou o seu armário com força e encostou-se nele, admirando Liam caminhar. Enquanto ele e o resto do time andavam, as pessoas iam se afastando, dando espaço para eles.

Algumas garotas cochichavam, alguns garotos invejavam e Harry dizia o quanto queria uma jaqueta como a deles; vermelha com branca, onipotente, forte, e não o paletó ridículo com gravatinha vermelha que era obrigado a usar.
Zayn nem ligou para o que o amigo estava dizendo. Ele queria, ele precisava que Liam o notasse mais uma vez. Queria ter certeza que, no dia anterior, no jogo, não havia sido apenas uma ilusão sua.

Então, quando os meninos do time passaram ao seu lado, Liam deu uma olhadinha discreta para ele e sorriu de lado, olhando para frente logo em seguida. Foram dois segundos, Zayn contou. Mas foi o suficiente para o seu coração disparar como um cavalo de corrida.

Ele distraiu-se tanto que, acompanhando Liam passar com os olhos atentos, não sentiu a aproximação de Carter e muito menos o empurrão que ele lhe dera, fazendo o pequeno cair e derrubar todo o material que carregava. Todos em volta riram da situação.

"Esse idiota...", Harry resmungou, ajudando Zayn a levantar.

Mas Zayn não ligou realmente. Ele estava em completo êxtase para ligar. Levantando-se e apanhando as coisas, ele só conseguia dizer uma coisa: "Ele me olhou, Hazz! O Liam me olhou!"

***

Na hora do intervalo, os garotos populares sentaram-se ao redor de Liam falando de futilidades. Ele, por sua vez, olhou vagamente para todos os grupinhos dispersos pelo refeitório.

Viu os emos abraçados, um contando os piercings do outro. Os regueiros, que trocavam drogas escondidos e misturavam-se nos dreds. Os pseudo-nerds, que andavam com os livros por todos os lados...

Ele notou que, por mais que seu grupo se achasse o melhor, eles nem eram, de fato, amigos.

Amigos têm identidade um com o outro, são semelhantes em algo. O que Liam via de semelhante nas pessoas a sua volta? A beleza não era. Ele mesmo não se achava bonito, mesmo que todos dissessem que sim.

O que, afinal? Ele não se achava importante. Liam era, de fato, rico, mas nem todos ao seu redor eram. Cloe, a chefe das líderes de torcida, em sua total boçalidade, era filha de um empresário falido e fingia-se de milionária. Mas todos sabiam que ela não era.

Carter então! Ele não podia ser incluído nem no grupo dos bonitos nem no dos ricos, então o que ele fazia ali? Parecia tudo tão forçado que Liam sequer conseguia compará-lo com ele.

Ele olhou novamente para as pessoas ao seu redor e balançou a cabeça. Pensou em como os nerds, os regueiros e os emos tinham sorte. Eles sim eram amigos. Dava para ver de longe, que eles tinham um laço que os uniam no coração, e não na aparência.

Ficou ali, alheio as conversas sobre mulheres, homens, sexo, música... Enquanto mal notara que Zayn acabava de entrar no refeitório com seu típico sorriso e Harry ao seu lado, ambos com as bandejas de lanches recém comprados.

Mas Carter notou. Tanto que bateu nas costas de Lucas e Brian para eles o acompanharem em direção à Zayn. Harry notou os jogadores com um olhar maldoso e tentou tardiamente ajudar Zayn, que foi empurrado pelas costas por Brian e caiu no chão, derramando o lanche em si próprio e no piso.

"Malik", Carter disse, em frente a Zayn. "Você sujou os meus sapatos."

Realmente, parte do pudim de Zayn havia caído no Nike Air do jogador, mas Zayn não soube o que dizer, estava assustado. E a respiração começava a faltar.

Liam, que antes estava aéreo ao que se passava, passou a notar a confusão que Alex e os meninos do futebol arrumaram e principalmente, notou os olhos assustados de Zayn.

"Limpe isso", ordenou, olhando com desprezo para o pobre garoto no chão. "Ande, limpe essa porcaria!"

"Deixe ele em paz!", Harry gritou, tentando avançar, mas Brian o segurava, falando para não se meter ou ia sobrar para ele.

Zayn, alheio às discussões, entrou em crise respiratória, seu coração batendo forte e sua mão foi ao peito, massageando-o, tentando se acalmar. Puxava o ar com força, sem sucesso algum. Precisava de sua bombinha, mas não estava com ela.

"Você é surdo, esquilo?", Carter se agachou e ficou cara a cara com Zayn, segurando-o pelo paletó. "Você vai limpar isso ou eu vou ter que esfregar a sua cara de palerma aqui e fazer eu mesmo?"

"Alex", Liam, que havia se aproximado, pediu, segurando o ombro do colega. "Largue o Zayn."
"Não se meta, Liam", o outro disse, puxando Zayn para mais perto.

Liam, que nunca se meteu em confusão na vida (e nem precisava) puxou Alex pela gola detrás da jaqueta e o fez cair sentado no chão e largar Zayn.

"Eu disse para você largar o Zayn. Não me obrigue a usar a força."

Nesse momento, o refeitório inteiro estava em um silêncio perturbador. Zayn, que achava que tudo aquilo era delírio, deitou-se no chão, puxando o ar pela boca agitadamente.

Harry se soltou de Brian e ajoelhou-se ao lado do amigo gelado e pálido, sem saber o que fazer. E Liam, que antes se importava com a petulância de Alex, agora se importava com a vida de Zayn.

"Ele sempre tem isso?", perguntou a Harry, mas ele não respondeu de imediato. "Hey, responda!"

"Não, ele só teve isso umas 3 vezes perto de mim, precisa da bombinha e..."

"Onde está?", Liam perguntou, um pouco nervoso pelo comportamento desesperado de Zayn.

"No armário dele, eu...eu vou pegar, espere...", Harry ainda levantou para correr, mas Liam segurou seu braço com força.

"Não dá tempo."

Liam aproximou-se de Zayn e o segurou nos braços, levantando-o do chão, pegando o garoto no colo. Pediu para Harry indicá-lo onde era o armário de Zayn, e o seguiu, com cuidado.

O pequeno, nos braços do outro, podia sentir o perfume da pele dele por debaixo da camisa, os poros exalando calor para o seu corpo frio. Mas o coração estava tão pesado que ele sabia, que até no melhor sonho que tivera na vida (pois só podia ser sonho), não teria a sorte de aproveitar.

Chegaram ao armário de Zayn, escoltados pela multidão de estudantes curiosos. Harry praticamente arrombou o cadeado, tirando a mochila de Zayn e a abriu, jogando as coisas no chão para achar a bombinha.

Pegando-a nas mãos trêmulas, colocou-a perto da boca de Zayn e o pediu para ele usá-la. Com suas últimas forças, Zayn sugou o ar da bombinha, o ar que o salvara de uma internação ou algo pior.

Ele ainda estava nos braços de Liam quando o diretor da escola chegou com a enfermeira e o técnico Smith. Tirá-lo de lá foi como retirar-lhe o ar novamente, e Zayn lamentou, fechando os olhos quando o treinador o segurou no colo. Desmaiou ali.

Foi encaminhado para a enfermaria, os alunos se espalhando para todos os lados, indo fofocar sobre o acontecido. Liam ainda estava no chão, olhando para as mãos suadas, e Harry também.

"Muito obrigado", o garoto de olhos verdes agradeceu, olhando para Liam. "Muito obrigado mesmo", e correu atrás do treinador e do corpo apagado de Zayn.

Mas ele não teria ido se tivesse se lembrado que deixou o armário de Zayn aberto e a sequência de acontecimentos que viriam devido a isso; Liam olhou para o chão - a mochila de Zayn jogada e as coisas de dentro espalhadas por todos os lados. Juntou tudo e levantou-se para guardar no armário. Quando pôs a mochila lá, não pode evitar de olhar ao fundo. E notar a sua foto pregada ali.

Seventeen » ziamWhere stories live. Discover now