18. Enquanto Cai O Mundo (Parte II)

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Mesmo que Nessie e eu tivéssemos nos entendido, não parecia certo colaborar para que ela se sentisse ainda pior. Assim, mesmo a contragosto, na manhã seguinte - antes que ela acordasse -, telefonei para a casa dos Clearwater e pedi que esperassem até eu mesmo poder visitá-los. Quando Nessie estivesse aberta a isso.

   A segunda semana arrastou-se, dando início a terceira e lenta semana. Os Cullen continuavam revezando-se durante as caçadas e o doutor Carlisle vez ou outra fazia alguns de seus check-ups em Néss.

   Após a reação repentina que Nessie teve, as coisas haviam mudado mesmo que minimamente. A parte boa é que passamos a ouvir sua voz com um pouco mais de frequência, ela ainda falava muito pouco ou quase nunca... mas falava. O que não tinha de fato mudado, era a montanha-russa existente em seu estado de espírito. De vez em quando Néss aparentava se irritar ou perder a paciência com pequenas coisas ou em certas vezes até mesmo com nada. E aqueles surtos súbitos sempre faziam com que ela voltasse a se fechar dentro de seu casulo particular, onde ninguém tinha permissão de entrar.

  E a parte que me dava medo: eu estava ficando quase tão descontrolado quanto Nessie. A diferença era que eu não estava deixando transparecer - na medida do possível -, além de estar ciente de algo: eu me via irritado em reação as decaídas que ela ainda tinha.

   A verdade é que eu já estava me segurando há muitos dias, me contendo para não me transformar repentinamente no meio da sala ou enfiar os dentes em algum sanguessuga fedorento. Talvez eu me sentisse melhor se pelo menos pudesse xingar algum deles até minha garganta cansar.

  Eu sabia o quanto me faria bem ver meus irmãos ou meu pai mesmo que por poucos minutos. Afinal, uma coisa era passar algumas horas com um bando de vampiros certinhos e bonzinhos, outra era morar com eles por vinte e quatro horas, durante semanas seguidas. Além do cheiro enjoativo impregnado em todo canto da casa, era como se nós não falássemos a mesma língua. Simplesmente estranho e definitivamente enlouquecedor.

  Só que havia algo durante todas as noites que fazia eu me lembrar que aquilo era o certo a se fazer. Não importava como o dia tinha corrido, nem o humor cambaleante em que Nessie se encontrava. Quando deitávamos, ela se enroscava firmemente em mim. Sempre rodeando seus braços no meu ou agarrando com força minha camiseta. Não que aquilo fosse ruim, não que tê-la um pouco mais próxima fisicamente, me incomodasse - até porque essa era a parte que valia a pena.

  O que me chateava era saber o motivo por ela agarrar-se a mim daquele jeito: por seu simples e sempre presente medo, pela sua nunca abandonada insegurança. Néss dormia desconfortavelmente agora, auto monitorando-se para não permitir que a inconsciência a engolisse por completo. Nunca deixando que seus olhos se pregassem despreocupadamente. O temor desnecessário dela em me ver pulando pela janela, escapando para fazer uma ronda, estava lá, estampado durante todas as noites ao ter seus dedos firmando-se em minha pele.

  Às vezes eu sentia uma enorme vontade de socar minha cabeça contra a parede. Querendo retornar ao dia em que quebrei aquela simples promessa: Não irei sair do seu lado. Outras, eu tinha vontade de segurar Nessie pelos braços e chacoalhá-la, desesperado para que a antiga Nessie voltasse a reagir. Se ajude também, Néss. Eu morria de vontade de lhe implorar. Mas eu não podia - e nem queria - forçá-la a isso. Seja paciente, Jacob. Seja paciente. Lembrava a mim mesmo.

  Estávamos na sala, apenas para variar. Eu não tinha exata certeza se era um sábado ou domingo. As programações da TV eram chatas demais, o que me levava à conclusão que deveria ser um domingo. O tédio me consumia frequentemente, ameaçando cada dia mais minha sanidade. Eu já não prestava mais atenção em quem estava caçando, em quem não. Em quando o doutor estava na mansão, quando estava no hospital. Mas, se minha intuição sobre ser domingo estivesse certa, quem sabe ele estaria em casa. Apesar que eu não sabia qual era o dia de folga de um médico - isso se eles tinham dia de folga. Ainda mais se tratando de um médico vampiro.

Nessie & Jacob. Ardentemente.Onde histórias criam vida. Descubra agora