- Faz tempo que ninguém cuida de mim...

- Eu sei... - meu coração se aperta de vê-lo tão frágil. - Se estiver difícil, me avisa que eu me afasto. - murmuro em compreensão.

- Do que está falando?

- Das suas costas. - senti suas mãos segurar a minha, prendendo-a em sua barriga.

- Não saia.

Foi uma ordem direta. Não deve estar sendo fácil, mas está fazendo um sacrifício para me ter por perto. Beijo sua costa como uma pluma, como se fosse uma confirmação minha, de que não iria sair e ouço um suspiro vir dele. Aos poucos seu corpo vai esquentando e seu tremer vai diminuindo, mas uma coisa não parava de martelar em minha cabeça. O que exatamente ele veio fazer aqui? Passar por todo esse frio, correndo risco de ficar doente ou coisa pior, para me ver, eu acho que é demais. Ele bem que podia esperar a chuva passar.

- Porque chegou aqui tão encharcado? - pergunto curiosa.

- O meu carro quebrou no meio do caminho. Eu resolvi vim logo para cá do que voltar. Já estava meio caminho andado mesmo.

- Por que não ligou para seus seguranças? Tenho certeza que eles viram lhe buscar.

- Já viu como está a estrada? Não iria colocar a vida dos meus seguranças em risco. - diz sério.

- Mas eu pensei que esse era o trabalho dos seguranças. Por a vida deles em risco por você. Não é para isso que foram contratados?

- Foram contratados para me defender dos inimigos. Se bem que às vezes eu faço o trabalho deles, sem que percebam. Preciso da adrenalina em meu corpo.

- Gosta de se expor ao perigo? - pergunto chocada. Oi?

- Gosto de saber que estou por cima, ganhando, que sou bom no que faço.

- Isso pra mim é idiotice. Loucura. E se eles te pegarem um dia?

- Não vão. - diz com firmeza.

- Quem são eles? - murmuro tentando saber mais.

- São pessoas que fizeram parte do passado de meu... - ele se interrompe e sinto a tensão em seu corpo. Ele não precisa continuar para que eu entenda ele ia mencionar seu pai.

- E por que estão atrás de você?

- Já lhe disse, sou bom no faço.

- E o que você faz? - sussurro com medo da resposta. O ar parece preso dentro de mim e minhas mãos começam a suar, sinal claro do meu nervosismo.

- Eu mato pessoas. - meu corpo endurece e automaticamente puxo minha mão da sua, porém Thomas não deixa.

- Que... tipo de pessoas?

- As que me querem... No entanto, eu mato-as primeiro. - ele diz com satisfação, prazer em matar aqueles que um dia, seu pai fez parte. 

- Seu pai também matava pessoas? - indago. Sei que estou perto de saber mais sobre Thomas, mas tenho que aproveitar que ele está me contando coisas e tirar o máximo proveito disso.

- Eu não sou como ele. - disse Thomas, muito sério, lento e mortal.

- Não gosto quando fala assim, com tanto ódio, eu sei que você não é igual a ele. - falo impertinente. - Acho melhor fazer algo para você comer. - Thomas vira, ficando de frente pra mim, seu braço me segurando pela cintura.

- Está com medo de mim? - pergunta sério, os olhos cerrados.

Penso um pouco. Eu estou com medo? De tanta coisa que já passei com ele, nunca me machucou, a não ser com palavras. Quer dizer, ele tentou me sufocar uma vez, mas não era eu que ele estava vendo. Então, eu estou com medo dele?

- Não... Um pouco impressionada, não gosto de imaginar você matando pessoas. - murmuro vendo seus olhos me avaliarem.

- Por que não mudamos de assunto? - fala percebendo meu incomodo, porém eu queria saber. Tantos mistérios estavam acabando comigo.

- Não, eu quero saber, me conta. - peço fitando seus olhos indecisos. - Me conta.

- Mel...

- Thomas me deixa saber um pouco mais. - digo suplicante. Sua mão desliza pelo meu corpo chegando ao meu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. - Me conta...  

Thomas fecha os olhos como se sentisse dor, levo minha mão até sua face, afagando-a. Percebo seu rosto um pouco mais quente que o normal, mas não dou importância, provavelmente é das cobertas.

- Por favor...

- Eu, não quero que tenha pena de mim. – ele diz e cerro meus olhos um pouco confusa.

- Posso sentir muitas coisas por você e pena, com certeza não faz parte do pacote. – digo com um toque de diversão e noto ele relaxar, abrindo os olhos curiosos.

- O que sente por mim? - abaixo meus olhos para seu tórax quando ele pergunta.

- Não estávamos falando de meus sentimentos. - falo incomodada. Ele não vai saber que sou apaixonada por ele, com certeza não.

- Melissa... - diz cansado e respiro fundo magoada.

- Já entendi, você não confia em mim.

- Ei... - Thomas segura meu queixo entre seu polegar e indicador, levantando meu rosto até o seu. - Eu confio, só estou tentando te proteger.

- Me protegeria mais se eu soubesse. Mas não vou ficar insistindo. Vou preparar um chocolate quente, quer? - digo fingido um sorriso e sei que Thomas não acreditou nisso.

- Eu quero que fique comigo...

- Mas estou com você. - o interrompo e ele fecha os olhos novamente.

- Eu não quero nada, só você. - ele puxa minha cabeça para mais perto do seu rosto, encostando nossas cabeças. - Sabia que não dormir nada ontem à noite? Seu cheiro estava em cada canto da minha cama. - sorriu. É incrível o poder que ele tem de me desarmar.

- Então porque não aproveita pra dormir agora? - ele não responde, sua respiração é constante e calma. - Thomas? - chamo seu nome, sussurrando baixinho, mas ele não se move. Acaricio seus cabelos, tirando sua mão bem devagar do meu pescoço. Ele dormiu.

Sei que não sou nenhuma vidente, mas sinto - e espero - que estou perto de descobrir tudo. Thomas parece confiar em mim e aos poucos vai perceber que será melhor me contar sobre sua história, suas marcas e seus inimigos. Só assim vou consegui ver o verdadeiro Thomas.

Desejos & Segredos: O Toque Where stories live. Discover now