23. Jogando conforme as regras

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"Mas diga-me se ele beija,

Como eu costumava te beijar?

Mas diga-me se é a mesma coisa,

Quando ele o chama?

Em algum lugar bem profundo,

Você deve saber que eu sinto a sua falta

Mas o que eu posso dizer?

As regras têm de ser obedecidas."


Visão Jacob

- Quem você quer enganar? – Leah me lembrou de sua presença silenciosa. – Está usando a ferramenta errada, não está com a cabeça aqui. Pare de fingir, Jacob, e levante esse traseiro gordo!

   Bufei, fitando o pneu solto que se equilibrava inclinado à bancada a minha frente. Ergui a serra que continuava presa em minhas mãos e alisei com os dedos seu lado sem dentes, pensando no quanto eles ficariam lindos perfurando o pescoço inconveniente da Clearwater.

- Pensou muito alto, Black. – provocou.

- Eu não tenho medo de usá-lo, Leah. – levantei do pequeno banco, me virando para fita-la. - Acho que não tem juízo do quanto a ideia está sendo tentadora.

   Leah iniciou seu discurso como se não tivesse ouvido uma palavra sequer de minha ameaça.

- Você tem que voltar, Jake. – ela pediu, a expressão suavizando de um jeito estranho. – Por favor, você fica trancafiado o dia inteiro dentro dessa oficina. Já chega.

   Agora foi minha vez de fingir que não tinha a escutado. Joguei a serra em cima da bancada e andei para os fundos da oficina, procurando qualquer coisa barulhenta que me livrasse da repetição de sempre. Avistei a furadeira jogada ao canto da imensa bagunça que aquilo tinha se tornado e comecei a furar a primeira coisa que apareceu em minha frente. Segurei a porta enferrujada de um Caravan 79 que estava jogada ao chão e o barulho que o encontro da broca causou no metal foi insuportável.

   Eu não ouvi Leah indo embora aquele dia.

   Ela estava entre as duas pessoas das quais eu não conseguia me livrar pra valer e não era por falta de vontade da minha parte. Bella também vinha me ver. Ainda. Ela e Leah tinham um ponto forte: eu não podia socar seus narizes como fiz, consecutivas vezes, com todos os garotos que apareceram por aqui.

   É claro que Bells também não estava feliz. Parecia que toda vez que chegava aqui, olhava para a porta da garagem com a esperança de que um anjo desenhado entrasse de repente por ela. Com seus cachos macios e seu sorriso doce. Era perca de tempo fantasiar com isso, eu sabia agora. Contudo, não podia culpá-la.

   Por quantas vezes não me peguei desprevenido imaginando a mesma cena? Ela de volta, presa em meus braços. Dizendo que me amava, que estava arrependida – o que tantas vezes a ouvi dizer por brigas idiotas. Que precisava de mim, tanto quanto eu precisava dela. Dessa forma esmagadora, consumidora... enlouquecedora.

   A verdade simples e pura era essa: eu estava enlouquecendo sem ela. Eu era um outro Jacob. Um cara desconhecido até mesmo para mim. Um Jacob sem Nessie, era tudo que tinha restado. E ninguém estava aprovando a rotina desse novo cara.

Nessie & Jacob. Ardentemente.Where stories live. Discover now