- Não tem pesadelos quando está comigo? - pergunto sem acreditar, emocionada.

- Não... Desde o dia que te beijei, é você que tem rondado minha mente. Eu não sei o que é isso, só quero ter você perto de mim o tempo todo. Sou egoísta quanto a isso. - sua voz é cheia de emoção e movo-me outra vez para perto dele, mas ele recua, sentando-se normal. - Eu sou perigoso pra você, tem que ficar longe de mim.

Sem mais aguentar, subo em seu colo. Ele fica surpreso com minha atitude, porém ele não tem escolha. Levo meus dedos até seu rosto, tendo o contato direto com ele.

- Escute-me, com muita atenção. - respiro fundo. - Eu estou bem. Você não é perigoso para mim. E não há nada, que me faça ficar longe de você, especialmente hoje e agora.

Ele rodeia meu corpo com seus braços e enterra o rosto em meu pescoço, enquanto eu passo meus braços em torno de seu ombro e beijo sua testa docemente.

- Eu me sinto tão mal. - ele murmura e o seguro mais apertado.

Minha mente implora que me declare a ele. Que grite que estou apaixonada, que não quero viver sem sua presença. Meu coração está transbordando amor por esse homem tão valente e carinhoso. Mas não sei qual será sua reação, terei que guardar esse sentimento a sete chaves, até saber o que Thomas sente realmente por mim.

- Não quero que se preocupe mais com isso. Foi apenas um pesadelo e ele já passou. - ele me afasta de leve, fitando meus olhos.

- Não foi apenas um pesadelo...

- Thomas...

- Eu vou te contar. Você precisa saber. - ele diz com firmeza.

- Não precisa ser agora...

- Chega de segredos anjo. - ele me corta, decidido. - Vamos para a cama, eu vou lhe contar tudo. - levanto-me e ele vem em seguida.

- Tem certeza? - pergunto preocupada. Eu quero muito saber, mas também não precisa ser assim.

- Eu tenho. - ele me olha com entendimento e me puxa para o meio de suas pernas, minhas costas em seu corpo, suas mãos circulando minha cintura, eu as seguro. Ele respira fundo e demora alguns segundos para falar.

- Eu era uma criança quando meu... pai, me bateu pela primeira vez de corda. Eu não sabia do porque havia feito aquilo. Se foi porque não tinha feito alguma lição de casa ou se porque havia o desrespeitado sem saber. Minha mãe não estava presente nesse dia, viajou por causa do seu trabalho. - sua voz era distante, revivendo um passado sombrio. - O homem, que se dizia meu pai, fazia isso para me tornar mais forte, um homem sem medo de sentir dor. Às vezes as chicotadas eram tão fortes, que eu chorava e implorava para que parasse. - aperto suas mãos, puxando seu braço para mais firme em meu corpo.

- E você não falava para sua mãe?

- Não. Nem que eu quisesse. Ele ameaçou matar minha mãe, caso mencionasse algo. Ela nunca desconfiou das surras que levava, mas sentiu que meu comportamento para com meu pai, havia mudado. Isso tudo durou até eu ser maior de idade. Com minha independência, fui estudar fora, apesar de ser o curso que ele queria, eu não me importei, contanto que ficasse longe dele. Só voltei depois de formado. E mesmo assim, no meu primeiro dia, ele me amarrou e me bateu. - sua voz tinha raiva e eu, sem ter conhecido esse homem, já o odiava também. - As cicatrizes, foram todas deles e quando alguém as toca, é ele que me vem à cabeça, toda a dor, toda angústia da espera pela próxima chicotada, toda a minha raiva, tudo de ruim saia de mim voltando como uma avalanche. - meu coração martela em meu peito, sofrendo por ele. - A primeira vez que você me tocou, foi assustador. Eu não estava esperando por isso, fazia quatro anos que ninguém me tocava.

- Eu... sinto muito. Desculpe-me. - ele beija minha cabeça e suspira.

- Não me peça desculpas, sou eu quem tem que pedir. Você não sabia. O negócio foi que quando te soltei, você tinha um olhar de medo e raiva. - ele se cala por alguns segundos antes de continuar. - Eu me vi em você. Tão frágil em minhas mãos... Só depois de repassar esse momento, diversas vezes em minha cabeça, foi que me dei conta de que não havia sido tão ruim. Eu não sei se tinha sido por que não era tocado há anos ou se por que tinha sido você. As outras vezes foram reflexos. Cheguei a pensar que você estava me curando e... eu tinha raiva disso, porque eu queria continuar a odiar meu pai e as cicatrizes, é uma forma de lembra-lo sempre. - ele arfa e respira antes de continua.

- A minha mãe nunca soube do que acontecia comigo e quando cresci, percebi que era melhor assim. Um dia, meus pais foram convidados para uma festa, onde teriam os mais importantes homens da sociedade. Meu pai obrigou-me ir e não tive escolhas. Por um lado foi bom, só assim descobrir quem era ele de verdade. Eu estava caminhando pelos arredores da casa quando ouvi a voz dele vindo de um compartimento da casa. Da janela, eu pude ver mais cinco homens, todos com idades parecidas. Eles falavam de mim, se eu era de confiança para entrar no grupo, se eu faria o meu trabalho direito e quando um falou que a máfia não tinha lugares para fracassados, me dei conta de que tudo era uma mentira.

O coração de Thomas batia rápido, podia imaginar seu rosto sério nesse momento, o cenho franzido, a mandíbula firme. Seu pai era da máfia e estava claro para mim que os homens que querem pega-lo, também são. Mas pra quê?

- Eu fiquei ouvindo a conversa até meu pai dizer que eu estaria preparado para fazer meu trabalho. Descobri depois que todas as surras era para fazer de mim um homem sem coração, sem medo, sem remorso. Era assim que eu estava me tornando e é assim que eu sou. - saiu dos seus braços, virando-me para ele.

- Você não é assim. Você se faz assim. Tudo é uma fachada para que ninguém descubra, para que ele não descubra. Mas você não é assim. - olhei em seus olhos, encarando a profundeza castanha e notei que Thomas, um homem tão cheio de si e confiante, precisava acreditar que o que eu falava era verdade, que precisava de mim. Sentei-me sobre os joelhos, ficando na sua altura. - Você é muito mais do pensa que é. É protetor, divertido... carinhoso. - ele deita a cabeça, as sobrancelhas juntas. - Você cuida das pessoas ao seu redor, aquelas que merecem, que gostam de você. Eu sei o que fez por Alicia e eu vi o quanto gosta de Nicolas. Eu... - diga! Fala logo que está apaixonada por ele! Diga que o ama!

Cresço meus olhos e abro a boca, mas nenhum som sai. Eu o amo! Por Deus, eu o amo! Só percebo que uma lágrima caiu pelo meu rosto quando ele enxuga.

- Você...? - ele instiga docemente com um sorriso tímido nos lábios.

- Eu... só queria que soubesse, que é muito mais. Que não é o que seu pai queria que se tornasse. Ele não conseguiu.

- Ele sempre me venceu Melissa.

- Não dessa vez! - falo alto. - Para de fechar os olhos Thomas. Você não é ele, não se tornou como ele. Não percebe todas as ações que faz? As pessoas que já ajudou tudo o que...

Thomas pulou em cima de mim e me beijou com tamanha intensidade, que demorei alguns segundos para responder. Ele me atiçava, mordiscando e acariciando meus lábios. Eu só tinha uma coisa em mente... Ama-lo em segredo, mas mesmo assim, ama-lo.

Desejos & Segredos: O Toque Where stories live. Discover now